Capítulo Único

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"É mais fácil ficar sozinho. Porque, e se você descobrir que precisa de amor, e depois não tiver? E se você gostar e depender dele? E se você modelar sua vida toda em volta dele, para então acabar? Você consegue sobreviver a tamanha dor? Perder amor é como perder um órgão. É como morrer. A única diferença é que a morte acaba. Isto, pode durar para sempre..."
                            -Greys Anatomy  

Expurgo: eliminar aquele ou aquilo que é prejudicial, esse é o significado da única noite de terror que acontece todos os  anos.

O Expurgo é, ou era para alguns, as doze horas mais aterrorizantes do ano, em que todos os crimes incluindo homicídio, são liberados. Tudo isso começou anos atrás, mais precisamente em 2020, nos Estados Unidos. A idéia era "purificar" as pessoas, ou seja, as pessoas que purgam vão para o céu.

E nos primeiros anos o mundo reprovou essa atitude dos Estados Unidos, mas vivemos em um mundo capitalista,  os políticos perceberam que as classes mais pobres estavam diminuindo,  - já que são os mais indefesos, são os que mais sofrem nesse feriado - logo, outros lugares do mundo, incluindo o Brasil, aderiram à isso como uma forma de ser purificado.

1 hora para começar a purificação

Alícia e Paulo estavam arrumando a casa para receber os amigos. Desde que a purificação começou, eles e os amigos passavam essa noite juntos comendo, bebendo e tentando tornar essa noite menos sangrenta do que foram para eles aos filhos.

- Mamãe? - chamava o Paulo versão seis anos, segurando na barra da calça de Alícia.

- Oi, Matteo. - disse a mulher pegando o garoto no colo e apoiando o pequeno no balcão da cozinha.

- Por que tem tantas armas na mesa da cozinha? - ele perguntou com a maior inocência do mundo, mal sabia ele o que aconteceria essa noite.

- Lembra quando a mamãe explicou que tem dias que nos precisamos nos trancar em casa e se proteger dos homens maus? - ele apenas balançou a cabeça afirmando. - Então, hoje é um dia desses. - ela respondeu com dor no coração, odiava ter que submeter o filho a isso e ainda por cima não poder se revoltar, caso contrário, se alguém descobrisse a revolta ela poderia por tudo o que construiu com a família a risco.

No batente da porta estava Paulo escorado olhando aquilo. Desde que o filho havia nascido, ele conheceu uma nova face de Alícia, e ele amava muito essa parte dela, fofa e protetora.

- O pessoal já avisou se estão chegando? - Paulo perguntou entrando na cozinha, beijando a testa da esposa e pegando o garotinho no colo.

- Quase todos. A Marce e o Mário estão presos no trânsito, a Carmem falou que vão dar uma passadinha na mãe do Dani e já já eles chegam aqui , a Marga e o Jorge foram pegar o Bernardo na mãe dela mas também já estão chegando e o Cirilo e a Majô estão tentando convencer o João a vir para cá. - a mulher disse pegando o celular e lendo todas as mensagens que os amigos haviam mandado. - Será que o Jaime não vai vir mesmo, lindo?

- Você sabe que não, gata. Ele vai purgar, ele faz isso desde que mataram a Valéria. - ele disse abraçando a esposa, sabia que esse assunto acabava com ela, assim como a todos.  - Filho, que tal você ir até seu quarto e assistir televisão? - o homem perguntou ao filho vendo-o assentir. - Nada de dar uma de heroína, viu Gusman? Dá última vez a senhorita levou um tiro e eu quase morri.

- Não vou, Paulito, relaxa. Além, de eu  obviamente não estar em condições. - ela disse apontando para a pequena barriga de quase cinco meses. - Eu não tenho mais idade para isso. Isso vale para você também, Guerra. - disse ela com tristeza no olhar.

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