Thomas (2)

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"Eu, que sempre gostei de sonho, tive que aprender a viver numa realidade por vezes doída e amarga" - Clarissa Corrêa.

Subi para meu quarto e Kile veio a alguns passos atrás de mim. Ele não disse uma só palavra, até entrarmos em meu quarto.

- Vamos Kile, fale alguma coisa. Nós já estamos em meu quarto, as criadas não irão ouvir para ter o que fofocar.

- Thomas você perdeu o juízo?! Como toma uma decisão dessas sem me avisar... Teria sido muito mais fácil!

- Nada entre papai e eu é fácil! Pensei que já havia entendido isso.

Ele se joga em minha cama, enquanto fica olhando para o teto. Kile não estava bravo, estava triste. Estava triste por não saber de meus planos, e eu sabia no que ele estava pensando... Que se eu tivesse falado com ele, teria evitado com que meu pai gritasse comigo, e sairíamos vitoriosos, sem toda aquela tensão.

- Sei o que está pensando - falei calmamente.

- Ah sabe... Além de um idiota, é telepata também?

- Você não pode evitar que o papai brigue comigo... Pensei que já havia se acostumado com ele aos berros comigo. Faz parte de ser o futuro rei, você passa a vida escutando broncas.

- Thom, ele mal grita comigo... Nunca irei me acostumar com isso. Sei que é porquê você será rei, e tem que executar tudo com perfeição, mas... Antes de tudo, é meu irmão, com quem me importo. Não consigo aceitar ele te tratando dessa maneira por querer simplesmente viver - ele me lançou um sorriso triste.

Deitei ao seu lado na cama. As tensões sempre são grandes com meu pai, mas isso faz parte - eu acho - quando eu era criança chorava, me sentia muito mal. Meu pai é o tipo de pessoa, que sabe como fazer você se sentir um lixo.
Com o passar dos anos, eu me acostumei com o fato de ser extremamente cobrado. Eu ficava com um pouco de ciúmes de Kile, pois meu pai não brigava com ele, até o ouvia mais... Creio que sabe mais sobre ele, do que sobre mim.
Mas então percebi que toda vez que meu pai se alterava comigo, Kile ficava irritado com ele, chorava, e não falava com nossa mãe. Certa vez, ele ficou dias sem dirigir a palavra a nenhum dos dois, porque ele entrou sem avisar no escritório de meu pai, e naquele momento, meu pai me deu um tapa, e me chamou de idiota.
Comecei a ter conversas com ele, sobre que teria que se acostumar, e entender que isso jamais mudaria, que faz parte de ser o futuro rei.
Com o tempo, ele não brigava tanto com nosso pai, e não ignorava nossa mãe, porém, ele ainda ficava triste, mas acho que também começou a entender  minha situação.

- Thomas?

- Sim?

- Dois meses, são suficientes?

- Provavelmente... Vai dar para conhecer algumas cidades. Já estou imaginando... É uma pena você não poder ir junto, pensei em perguntar ao papai se você poderia ir, mas ele não queria nem que eu fosse...

- Acho que eu ir junto... Está fora de cogitação.

Ele fica sério, como se tivesse lembrado de algo importante, então sorriu muito animado.

- O que pensou Kile?

- Nada - ele sorri - não vai gostar de saber.

- Diga logo Kile - revirei os olhos, e ele me olhou com deboche. Então, nós dois rimos.

- Bem, hoje vai ser uma grande festa, várias garotas da nobreza, princesas de reinos vizinhos, e...

- E o que Kile?

- Você tem que beijar algumas, antes de ir para sua aventura!

Ela riu, riu muito. Apesar de ter rido também, não pude deixar de corar um pouco. Eu não tinha tempo para isso, enquanto para Kile, sobrava.

Encontrei Cassiopéia fora do céu Onde histórias criam vida. Descubra agora