Arizona, 1844.
- Você tem que me amar, Kennedy. – a mulher suplicava, com as pernas fraquejando, quase atingindo o chão. – Você precisa me amar. – a sua voz tinha um tom que beirava a loucura, enquanto uma de suas mãos prendia a do rapaz entre as suas, impedindo que ele se afastasse.
- Por favor, entenda. – ele ponderou, com a voz baixa e suave, como se deixasse bem claro que não desejava confusão. – Eu não escolhi isso, nós não escolhemos por quem nos apaixonamos. E eu a amo.
- Você tem que ser meu, Kennedy. Você vai ser meu. – a mulher murmurava, mais para si, do que para alguém.
- Katherine, me escute. – pediu, abaixando-se, para que ficar na mesma altura que ela, que nesse momento já estava no chão, num estado quase deplorável de desespero. – Eu espero que me perdoe, sei que tínhamos nosso compromisso, que casaríamos no próximo verão, mas não poderia te enganar dessa forma. Não seria justo, nem com você e nem comigo. Não poderia me condenar a uma vida de infelicidade.
- Você está sendo egoísta, pensando apenas em você mesmo.
- O amor é egoísta, não é isso que dizem? – ele deu de ombros. – Eu preciso buscar minha felicidade e espero que um dia você encontre a sua também.
- Você não vai ser feliz, Kennedy Fletcher. Nem você, nem seu filho, nem o filho o do seu filho. – Katherine sorriu de lado, com uma expressão quase diabólica em seu rosto. – Você não será feliz usando outra pessoa para isso, tendo a infelicidade de outro como motor. Então se você quiser mesmo ser feliz hoje, todos os homens que nascerem de você serão infelizes.
- Você está me jogando uma maldição? – o homem perguntou, descrente, observando um sorriso surgir no canto dos lábios dela.
- Estou. – sua voz soou dura e cortante. – Todos os seus descendentes serão infelizes no amor, Kennedy. Mas o sétimo filho homem a nascer em sua linhagem estará condenado a algo muito pior: ele não saberá amar. Porque a única coisa pior do que amar e ser infeliz, é nunca amar.
- Katherine, por favor. – o homem repetiu, mas a mulher se levantou num rompante, encarando-o com seus olhos negros.
- Está feito, Fletcher. Não há nada pior do que uma mulher rejeitada. Tenha uma bela e longa vida sabendo do tamanho o sofrimento que você causou aos seus próprios descendentes. Conte a todos, digam para esperar pela Maldição do Kennedy.
- Eu não acredito em você. – ele tentou fazer com que sua voz soasse segura, mas tudo o que conseguiu foi soar amedrontado.
- Será que não acredita mesmo? – Katherine perguntou de forma retórica, rindo em seguida. Uma risada alta e grandiosa, que encheu todo o cômodo.
Amor não restará
Do amor não saberá
Até que surja alguém
E não sobre nada além
Do que quebrar o coração
De quem te quer mais bem
(Indira Cecília - @maiscartasperdidas)
Era como se estivesse num filme antigo.
O rapaz conseguia ver o que estava acontecendo, como um telespectador transportado do seu tempo para o passado. Havia uma mulher de costas bem à sua frente. Ela parecia concentrada em algo, murmurando repetidamente as mesmas palavras, como num mantra estranho, que ele não entendia. A parte interna da casa, as roupas da mulher, seu penteado, tudo lhe dizia duas coisas: 1. Nada disso podia ser real; 2. Nathan tinha uma boa imaginação, melhor do que imaginava.
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Kennedy Curse
Short StoryAmor não restará, do amor não saberá. Até que surja alguém e não sobre nada além, do que quebrar o coração de quem te quer mais bem. Ao nascer com uma maldição de família, Nathan não consegue sentir nada por ninguém, ele não sabe amar. E continuará...