Blood Lines

Capítulo 1 - Ser forte é a única alternativa...

"Nunca saberemos o quão forte somos, até que ser forte seja a única escolha"

Era um dilema, ao qual se agarrava tanto quanto uma pessoa desesperada se afogando no mar se agarrava a uma bóia. Não importava se os outros o achassem fraco, não importava se ele mesmo soubesse que isso era verdade, ele tinha, devia, necessitava pelo menos "parecer" forte. Pelo menos naquele momento.

- Olha só quem chegou! - anunciou Jason, o mais velho do grupo, o líder da corja. - Já sabe o que tem que fazer.

Sim ele sabia, desde quando tinha 14 anos, desde a oitava série quando sem querer esbarrou no brutamontes e sujou seu casaco de moletom novo de molho. Jason o parou a dois quarteirões depois da escola, e forçou o garoto a limpar o molho com a língua.

Mike se aproximou lentamente do grupo, pôs sua mochila no chão perto da pia e tirou seu moletom cinza ficando apenas com a camisa azul escura por baixo. Andou em direção a um dos boxes do banheiro onde os outros se aglomeravam e se curvou um pouco, pondo as mãos no ladrilho da privada e logo sentiu mãos segurarem suas pernas e as erguerem, ele ficou de ponta cabeça sobre a privada, logo foi descendo e respirou fundo prendendo a respiração assim que sua cabeça foi mergulhada na água provavelmente imunda da privada. Mike nunca teve problemas com a respiração, certa vez quando mais novo conseguiu ficar por quase quatro minutos sem respirar, naquele momento não era diferente, porém o pânico e a raiva que sentia dificultava um pouco essa capacidade. Vez ou outra em intervalos de um minuto seus agressores o levantavam para que pudesse respirar rapidamente e logo tornavam a abaixa-lo. Mike contou mentalmente quanto tempo durara aquela tortura até acabar, dezesseis minutos, dezesseis minutos em agonia e humilhação. Jason e os outras quatro marmanjos o tiraram do boxe, ensopado com a água da privada, ofegante e um pouco tonto e desorientado por ter ficado tanto tempo de cabeça para baixo Mike encarou um por um, e se encolheu para o que estava por vir. Um soco atingiu seu abdômen fazendo todo o pouco ar ali se dissipar, outro atingiu o lado esquerdo do rosto, bem no maxilar, mais um soco no abdômen e ele se curvou com a falta de ar e a dor. Suas pernas moles e fracas cederam sobre seu peso e ele caiu no chão, erguendo as mãos para proteger o rosto enquanto recebia chutes. Ele sabia que os outros estavam rindo, mas suas vozes estavam abafadas por conta da vertigem que sentia e pelo som agudo de um apito que enchia seus ouvidos. Ele gemeu quando um chute o atingiu na base da barriga, abaixo do umbigo, e gemeu de novo quando Jason se abaixou e agarrou sua camisa para sustenta-lo, começando com uma séries de socos. Mesmo Jason sendo alto e forte, parece que sua mira não era muito boa, boa parte dos socos saiu errado, porque ao invés de acertar a cara de Mike ele acertava mais a sua clavícula, pescoço e até orelhas, teve horas que seus socos escorregavam e ele acertava o chão, aumentando sua ira. Por fim, para finalizar tudo Dylan o maior deles deu-lhe um forte chute que tirou tido o seu ar. Mike sentia que ia apagar, mas sabia que não podia, o dilema ecoava em sua mente seja forte, seja forte, já vai acabar, seja forte!

- Por hoje acabamos, mas esteja preparado para amanhã florzinha. No mesmo lugar e no mesmo horário. - Mike estava de olhos fechados mas ouviu o som abafados de passos e porta batendo e então o silêncio, eles se foram o deixando lá caido e machucado no chão do banheiro.

Sua vontade era gritar, xingar, quebrar tudo e socar a cara de cada um deles, mas ele sabia que isso só serviria de machucar suas mãos e irrita-los ainda mais. Mike que tinha se encolhido em posição fetal logo começou a se mexer e deitou de costas sobre o chão frio, encarando o teto branco e tentando estabilizar a respiração ele pensou em como sua vida é uma droga. Seu pai quase não via, tinha algum tipo de trabalho que necessitava de todo seu tempo, sua mãe dona de casa e meio deprimida por conta da ausência do marido e da vida rotineira mal lhe dava atenção, seus dois amigos Kate e Noah ultimamente andavam distantes, Noah por um motivo que ele não sabia, o garoto andava preocupado e um pouco nervoso, já Kate estava estressada por conta das constantes brigas com a tia que cuidava dela pois seus pais tinha desaparecido quando pequena. Então em meio a tudo isso sua única opção era se trancar no quarto escuro e silencioso, se esconder nos lençóis e dormir, se perder em seu sonhos estranhos porém agradáveis, o único momento de paz que tinha no dia.