Epílogo: Amelie

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     Jesy notou os pingos de chuva batendo na janela assim que rolou pro lado na cama, abrindo os olhos. Por alguns segundos observou a melhor visão que poderia ter — e que tinha, todos os dias de sua vida — de Perrie, sua mulher, respirando serenamente com os cabelos dourados caído pelo rosto.

Então ouviu uma batida na porta e se lembrou por que havia sido acordada.

— Mamãe? -a voz trêmula chamou do lado de fora, Jesy não hesitou em se sentar.

—Pode entrar amor, está aberta. -timidamente, grandes olhos verdes surgiram na porta, e a pequena menina, de pijama florido, balançou as pernas, olhando pro chão.

— Eu tive alguns sonhos ruins. Eu… -sua voz embargou, e a garotinha resolveu que seria melhor se calar. Jesy pendeu a cabeça, sabia que sua menina ainda tinha esses sonhos, então abriu os braços.

— Vem Amy. Deita aqui. -ela correu até Jéssica, subindo na cama e se enrolando entre suas mães. Perrie abriu os olhos lentamente, apenas o bastante pra notar quem era e envolver o braço na cintura da criança. Jesy também voltou a se deitar, mas permaneceu observando as duas adormecerem, agradecendo mais uma vez por sua família e se lembrando como havia chegado aqui.

[Dois anos antes]

“ Jesy estacionou o carro numa das poucas vagas do estacionamento do orfanato. Mesmo observando o lugar precário, ela estava especialmente feliz pois hoje Perrie tinha se voluntariado a vir com ela.

Já havia terminado a faculdade de psicologia e a pós graduação há três anos, desde então, além de seu emprego fixo, num colégio particular, Jesy vinha aos finais de semana prestar consultas de graça a crianças e adolescentes em situação social carente. Embora estivessem fora do  país, Jade e Leigh não perdoam a chance de dizer que Jéssica era um tipo legal das pessoas boazinhas que costumam ser chatas.

Os orfanatos eram especialmente tristes pra ela, mas havia aprendido a não captar o lado ruim das coisas e sim a empenhar-se a ajudar, usando o lado bom.

E Perrie adorava isso, sabia que não poderia ter se casado com ninguém além de Jéssica, que era provavelmente a melhor pessoa que havia conhecido em sua vida. Não apenas havia vencido suas dores como se esforçava pra não deixar outras pessoas passarem pelo mesmo.

Ah, e agora ela tinha uma tatuagem.

— Uou, você vem aqui sempre? -Perrie saiu do carro, enquanto Jesy prendia o cabelo, agora ruivo, no alto da cabeça.

—Mais regularmente que em outros lugares. Tem algumas crianças que eu julgo precisarem de uma atenção especial aqui. -Perrie assentiu e se calou, seguindo pra dentro do lugar, de mãos dadas a sua mulher.

Foi um dia cansativo e gratificante, infelizmente nuvens de chuva se formavam, indicando que elas logo precisariam ir. Jesy tinha analisado processos de adoção e os agilizou com laudos sobre as crianças. Tinha indicado clínicas, regularizado medicamentos e consultado dezenas de crianças, além de ter brincado com elas por horas. Perrie observava, ajudando o quanto podia, sabendo que mesmo que ela tivesse feito faculdade de comunicação social, era Jéssica quem fazia arte na vida das pessoas.

— Eu não sei se já disse isso vezes o suficiente hoje, mas eu realmente te amo. -ela falou pra Jesy, que tinha uma caneta presa atrás da orelha enquanto bebia um chá no refeitório. Estavam esperando a chuva diminuir pra poder irem embora. Mas Perrie notou que Jess estava inquieta e parecia ansiosa sobre algo. Fazia anos que não via aquela angústia em sua mulher.

Losing My Mind • Pesy •Onde histórias criam vida. Descubra agora