just one more day

94 10 10
                                    

Min Yoongi é um desgraçado, metidinho e fútil, e eu não quero mais ser ele.

Sei que é difícil começar uma história dizendo que me odeio, mas já quero deixar isso claro me desculpe. Meu sonho é ser um grande rapper, mas ultimamente tudo o que eu tenho feito é passar frio e fome nas ruas. Durmo encolhido em um banco sujo encardido do parque, como duas vezes por semana, e quando tenho a oportunidade de comer. Não bebo água deve fazer dois dias. As pessoas passam me olhando estranho, um olhar com mistura de pena e horror, o que machuca meu coração. Pra quem me conhecia como um riquinho metido há seis meses, não me reconheceria nessa situação. 

Tudo seria tão fácil se minha mãe tivesse implorado mais um pouquinho, só um pouquinho. Meu pai seria convencido e não me colocaria pra fora de casa, e eu não estaria vivendo assim. Sim, seis meses, me sinto até mal de pensar sobre isso. Não posso nem imaginar a situação em casa. 

Todos os dias, pelo menos cinquenta pessoas passam por mim, já que não é um local muito movimentado da cidade. Vinte e cinco dessas pessoas não ligam, Vinte e quatro delas me olham com nojo e uma me pergunta se quero ajuda com comida ou frio, e isso aquece meu coração, as vezes parece que eu nem existo.

Um dia, quando fazia pouco tempo que estava nas ruas, uma garotinha perguntou a irmã se podia me levar pra casa, porque eu parecia triste e era bonito. Ainda não estava tão esfarrapado quanto agora. Eu ri, mas a irmã dela passou reto por mim, cochichando com a garotinha algo que eu não ouvi, mas sabia que era ruim. É sempre ruim, ninguém pensa no próximo em Seoul. 

Hoje faz exatos seis meses que não vejo minha mãe, nem minha irmãzinha. Espero que meu pai um dia se arrependa de não acreditar na minha carreira como raper. Hoje reparei que havia uma empresa bem a frente de onde ficava, mas não era movimentada, apenas alguns garotos entravam ali as vezes.

Decidi levantar e ir até a entrada, pensando se por acaso elea poderiam me ajudar com pelo menos uma garrafa de água. Atravessei a rua e subi as escadas, calmamente já que minhas pernas doíam por não andar há muito tempo. Ao encostar na recepção, a moça de dentro deu um pulo que me fez  rir um pouco. 

"Moça, você pode me dar um copo de água? Faz dois dias que não bebo nada. " Tentar não ia matar ninguém. Ela me encarou, se abaixou e pegou uma garrafa de água no frigobar, esticando pra mim em seguida, com um pouco de receio. 

"Você tem idade pra ser trainee e estar na escola, por que está nas ruas?" Sempre as mesmas perguntas, que faziam meu peito doer.

"Problemas em casa, obrigado pela água." Segui pra descer as escadas e ouvi ela me chamar. Não queria voltar mas ela pode me arranjar algo ali e isso seria muito bom, e me deu esperanças.

"Volte aqui amanhã. Eu Juro que farei algo por você. " Isso acendeu uma pequena chama de esperança em meu peito, mas eu segui de volta pra rua.  

Resolvi ir até o condominio residencial de meus pais. Não era longe dali, uns 20 minutos andando e pronto, estaria lá. Minhas pernas queimavam quando cheguei na portaria. Senhor Jung, um senhor de cabelos grisalhos e na faixa de uns cinquenta a sessenta anos me olhou e seus olhos se arregalaram, pelo jeito ele não sabia que eu estava na rua, afinal, meu pai não saíria dizendo aos quatro cantos que havia me expulsado de casa.

"Sr. Min? O que faz aqui? Porque está tão sujo? Ya, entre. Não posso lhe deixar na rua assim" Seu respeito por mim foi demonstrado na pressa de abrir o portão, o que o tornava uma das pessoas importantes pra mim.

"Obrigado, Senhor Jung. " Eu sorri, e passei pelo portão, inspirando aquele doce cheiro de limpeza, que não sentia há muito tempo. Eu o cumprimentei e abri o outro portão com a digital, seguindo pra dentro do condomínio. A idéia era ir atrás de alguém que me acolhesse.

"Obrigado por abrir pra mim, Jung. Foi bom rever você. " Saí da portaria, seguindo pra calçada do condominio e parei na primeira porta que eu conhecia. Era uma grande casa vermelha, com a porta e as molduras das janelas em cedro escuro, bonita e bem decorada. Toquei a campainha e ouvi gritos vindo de dentro.  

A grande porta marrom abriu, me dando a maravilhosa visão de quem eu menos queria ver nesse momento:

Minha tia Johanne.

rapper ~ mygOnde histórias criam vida. Descubra agora