CAPÍTULO 5 - Efeito do álcool

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Alycia respirou fundo, fechando os olhos com força, enquanto pensava em girafas bonitinhas e dava tapinhas nas costas de Charles que vomitava o baço ao seu lado.

Mentalmente, ela tentava não focar no cheiro e colocava a mão na boca toda vez que ele fazia aquele barulho nojento e vomitava suco gástrico. Se ela bem se lembra, ele tinha gastrite e notou que não é viável dar chilli apimentado para bêbados com gastrite.

— Charlie… — Ela comentou depois de um instante de silêncio e respiração ofegante. — Tá tudo..?— Foi interrompida por outro acesso de vômito. — Toma. — Estendeu a garrafa d'água sem olhar para ele e deu um passo para longe da cerca a qual estava debruçado, respirando em busca de ar.

Olhou no relógio e constatou que era 4:37 da manhã e não fazia ideia do que tinha feito metade da noite.

Ir ao encontro do colegial, check.

Ir ao evento da 212, check.

Beber demais e sair do evento da 212, check.

Parar num bar quatro quadras do evento da 212, check.

Começar a beber e não se lembrar de nada depois da decisão falha de comer chilli, check também.

Porém o percurso pós chilli até estarem vomitando na cerca de um quintal alheio havia durado 2h, e ela não tinha ideia do que havia ocorrido nesse período. A última coisa que se lembrava antes do acesso de vômito foi de Charlie falar algo sobre regras e que gostaria muito de terem sido amigos depois da escola para não ter de ter regras naquele momento. Houve a repetição excessiva das palavras "desconhecidos" e "vergonha", toda via ela conseguiu entender tudo no seu estado de embriaguez deturpado, mesmo que agora só tivesse a vaga ideia do que havia acontecido.

— Onde estamos? — Charlie perguntou recomposto ao lado dela. Alycia o olhou e notou que ele estava branco feito a folha de um papel e que a garrafa d'água em sua mão estava pela metade. Pelo menos não estava sujo de vômito.

— Não faço ideia. — Alycia respondeu olhando para os dois lados da rua. Ela escolheu o esquerdo e começou a andar, toda torta. Os saltos machucavam seus pés, mas ela se recusava a tirá-los como se fossem sua última gota de dignidade. — Está melhor? — Questionou e ele assentiu, terminando a garrafa d'água e enfiando outra pastilha de extrato de magnésia na boca.

— Hãn… Considerando o vômito e a sensação de atropelamento, acho que meu estado ébrio está passando. — Respondeu e virou-se para a encarar. — E você?

— Nem perto. — Respondeu cambaleante.

— A última vez que fiquei bêbado assim foi na formatura e se bem me lembro, a culpa foi sua também. — Alycia jogou a cabeça pra trás e riu de forma diabólica.

— Não acredito que você é tão certinho, Charles. A última vez que fiquei bêbada assim foi… — Ela botou a mão na boca, rindo. — Sexta-feira passada.

Seu senso de humor e reações eram oscilante e confusas.

— Você tem noção de quantos problemas isso pode trazer a sua saúde? — Perguntou e ela deu os ombros, se encolhendo e o encarando com os olhos verdes brilhando.

— Antes cirrose do que gastrite. — Atacou e ele jogou os respingos de água da garrafa no seu rosto. Alycia gritou. — Heiseinbolt!

— Vanderbilt! — Gritou no mesmo tom e ela se aproximou, envolvendo os braços no seu ombro, mesmo que fosse difícil, já que ele era consideravelmente mais alto. — Você já notou que a diferença no final do nosso nome é de uma única letra?

Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora