Capítulo 1 - Prólogo

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"Ser bem-sucedido quase nunca é sinônimo de ter uma vida perfeita e de se sentir completo".

***Luka***

Fazia alguns meses que eu me sentia desta forma, vazio. Me perguntava frequentemente o que havia de errado comigo, mas nunca conseguia responder às minhas próprias perguntas. Não de forma clara, ou plausível.

***

Terminei o ensino médio e logo entrei na faculdade. Cursei 4 anos em administração; um ano antes de me formar eu já estava empregado, e é nesse mesmo emprego que estou trabalhando até hoje. Estagiei na Livres Para Escolher (uma empresa nacional de turismo) durante todos os anos em que estivera na faculdade. Graças ao meu bom desempenho consegui permanecer lá mesmo depois de terminar o estágio que a faculdade impôs.

Minha família não é lá muito grande como essas que vemos por aí, mas sempre foi envolvida com muito amor por seus integrantes. Minha mãe e eu. Sim! Existem mais parentes, mas todos moram distante - hoje eu sei disso -. Viemos para cá quando eu ainda era pequeno, com meses de vida, talvez.

Minha mãe não costumava falar muito sobre eles, mas com o passar dos anos eu fui crescendo e como todas as crianças as dúvidas foram surgindo. Mas continuei calado, e guardei minhas perguntas para mim mesmo. Só então, já na adolescência, foi que criei coragem e a questionei com relação ao restante da família. Minha mãe ficou um pouco surpresa com a pergunta que fiz, mas, depois de tantos anos, finalmente eu soube de minha origem.

Eu nasci na Bahia, estado onde o restante de minha família vive até hoje. Meu pai não assumiu o filho que minha mãe estava carregando na barriga - eu, no caso -. Meus avós paternos nunca nem souberam de minha existência, restando-me agora somente meus avós maternos. Minha mãe disse que eles me amaram desde o início, assim como ela. Contou-me também que, quando eu nasci, a situação financeira da família não estava tão boa e que ela ainda estava muito deprimida por causa da atitude do homem que ajudou a me gerar - porque foi só isso que ele fez, um pai de verdade nunca abandona seu filho, independentemente da situação -. Exatamente nessa época uma amiga que ela tinha recebeu uma proposta para ir trabalhar de doméstica, no interior de São Paulo, e poderia levar consigo mais uma pessoa, pois havia uma vaga sobrando. E essa pessoa foi minha mãe - e eu, como brinde -.

A partir de então ela decidiu esquecer toda aquela história, e resolveu que era melhor que eu nem precisasse esquecê-la. E assim o fez: não me contou!

Depois de descobrir toda a verdade, tentei convencê-la a me apresentar para a família. Ela prometeu que iria entrar em contato com meus avós e que iria me levar para conhecê-los quando pudesse.

Passado um ano completo, chegou o grande dia. A cidade era encantadora. Apesar de sua estrutura não ser uma das melhores, a paisagem natural era... fascinante. O mar calmo, a brisa fresca, o céu limpo e radiante... tudo era novo; diferente do que eu estivera acostumado.

Quando chegamos na rua que minha mãe descrevera durante a viagem, avistei um casal de cabelos grisalhos sorrindo uma para o outro. O homem, que deveria ser o meu avô, abraçou a mulher, que deveria ser minha avó. Eles nos receberam muito bem, parecia que havia uma ligação entre nós, o que ajudou muito as coisas. Passamos uma semana lá. Mesmo não sendo a quantidade de tempo que eu gostaria de passar por lá, foi o suficiente para que eu conhecesse um pouco mais a fundo os meus avós, e eles a mim. Eles me contaram algo que minha mãe não havia me dito. Disseram que eu tinha duas tias, e também uma prima que fora adotada por uma delas.

Fiquei ressentido algum tempo com minha mãe, por ela nunca ter me contado quais eram minhas raízes, minhas origens... nunca ter me dito a verdade sobre meu pai... minha família, caramba! Eu a amava, e não queria ter que ficar brigado com ela de alguma forma. E eu sabia que ela também me amava, do contrário, teria me abandonado nas mãos de qualquer um, como meu pai fez.

***

"Somos livres para escolher: Ser feliz ou não ser?"

***SOFFIA***

Se tem uma pessoa que é feliz, essa pessoa sou eu! Não sou rica, não tenho o emprego dos sonhos, muito menos sou a garota mais bonita... descobri que para ser feliz de verdade precisamos aceitar a nossa própria realidade. Na verdade, eu sempre soube disso, mas há pouco foi que escolhi amar a vida do jeitinho que ela é e fazer dela a minha felicidade.

***

Meu pai sempre me dissera que eu era uma boa ouvinte e uma boa conselheira. Eu sempre ria quando ele dizia isso, não é que eu não acreditasse nele ou em minhas qualidades. Acontece que aquelas palavras soavam de uma forma diferente em sua voz, fazendo cocegas em alguma parte inconsciente do meu cérebro. Era como se fosse uma premonição boa.

Quando estava prestes a sair do ensino médio comprovei para mim mesma de que as minhas teorias sobre aquilo estavam corretas. Eu era sim uma boa ouvinte e uma boa conselheira, admito; mas nunca havia passado pela minha cabeça ganhar a vida fazendo isso.

Ingressei na faculdade assim que terminei os estudos. Graças aos incentivos inocentes do meu pai, hoje estou no quarto e último ano do curso de psicologia.

Você já deve estar se perguntando: "E sua mãe?" Tenha calma, irei esclarecer tudo... ou pelo menos quase tudo.

A verdade é que eu nunca conheci minha mãe, não de forma explícita. Ao passar dos anos fui conhecendo ela aos poucos, mas nunca por completo, nunca pessoalmente, cara-a-cara. A conheci através de histórias, através de fotos, através de lugares, e até mesmo através de músicas. As histórias que ela viveu, as fotos que ela tirou, os lugares marcantes que ela passou, as músicas que ela ouvia... Tudo o que eu conhecia dela estava conjugado. Conjugado em pretérito perfeito. Sim! Ela já morreu.

Os pais dela, meus avós, nunca tiveram interesse em me conhecer, nunca se importaram com minha existência. Para eles, eu quem sou a culpada da morte dela. Eu sei que a culpa não foi minha, tenho certeza disso. Se eu pudesse trazê-la de volta, eu o fazia; mas isso não cabe a mim. Deus sabe de todas as coisas, Ele conhece cada necessidade que existe dentro de cada um de nós; e se Ele viu que o melhor para mim era isso - não ter minha mãe comigo -, eu respeito a Sua vontade.

Amor que nasce de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora