Tudo o que fazemos é nos esconder
Tudo o que fazemos é viver dentro de uma gaiola
(All we do - Oh Wonder)E L I S A
Sentada na cadeira da delegacia, Elisa esperava por seu pai. Não estava furiosa. Estava decepcionada e cansada.
Seu pai tinha esquecido novamente o jantar em família e após o surto de sua mãe ela não teve outra opção a não ser caminhar de pé até o seu trabalho para confronta-lo, ou simplesmente levá-lo de volta para casa e arrumar o caos que lá estava.
Os passos e burburinhos ficavam cada vez mais altos e em direção a sala que ela estava. Se concertou na cadeira e cruzou os braços, esperando por seu pai.
─ Eu só estou fazendo meu trabalho, garoto. ─ Jacob apareceu na sala com seu uniforme diário de policial.
─ Então seu trabalho é ser um mané.
Elisa quase abriu a boca ao reconhecer a voz do garoto que tinha respondido a autoridade. Olhou para os dois e levantou as sobrancelhas surpresa ao ver quem seu pai estava prendendo.
─ Oque você está fazendo aqui? ─ Jacob questionou a filha.
Seu pai segurava os braços algemados de Jonathan Blake. O garoto de sua escola na qual ela tinha uma queda desde o ginásio. Uma queda não, um abismo.
─ Como? ─ ela piscou os olhos confusa, voltando à realidade.
─ Olha, eu não fiz nada. ─ Jonathan suspirou desolado, interrompendo o momento de conflito entre pai e filha para se defender. ─ Você pode me soltar? Isso machuca.
Jacob levou Jonathan para uma cadeira encurralada no fundo da sala. Mandou o garoto se sentar e logo depois o algemou no braço da cadeira.
─ Fique calado. ─ ordenou e voltou para sua mesa onde Elisa encarava a situação sem saber como reagir.
Jacob sentou em sua poltrona e se aproximou da filha mais nova.
─ Oque faz aqui Lisa? ─ perguntou baixo para que Jonathan não escutasse nada. ─ Já não avisei que não quero que nenhuma de vocês venham ao meu trabalho?
Elisa suspirou e revirou os olhos inconformada.
─ Você esqueceu do jantar. ─ disse e seu pai fez uma expressão ensaiada de arrependimento. ─ De novo.
Todos os jantares de família que Paola preparava era uma forma de chamar atenção do marido ausente. No início até deu certo, mas depois, Jacob quase nunca apareceu.
─ Mamãe ficou furiosa.
─ Eu imagino. ─ respondeu encostando-se na poltrona. ─ Mas oque você quer que eu faça? Sinto muito mas agora já passou e eu não posso fazer nada.
E então Elisa franziu as sobrancelhas inconformada do que havia acabado de escutar. Antes que ela pudesse retrucar, um dos outros policiais apareceu na sala:
─ Miller, o delegado está te chamando em sua sala.
Ele confirmou com a cabeça e se levantou.
─ Vá para casa, depois eu converso com a sua mãe. ─ disse olhando para Elisa, que já sabia que essa conversa deixada para depois iria se transformar em uma briga feia. ─ Ei, garoto. Permaneça calado.
E então ele saiu em direção a sala do delegado, deixando os dois sozinhos. Elisa olhou para Jonathan que também a encarava desde o início.
Sempre foi um garoto na dele. Não era isolado porque tinha seus próprios amigos, uns esquisitos. Assim como ela, que sempre teve seu grupo de amigas, tais "populares". E isso não era algo que ela se orgulhava.
Elisa se perguntou oque ele deve ter feito para estar ali. E como se ele estivesse lendo seus pensamentos, disse:
─ Fui pego pichando um muro. ─ fez uma pausa, se sentindo incomodado com o olhar dela nele.
─ Você... ─ antes que ela fizesse mais perguntas ele a interrompeu.
─ Nada ilegal. ─ murmurou com a voz rouca. ─ Eu só fui pego no lugar errado e na hora errada.
Ela se permitiu acreditar nele. Oque tinha demais em pichar um muro? E então suspirou aliviada imaginando o quanto seria complicado estar gostando de um criminoso.
O observou algemado na cadeira e andou em sua direção.
Era estranho vê-lo de perto. Eles estudavam juntos mas nunca trocaram uma palavra ou sequer se aproximaram. A ideia de ir até ele deixava Elisa nervosa.
─ Oque está fazendo? ─ ele perguntou quando ela agachou ao seu lado e retirou um grampo de suas madeixas loiras.
─ Vou te soltar. ─ disse e parou para encara-lo nos olhos.
─ Porquê? ─ questionou, encarando-a de volta. Ele tinha olhos escuros que estavam avermelhados e com grandes olheiras. Seus lábios eram escuros e ele tinha um cheiro de cigarro que a incomodava.
"Porque eu meio que gosto de você." - espantou esse pensamento de sua cabeça.
─ Vai irritar meu pai. ─ ela disse podendo jurar que viu um meio sorriso escapar da boca dele.
Mas irritar Jacob era mais uma metáfora para oque poderia ser um: "Ei, nossa família está desmoronando. Eu tento segurar as pontas mas nem sempre eu consigo. Estou aqui, preciso que você tome as rédeas e assuma seu papel de pai e marido".
─ E você disse que não fez nada ilegal, então...
─ E você acredita em mim?
As algemas fizeram um pequeno barulho ao serem destravadas com o pequeno grampo. Ela já havia feito isso tantas vezes que já tinha perdido a conta.
Elisa levantou e o encarou, sentindo suas bochechas esquentarem e deu de ombros.
─ Valeu. ─ ele disse sem jeito, massageando o pulso vermelho. ─ A gente se vê na escola... Lis.
Observou ele pular a janela e então pôde finalmente sorrir, sentindo um pontinho de esperança surgir em seu coração no meio do caos. Desde quando ele sabia seu nome?
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oque vocês estão achando??
please, me contem <3
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DESTRUÍDOS (COMPLETO NA AMAZON)
Teen FictionJonathan Blake é um rapaz complicado. Tenta não demonstrar seus sentimentos e se preocupar com o passado. Ele é livre e preza muito o ato de ficar sozinho - algo que em breve vai descobrir que não é tão libertador quanto achava. Elisa Miller está a...