Talvez Nico poderia ficar em casa e colocar qualquer coisa no Netflix para assistir, ou ainda, dormir (até por que, ele era bom nisso). Mas decidiu que a noite de lua cheia estava chamando-o para algo diferente. Se estava numa balada gay? Sim, estava. Se ligava para a opinião alheia? Nico deixou de se importar com isso com o tempo. Descobrira aquela boate por uma amiga lésbica que estivera com um amigo antes, o que realmente não interferirá na história de hoje. Nico não era dos mais extrovertidos sem alguns goles de álcool, mas depois de alguns......
Nico chegará já no ápice da noite. O som estava no máximo, a pista lotada, e o bar já com o ar deprimente que costumava ter a esta altura do campeonato. Chegou e pediu uma vodka pura, gostava de algo um pouco mais forte. Enquanto esperava por seu pedido, avistou de longe algo que não gostaria de ver.
Percy estava ali. E você, caríssimo leitor,
deve estar se perguntado: Quem é Percy? E o que esse autor louco pretende colocando personagens do nada na história? Não responderei a segunda pergunta, mas a primeira é pertinente a este fato. Percy era um cara que Nico era afim quando estava no ensino médio. Até ai tudo bem, mas ele não contava com o fato de ele ser hétero na época, ou pelo menos foi isso que ele tinha dito. Parece que as coisas não são o que parecem ser, pensou ele. Ficou muito tempo observando o moreno de olhos verdes, e seu sorriso radiante que contagiava o lugar. Não poderia deixar de reparar a roupa azul(típico),a cor preferida dele. Quando viu, estava encarando sinistramente o moreno, que logo sentiu a orelha esquentar e virou-se para Nico.
Pronto-pensou-agora ferrou mesmo. Foi isso que ele dissera em mente na hora. Logo virou os olhos e fingiu que não tinha o visto. Só não percebera que era tarde demais, e Percy foi lhe cumprimentar:
- Nico? É você?- (merda) pensou.
-Oi!-a falsidade chegava impressionar a ele mesmo-Quanto tempo!!
- Sim, já faz algum tempo....
-Dois anos.- interrompeu o menor.
- Sim, dois anos...- como um sorriso poderia ser tão lindo?!
- então, o que fazes aqui? Digo, pensei que você era....
- hétero?
-sim....
- ah... Uma história mal contada diria.- uma história inventada eu diria. Ele sabia o que ele era, mas como filho de um empresário importante e ( coisas de filme de patricinha de Hollywood) "religioso"-ia a igreja duas vezes no ano, uma no Natal e outra na páscoa, mas como todo hipócrita religioso, não tinha amor suficiente ao próprio filho para amá-lo sem medida-. Toda essa história rendeu ele um sofrimento bem razoável. Algumas surras, discursos, berros, choros, mais pancadas, e enfim o abandono. Mas estava ali, e era isso que importava.
- E eu fazia parte dela?- Nico lançou-lhe a pergunta mais mortal da noite. A resposta poderia ter feito com que eu nunca tivesse contando essa história para vocês, mas o destino- Ah! Destino insano!- promove as melhores peripécias da vida, do amanhecer ao ocaso dela.
- sempre fez Nico.- Olhos marejados diziam mais que aquela resposta. E quando uma lágrima valerá menos que uma palavra? Que emocionar alguém? Tira-lhe o soro universal da saudade, do amor, do alívio, do prazer, e da inocência. Eis que o elixir do tudo e do nada vem com tudo, saindo da nossa alma, e saindo pelos olhos.
-Percy.....- Nico começou a se aproximar do rosto do moreno. O calor emanava de Percy como um dia quente e ensolarado numa praia ao meio dia. Os lábios gritando, pedindo, implorando: BEIJA-ME. E eis que Percy o tomou pela cintura, levantou as mãos ao pescoço, e encaixou as bocas. Não era uma batalha. Não era um adeus. Não era o amanhecer. Era um beijo calmo, doce, e com um leve gosto de álcool( que Percy adorara no momento)- era o beijo do recomeço. Um daqueles que é como dizer: esperei por você, e agora não me perca!
O beijo cessou, mas os rostos permaneceram colados- aliás, todos precisam de respirar.- Apesar dos semblantes sérios, a alegria que não transcendia a matéria poderia ser sentida pelos dois. Que momento era aquele? A espera dos anos, das ânsias, dos choros, dos relacionamentos mal arquitetados, tudo naquela hora parecia valer a pena. O amor, naquele dia, valeu a pena.
