Único

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Oi gente.

Então, isso aqui saiu no meio da madrugada e eu to meio "EOQ?"

Eu fiquei vendo coisas sobre a série Vikings no Pinterest e, de repente, eu tinha toda uma ambientação na minha mente que veio pesada nas analogias e tá poética e só veio assim. 

Bem, ces vão ver...

Em meio às pedras e o sangue, os corvos e o metal, eu encontrei você

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Em meio às pedras e o sangue, os corvos e o metal, eu encontrei você.

Estava coberto pelo líquido púrpura, mas ainda conseguia ver seus olhos brilhando assustados sob o véu tingido de guerra. O pavor estampado em espelhos verdes que observavam tudo embebidos de dor.

Estava aterrorizado, eu sabia. Mas não era a sua morte que temia. O que te apavorava era a presença ceifeira ao redor, carregando tudo e a todos, mas não você. Tinha medo de ser deixado pra trás como uma lembrança macabra daquele dia e, por enxergar tanto nas tuas janelas esverdeadas, eu o quis.

Quis entender o que se passava na sua mente, já que parecia ser o seu território preferido. Você quase não proferia palavras, mas os olhos observavam tudo e os lábios crispavam contendo sentenças que não tinha coragem de expor.

Eu queria te ouvir falar. Queria te tirar do meio daquela densa nuvem de guerra, ignorar o fato de que a tua cidade fora um alvo de um povo tão cruel como o meu e entender o que era aquela coisa ao seu redor. O que era aquela luz faiscando nos teus espelhos.

O dia em que te carreguei comigo para o casebre aos arredores das nossas terras, consegui ouvir claramente a sua voz pela primeira vez. Lembro-me da sua surpresa e do som de engasgo quando disse ao meu pai que o queria. Creio que, na época, tanto você quanto ele entenderam que eu desejava-o como um escravo. No entanto, minhas vontades estavam além disso. Você soube naquele mesmo dia, enquanto eu desamarrava as cordas vergonhosas de seus pulsos e lhe dava de comer sob o teto daquele casebre. Olhava-me como um animal ferido e assustado e eu o tratei como tal, com medo de que fugisse de mim.

Você me questionou. Pronunciou meu nome de forma receosa, e minha bênção jamais me pareceu tão fluida e límpida quanto esta vez em que deixou teus lábios. As passagens esverdeadas para sua alma se nublaram em lágrimas e um agradecimento sincero quando lhe disse que desejava que vivesse ali, livre, mas ainda perto. Já não tinha para onde voltar e sabia que nada do que eu fizesse poderia ser tomado como bondade. Por qualquer outro, seria apenas um ato de misericórdia inimigo, mas você não enxergou assim. Diante de mim, sorriu e diante do vazio ajoelhou-se, fechando os olhos brilhantes, sorrindo em meio ao naufrágio que lhe sucumbia a face avermelhada.

Gratidão era o que havia em ti.

E curiosidade era tudo que crescia em mim. Estava vivo, buscando em nomes de antepassados e em nome de futuras gerações uma glória inacabável. Havia pouco tempo, era o que diziam. Nossa existência era um piscar de olhos, pouco demais para fazer história e precisávamos aproveitá-lo. E no meio dessa busca, havia o sangue que te cobriu, e a morte que impregnou tuas vestes e teus pesadelos que eu bem vi. Estava lá, vendo suas mãos amarradas e teu sonho ruim continuar quando acordava no meio da noite.

Voltaria a ter sonhos bons agora? Deixaria de chorar quando despertasse na alta madrugada?

Eu queria saber. Queria me livrar dessa tarefa tão fétida que tirou tanto de ti e lhe entregar o que eu pudesse. Por isso voltei àquele lugar todos os dias para ter certeza de que não me deixaria. De que me permitiria entender quem você era e quem era a pessoa invisível para quem tu sorria de olhos fechados. Quem era esse ser que acalentava teu coração machucado e me deixava te ver sorrir um pouco mais a cada dia, aos poucos.

Divindades nunca me encheram os olhos, mas queria saber mais sobre essa tua. Entender como um homem adulto, feito e forte como tu era capaz de parecer tão pequeno e amável quando de olhos fechados, sorrindo para o céu azul.

Eu me ajoelhei ao teu lado. Fechei meus olhos e ouvi sua voz doce ecoar pelo casebre um pedido de harmonia. Eu via que tu bem sabia quanto sangue ainda jorrava em nome da paz e quanto ódio ainda corria as terras em nome do amor. Mas diante dos teus espelhos verdes, escondidos do mar de fúria dos homens, havia paz e amor de verdade.

Porque havia você.

Sua voz falha me sussurrou que tinha medo, aquela noite. Tinha medo que estivéssemos errados, desobedecendo alguém. Mas como poderia estar fazendo mal, amor? Se queria me salvar, estava salvo, eu acredito.

Sabia que tua bela divindade era real porque apenas aquele ser de quem tanto me falava seria capaz de criar alguém como você. Era o milagre, a benção, a prova para minha alma.

E na tua pele, gravei o sabor da minha, e a textura, e o cheiro e sua voz mergulhada em prazer transbordou o meu ser. Minha graça banhada em luxúria. Tua essência fluindo pela minha como um só, estes somos nós.

E jogados no chão coberto de pele, sentindo ao redor a poeira e o barro, eu devolvi o seu sorriso, sincero como nunca foi. Porque a você pertencia aquela parte minha e a mais ninguém. E a você eu pertenço por inteiro.

Eu te ouvi cantar entre os lençóis estendidos ao sabor das brisas de verão e ouvi sua risada com o florescer da primavera. Senti o calor do seu corpo nu nas noites de inverno e também tua voz ranzinza no outono. Calei a tua boca com beijos ternos e te induzi a falar, a gritar se preciso. Eu te conheci em cada parte, cada nota e tom perdido no espaço entre o teu corpo e o meu, e explorei cada entalhe que existia no teu físico e na tua alma.

Ainda sinto as marcas dos teus dedos na minha pele, o doce timbre da tua voz nos meus ouvidos e o olhar esverdeado sobre minha existência inteira. Porque enquanto eu te observava, me vias também tu, enxergando debaixo do sangue, do machado, da guerra e do nome.

Aos teus olhos só havia aquela primeira bênção que proferia carinhosamente, como se eu fosse teu milagre assim como tu eras o meu. E sob as estrelas eu te amei, e amarei acima delas e entre, antes e depois.

Porque a vida que vivemos foi toda uma poesia escrita por um coração que nossa terra jamais habitou e jamais fora observada por ninguém. O amor que te pertenceu tinha dentro de mim a nascente e não poderia ser contado por nenhum guerreiro, nem um sacerdote.

Era amor que acompanhava a vida e se seguia na partida, como esta que fizeste antes de mim. Despediu-se com um sorriso triste, eu vi nessas tuas janelas logo antes de se fecharem para sempre neste plano. Mas não me disse que estes espelhos novamente se abririam, existindo noutro lugar?

Pois há de existir um lugar pra ti, porque tamanha graça, como essa tua existência, jamais se perderia. Está refletindo no brilho intenso do amanhecer onde te acompanho. Porque me fizeste fiel ao amor que tenho, mergulhado na luz que habitou em ti.

Na dádiva que me fez teu agora e pela eternidade que se inicia depois do fim.

Na dádiva que me fez teu agora e pela eternidade que se inicia depois do fim

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E foi isto galeres

ENFIM, Espero que tenham gostado xuxuzinhos

Um beijo no kokoro e Ja nee

Teus EspelhosWhere stories live. Discover now