Carta de despedida

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É. Chegou a hora de contar a minha história.

O lance é que essa capítulo não é pra ser um poema, apenas um desabafo.

Nós últimos tempos, tenho sentido um grande vazio. Minha insônia está me enlouquecendo, e meu desejo de desaparecer só cresce.

Juro que eu tentei suportar toda a dor que eu sentia. Eu tentei ser forte e superar por tudo. Mas eu fui fraca demais e acabei caindo.

Talvez esse seja o meu último texto a ser publicado aqui. Talvez não. Não sei ao certo, o futuro não me pertence, e como Fernando Pessoa disse a única conclusão é a morte.

Só duas pessoas na face da terra sabem que eu sofri abuso. Eu e o abusador. Isso tem uns dois anos eu acho. Poucas pessoas sabem do meu Transtorno Alimentar. Quase ninguém sabe da minha ansiedade e pouquíssimos sabem das minhas tentativas falhas de suicídio.

Isso teve um impacto na minha vida? Com certeza. Mas foi uma escolha minha não contar a ninguém e carregar isso pra eternidade comigo, afinal, eu odeio falar sobre esse assunto.

Bom, toda história tem um fim. Talvez esse seja o meu.

Sempre banquei a durona fortona. Que carregava o próprio mundo e o mundo das outras pessoas nas costas.

Fico extremamente contente de saber que as pessoas que se preocuparam em me conhecer, tiveram contato com uma Raf que eu tive orgulho de ser.

Aliás, a Raf é totalmente diferente da Regina que meus familiares conhecem. Isso talvez seja um problema mais na frente. Mas aí não vai ser problema mais meu.

Hoje, dia 24 de maio de 2018, eu escutei meu pai falando algo que velho, matou a última parte de esperança e de vontade de viver. "E a Regina é alguma coisa nessa casa???" Ele não disse brincando, ele disse com desprezo. Acho que tá na hora de dar descanso a ele.

Esses últimos dias eu fiz o possível pra deixar todos contentes, e com uma imagem boa de mim. Quero que se lembrem de mim como a Raf, alegre, prestativa, compreensiva, protetora, engraçada.

Estou comendo meus chocolates preferidos. Lacta Oreo e Diamante Negro enquanto luto desesperadamente contra essa vontade crescente de dar um basta e colocar um ponto final em tudo.

Confesso que estou tranquila com essa minha decisão. Não é a primeira vez que eu tomo ela, da última vez eu quase consegui, acho que agora sim vai dar certo.

Eu tenho 17 anos. Passei na faculdade federal que eu sempre sonhei. Tenho dois irmãos que eu amo muito. Um pai e uma mãe que eu não consigo mais sentir o amor ou pelo menos o carinho deles por mim. Um tio que eu considero demais, e que vou sentir saudades, mesmo com as broncas e os sermões. Uma vó estranha que uma hora eu sinto que me ama e na outra sinto algo totalmente diferente. Um vô que eu considero um amigo, e que sem dúvidas eu tenho certeza que vai sofrer muito com minha decisão. Tenho amigos que cara, eu considero mais minha família que qualquer outra coisa. Aliás, peço a vcs por isso. Sempre estarei ao lado de vcs independente do que aconteça. Bom, tenho o que muita gente consideraria uma 'vida perfeita'.

Eu tive muita sorte nessa vida, fiz amigos que já me provaram serem pra vida inteira. Aliás, Bebel, Sofia, Jotta, Vilty, Yasmin, Sam, Juuh, LeumaS, Kalango, Germe, Bia, Lali, Evyy, Ladrão, Danillo, Lucky, Paulin, Alexandre, Giih, Akin, Malu, Beca, Letícia, Morais, Gui Paulino, André Yuri. Amo muito vcs. Nunca se esqueçam disso.

Peço desculpas por tudo a todo mundo que um dia eu já machuquei. Me desculpem por eu ser covarde e fraca. Sei que decepcionei muito todos.

Eu pedi socorro, do meu jeito, mas eu pedi.

Tem tempos que não consigo escrever nada com o coração e transmitir meus sentimentos para os poemas, e isso é horrível pra mim.

Bom, pra quem não me conhece, sou Regina de Almeida Fernandes, também conhecida como Raf. Sou sagitariana, caloura na UnB no curso de museologia. Aprendi a escrever poemas com meu melhor amigo em 2016, não sei cantar, nem dançar. Mas isso não significa que eu não cante e nem dance kkkkkkkk. Já amei, e já fui amada. Já sofri e já fiz sofrer. Sou a única dona e responsável pelas minhas escolhas, e quero que isso fique bem claro. Sempre priorizei a felicidade alheia, e não me arrependo disso. Tenho pais super protetores e conservadores, sou a filha mais velha e tenho dois irmãos. Vivo na cidade de ValVegas no entorno Sul a 40 kms de Brasília. Adoro chocolates e minha série preferida é Teen Wolf. Já fiz muitas coisas nas quais eu me arrependo, mas eu não mudaria nada do que eu já fiz. Jogo futebol e sei andar de Skate e Patins. Odeio anime.

Vou sentir falta de todos.

Tenho problemas familiares, como todo mundo. Infelizmente não tenho a força e determinação que muitos têm. Meus pais está me ignorando, pq eu acabei me isolando deles. Bom, eles não conhecem bem um terço do que a filha deles é, isso complica um pouco as coisas. Tenho conflitos internos que é difícil explicar. Me sinto sufocada dentro da casa dos meus pais. E essa sensação é o combustível pra essa minha decisão.

Imagino que para alguns no início seja um pouco difícil de entender, aceitar e conviver com tudo o que está pra acontecer daqui pra frente. É acredito que para outros vai ser até mesmo um alívio. E aos meus pais, é o seguinte, uma última coisa direi a vcs. Vcs sabem o que aconteceu dentro daquela casa durante toda a minha vida. Nossas escolhas tem consequências no futuro. Vcs resolverem que eu não tinha voz pra opinar, decidir, nada. Às vezes que eu tentei me abrir só serviram para mim me fechar mais ainda. Vocês disseram coisas a mim que machucaram mais do que qualquer surra que eu pudesse tomar. O Afonso está aí, crescendo rápido, e já percebemos como que ele é parecido comigo. Espero que não cometam o mesmo erro que cometeram comigo. Eu não quero uma gota de lágrima de vcs. Aliás de ninguém. E meu último pedido é que caso vierem falar com vcs perguntando sobre mim, como eu era, o que vcs sentiam, que vcs repitam cada palavra que vcs diziam pra mim constantemente. Os insultos, as agressões emocionais, os desprezos.

Bebel, peço perdão principalmente a ti, lembra do que eu sempre te disse, suicidas são apenas anjos com saudades de casa, bom, chegou minha hora de ir pra casa...

Agradeço muito por fazerem meus dias serem mais fáceis de serem lidados. ❤

E é isso, toda história tem um fim, e todo fim é um recomeço.

Raf.

(GENTE ESSE TEXTO EU FIZ EM UMA MOMENTO DE RAIVA, TRISTEZA, ANGÚSTIA. EU JÁ ESTOU MELHOR GRAÇAS AOS ANJOS EM FORMA DE AMIGOS QUE EU TENHO. COMO EU ANDO PASSANDO POR UM MOMENTO QUE ESTÁ ME DANDO UM BLOQUEIO CRIATIVO GIGANTESCO, ME ATRAPALHANDOA TRANSMITIR MEUS SENTIMENTOS PRO TEXTO, E ESSE FOI O ÚNICO QUE EU CONSEGUI COLOCAR UM POUCO, EU ESTOU POSTANDO. AFINAL, NEM TUDO SÃO ROSAS NÉ?! OBRIGADA PELA ATENÇÃO MEUS AMÔ)

RAFOnde histórias criam vida. Descubra agora