O Diário de Valerie Clarck

Capítulo 1

Diante do seu caixão eu só conseguia pensar

"E agora, como vamos ficar?"

            

Mais um dia me escondendo atrás do prédio abandonado da escola... Aqui começou no inicio das aulas, mas tem sido assim desde sempre, fugindo como se eu fosse uma criminosa, isso quando eu não fiz absolutamente nada, nem um olhar com a cara feia eu dei, não sei quanto tempo isso vai durar, só sei que não aguento mais.

Não aguento mais por que sigo fugindo há muito tempo, e se eu te dissesse que sempre fui uma ninguém, eu não estaria mentindo, afinal todo mundo me trata como se eu não existisse mesmo, eles só me enxergam quando precisam fazer alguém de saco de pancadas, no meu caso verbalmente e é nessas horas que fujo. Nada nunca foi muito bom pra mim, Diário, fugir é meu modo de proteção, mas tem situações que nem isso eu consigo fazer.

Quando meu avô morreu eu tinha uns seis anos, mas eu me lembro muito bem do dia, e também do ano seguinte, foi horrível... Antes disso minha família era tão diferente, quando ele estava vivo nós éramos um exemplo de família, todos diziam isso, e eu acreditava, por que quando eu estava com eles, me sentia parte da perfeição, mesmo tendo que ouvir muitas piadas vindas da maioria dos meus primos, e por mais que fosse difícil ouvir o que eles falavam eu tentava relevar por que eu amava minha família. O que eu mais gostava era o fato de sempre estar com a casa cheia, muita música e risada, meus avos tiveram quatro filhos, meu pai e mais três meninas Lara, Helena e Valentina, elas também tiveram filhos, e isso deixava nossa família grande e única.

Minhas tias estavam o tempo todo numa competição, ridícula, para ver quem tinha os  melhores filhos, quem possuía mais bens, quem tinha a vida mais bonita e feliz, lembro que quando o marido da tia Valentia saiu de casa, suas irmãs nem queria ser vistas com ela, pois diziam que mancharia suas reputações, eu nunca achei que elas tivessem uma boa imagem, por que eu ouvia algumas conversas falando que tia Lara consumia mais do que podia, Helena roubava em algumas lojas e Valentina vivia bêbada.

Quando tia Valentina começou a não ter mais controle da quantidade de bebidas que consumia, vovó pediu para que ela fosse morar em sua casa, pois precisava de ajuda, ela aceitou, resolveu vender suas coisas e começou o tratamento, foi então que comecei há passar mais tempo com a Katy e nos tornamos melhores amigas, ela é a filha mais velha da Valentina a única dos três que realmente acreditou que ela podia se curar, e também a única que não foi com o pai.

Tudo tão maravilhoso, mesmo que com tantos defeitos eu ainda sim enxergava o encanto ao qual eu fazia parte, Katy acreditou na mãe, vovó a acolheu e mesmo com os raros desabafos do papai, que eu ouvia escondido, e com as competições internas eu ainda via como a maioria tentava se ajudar, isso era o encanto pra mim, mesmo que eles me achassem uma idiota.

Seis meses após ele ter ido, vovó recebeu uma carta de despejo, hoje sei que ela procurou seu advogado e ele lhe explicou que suas filhas estavam alegando que ela tinha lhes passado os bens da família, ela não sabia de nada disso, depois de algumas perguntas eles formularam o que possivelmente teria acontecido, de acordo com vovó, elas falaram sobre umas papeladas que precisavam ser assinadas, para resolver as coisas com a funerária e o cemitério, e elas a fizeram assinar alguns papeis, achamos que, o que dizia que ela daria a herança em vida estava no meio deles.

Minhas tias sabiam de duas coisas, a primeira é que minha avó estava muito abalada para ler aquelas folhas e a segunda é que meu pai não aceitaria aquilo, então ele ficou de fora do golpe.

Em uma das manhãs em que estávamos nos organizando para fazer a mudança, pois meu pai não deixaria minha vó morando sozinha, foi quando recebemos um telefonema: - Sim? – disse mamãe. – Sou esposa dele, no momento ele não se encontra, mas se o senhor quiser deixar o recado, falo assim que chegar. – então ela ficou calada. De repente se sentou e vi que a coisa era séria.