Capítulo IV

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  O único que não se auto-intitulava pirata naquele galpão se esforçou muito para evitar conflitos para o resto da noite, e convenceu Mattew a acolher Kateryn que também ganhou algumas roupas novas.

  A garota tinha cabelos vermelhos que herdou da mãe, de acordo com que lhe contaram sobre Capitã Sirene, da Marquesa Turquesa, sua embarcação. Matt também contou sobre seu pai, O Tartaruga, e o colossal Encouraçado de Saraschia, navio de guerra que algum dia herdaria. Ao contrário de Kateryn, Mattew podia visitar seu pai e pôde conhecer sua mãe antes que esta fosse levada por uma febre. Já Baehrius poupou palavras sobre o assunto enquanto não foi questionado, mas Kate quis saber:

  — E você? — Ela parecia animada com a conversa, já que não tinha muitos amigos. — Pai ou mãe pirata?

  — ...Pai...Eu acho... — Aquelas palavras pareciam ser vomitadas contra sua vontade.

  — Acha? Não o conheceu? — Matt intervia desta vez, agora curioso.

  — Não sei nem seu nome. Esperava conhece-lo hoje e... bem, Matt, você viu tudo...

  Kateryn desmanchou seu sorriso e parecia preocupada. O garoto percebeu que gostava desse tipo de atenção, discretamente, então continuou no mesmo tom melancólico:

  — Meu pai me deixou com sua mãe, doente, pouco depois da morte da minha. — Mesmo neste assunto, Baehrius tentava anima-los. —É engraçado, eu sonho muitas vezes com uma moça muito linda e tenho certeza que é minha mãe, mas eu mesmo não me lembro de como ela era...haha...— Mesmo com os olhos cheios de lágrimas, se esforçou para esboçar um sorriso enquanto olhava para os rostos preocupados de seus amigos. Kate abraçou-o repentinamente, e ele demorou para entender e retribuir. Mattew era grande o suficiente para abraçar ambos, e fazendo isso ao nascer do sol, a amizade destes também nascia deste momento.

  O movimento do porto ao lado indicava o amanhecer e notaram que a noite foi passada em claro.

  — Preciso ir trabalhar. No fim da tarde, apareçam aqui novamente. Quero mostrar uma coisa a vocês.— Matt parecia cansado, mas era sempre reluzente.— Até mais!

  Kateryn decidiu acompanha-lo até as docas e despediu-se também de Baehrius, que foi sozinho para a casa, pensando nas explicações que daria a sua avó. Explicou-se a ela e ela pediu desculpas pelo falso alarme no dia anterior. Criado por ela, sabia que seus problemas de memória afetavam outras coisas em sua cabeça. Passaram a tarde conversando e depois de muita insistência, ela foi convencida a falar sobre seu filho:

  — Ele foi embora tão novo e voltou tão poucas vezes que mal me lembro de seu rosto, muito menos do seu nome.— Ela não parecia triste, talvez nunca tenha ligado realmente para isso — Mas quando pequeno, era muito parecido contigo, sim, lançou-se ao mar com tamanha bravura e voltou só com sua mãe, grávida. Você é o único motivo que me restou para esperar por ele, pelo menos, até você mesmo ir procurá-lo.

  — Se ao menos eu soubesse o nome dele...

  Baehrius nunca se confortou com a ideia de ter um pai que simplesmente sumiu. Parecia mais determinado a procura-lo, mas isso lhe trazia a lembrança daquele dia que achou que o conheceria, ou que pelo menos teria um barco para isso. Tinha medo do mar ter engolido suas embarcações nesse tempo todo, com ele junto. 

Um Conto Sobre o Mar, os Barcos Sobre Ele e os Homens Sobre AmbosWhere stories live. Discover now