-22. - digo baixo quase como um sussurro, enquanto ele se encaminha em direção a saída.
-Não entendi. -Ele responde, parando de andar para me olhar.
- Vinte e dois - volto a falar, dessa vez mais alto e com a voz entrecortada pelas lágrimas - foram exatamente 22 o número total de vezes que eu te perdoei, que eu disse "eu te amo" e não ouvi nenhuma resposta, que eu me forcei a acreditar que estava tudo bem, que apenas não passava de uma fase ruim.
-Onde você pretende chegar com isso ? - pergunta ele com uma cara confusa.
- Não sei.- respiro profundamente - Eu juro que eu não sei, possa ser que eu esteja apenas me precipitando, ou que essa seja a escolha mais sensata que eu faço desde que te conheci. - falo enquanto ando de um lado para o outro pelo quarto.
Tenho meus pensamentos interrompidos quando percebo, olhando pela janela, a chuva que está lá fora anunciando a tempestade que se aproxima, e pelo que consigo notar, os meus pensamentos não foram os únicos a serem interrompidos por ela.
Passo, o que eu acho ter sido uns dez minutos esperando por uma resposta, e quando percebo que ela não vai chegar tenho a resposta para a pergunta que há dias consome as minhas noites de sono.
- Hoje foi o dia que eu tomei minha decisão, o dia que eu me afastei de tudo e de todos para ver se valia mesmo a pena...- respiro um pouco - Eu tinha aceitado o seu pedido, eu iria me casar com você.
Primeiro consigo ver um sorriso brotar em seus olhos e depois partir para seus lábios. mais foi só por um instante, nos segundos seguintes vejo seu sorriso sumir, parece que ele repensou sobre a forma que eu falei, tenho a confirmação quando escuto sua voz de choro me perguntar.
- Iria ?... - pergunta, pelo que parece, para si mesmo - Você não quer mais se casar comigo? Porque? Eu te amo !
E finalmente ele disse a palavra que eu sempre quis ouvir, talvez eu tenha superestimado essa palavra mas a sensação que veio com ela não chegou nem perto do que eu imaginava que ia sentir, talvez o meu coração estivesse mais machucado do que eu pensava, e eu sentia que nao iria conseguir ignorar mais as minhas feridas.
- eu não duvido disso - falo, com sinceridade - pena que eu não sou a única pessoa que você ama.- digo liberando um sorriso cansado sem perceber.
- como assim ? - ele pergunta indignado - você não pode tentar medir os meus sentimentos - fala andando de um lado para o outro.
- eu fui no seu emprego hoje, ia te dizer pessoalmente que tinha aceitado me casar.
- foi ? - ele pergunta, visivelmente assustado
- fui sim. Era por volta das 09:30 da manhã, mais eu não te achei, até perguntei por você para uma menina, acho que o nome dela era Agatha, ela disse que você tinha ido pegar uns documentos e que demoraria no máximo uns 45 minutos, até perguntou se eu não queria esperar.
- você esperou ? - ele perguntou
- esperei. deu 10:30 e você não chegou, te liguei e você não me atendeu, decidi esperar para te contar em casa. até que eu, vê que engraçado, senti uma vontade imensa de comprar aquele churros que você tanto gosta, e sabe o que eu vi ?
Pergunto, vendo ele balbuciando a procura de uma resposta enquanto a sua cor ia sumindo gradualmente e se a situação não fosse tão séria. eu, com toda certeza, teria rido bastante.
- Vi a pessoa que, quando o meu mundo desabou, me manteve firme e sã, que disse que não me abandonaria por nada nessa vida, que todo dia tentaria demostrar o amor que tem por mim das formas mais surpreendentes. - digo a última frase com um sorriso banhado pelas lágrimas, e assim como o meu coração, que estava carregado de emoções. A tempestade, que agora já havia chegado, parecia querer acompanhar o ritimo gritante dele a todo custo.
- E eu vi, finalmente consegui ver o quão grande é o seu amor por mim.
Afinal, não tinha como não perceber.
Com você demostrando todo o amor que sentia por mim na boca daquela menina. - falo sem conseguir conter a ironia. - E sabe o que dói mais ? Dói perceber que aquele beijo não parecia, nem de longe, ser o primeiro entre vocês.- E, eu posso não saber como isso começou, na verdade, nem sei se eu quero saber.- respiro fundo- A única coisa que eu quero nesse momento e que você me deixe ir, porque não é justo o que você fez comigo, isso é corvarde e egoísta.
Enquanto isso conseguia ouvir a música ao fundo, que vinha do apartamento vizinho, misturada com o som do temporal que naquele momento pareciam entrar em sintonia, e nunca me senti tão conectado com uma letra de música como me sentia com essa.
" You just want attention, you don't want my heart
Maybe you just hate the thought of me with someone new
Yeah, you just want attention, I knew from the start
You're just making sure I'm never gettin' over you"[ Você só quer atenção, você não quer meu coração
Talvez você apenas odeie o pensamento de mim com alguém novo
Sim, você só quer atenção, eu sabia desde o começo
Você está apenas se certificando de que eu nunca supere você]- Só espero que ela faça por você o que eu aparentemente não pude fazer. - Falei enquanto me retirava daquele apartamento. deixando um Arthuro em meio aos prantos sentado no sofá, e as lembranças de todos os momentos que tive com ele junto com minhas chaves no criado mudo ao lado da porta.
"E de uma forma estranha, consigo achar forças em meio a toda aquela tempestade de sentimentos, como a plena certeza de que dias melhores virão."