Olho para a tempestade que está se passando lá fora, e por força do instinto retiro o celular do bolso para olhar as horas. “Mas que diabos estou fazendo na escola as duas da manhã?” me pergunto em pensamento.
Saio da sala de aula e caminho pelos corredores vazios e sombrios daquele prédio que tanto detestei. Apesar de saber que eu estava sozinho, não conseguia me livrar da sensação de estar sendo observado.
Com a tensão aumentando me direciono mais rápido à porta de saída principal, porém quando chego lá me deparo com uma parede sólida, recém-construída no lugar. Fiquei ali mesmo, apoiado na nova parede que bloqueava minha liberdade, enquanto me perguntava quando e porque a Direção da escola fez tal reforma.
Minutos depois ouço alguns passos atrás de mim, me viro e encontro a silhueta de uma pessoa alta oculta nas sombras, em um canto onde a lâmpada estava quebrada. Pensei que deveria ser o guarda noturno da escola, algum professor que ficou até mais tarde corrigido provas ou qualquer coisa deste tipo.
- Com licença, mas para qual lado fica a saída? – eu pergunto à pessoa caminhando em sua direção.
Então saiu das sombras, com um sorriso sarcástico estampado no rosto, tinha uns 2 metros e pouco de altura, e usava uma longa túnica negra, a sua pele era tão branca que dava para ver as veias azuladas por debaixo dela. Aproximou-se um pouco mais e me encarou com aqueles olhos vermelhos como sangue, segurou meu ombro com força e disse com uma voz rouca.
- Não existe uma saída para você, Alexandro!
Acordei momentos depois em meu quarto ao som do meu despertador.
- Foi apenas um sonho. – digo em voz baixa enquanto dou um leve sorriso de alivio. Apesar de querer continuar deitado, me levantei e fui até o banheiro para lavar o rosto. No espelho o que vejo é o rosto de um adolescente de 16 anos, pele clara e cabelos pretos que pendiam até a altura das sobrancelhas. Ao redor dos olhos havia algumas olheiras, resultado da noite anterior. Fixei o olhar no reflexo de meus olhos negros me fazendo recordar da tragédia ocorrida em minha escola há quatro anos. Logo desviei o olhar e fui me trocar, afinal teria que fazer uma prova de recuperação no fim do mês e esse tipo de memoria com marcas de sangue definitivamente não me ajudaria.
Tomei um rápido café da manhã, enquanto ouvia meu avô jardineiro falar sobre cada ecossistema ser como uma grande comunidade interagindo entre si, ou qualquer coisa do gênero, e minha avó com Alzheimer no outro lado da mesa cantarolando alguma coisa antiga. Despedi-me de meus avós e sai para ir à casa de meu melhor amigo David, que apesar de ser mais novo que eu 2 anos me ajudaria à estudar.
Momentos depois de eu ter saído estava parado diante de uma bela casa pintada na cor turquesa. Toquei a campainha, e momentos depois o portão cinza escuro se abriu revelando Vivian, uma mulher que apesar de ter 47 anos, aparentava ter uns 30 ou menos. Ela usava um vestido sem alças azul escuro que contrastava com sua pele branca e seus cabelos loiros, que com a luz do sol pareciam ter brilho próprio. Seus olhos verdes esmeralda me olhavam em silêncio como se estivesse me avaliando, até que por fim me cumprimentou alegremente e me convidou a entrar.
Tudo que consegui dizer para a mãe de meu amigo foi um “Obrigado” desajeitado. Entrei e segui para o quarto de David que era onde provavelmente o garoto estaria, como todo dia entre as 8 e 10 da manhã.
Parei na porta do quarto que era de tamanho médio. Havia uma cama de solteiro posta perto da janela ao meu lado esquerdo, na parede da porta estava um guarda-roupa pequeno de três portas e do lado oposto uma grande estante com vários livros e outras bugigangas, do meu lado direito uma mesa com o computador, um porta-retratos com a foto da família e uma adaga de vidro. David estava sentado em uma poltrona verde-escura, posicionada no centro do cômodo e lia distraidamente um livro de aparência velha.