Voltar ao 221B da rua Baker era difícil, na verdade John nem tinha a intenção de ir, estava voltando do trabalho, Mary tinha ido à igreja, ele pegou um táxi e se viu dando seu antigo endereço ao taxista. John não pensava mais em Sherlock, não, ele não se atreveria a isso depois de dois anos e estando noivo, não podia pensar nele porque tudo voltaria a ser uma droga se pensasse. Absolutamente nada havia mudado na porta preta com números dourados. Nada. O primeiro "2" ainda era mais inclinado para a esquerda, ainda havia uma mancha verde no degrau da entrada, a mesma fechadura arranhada desde a primeira explosão causada por Moriarty e ainda havia uma pequena parte de tinta descascada próximo ao batente que parecia intocado há pelo menos três dias. É, depois de morar tanto tempo com Sherlock Holmes, o doutor Watson tinha se tornado muito observador, aprendera isso com seu amigo. Seu melhor amigo. A pessoa que ele amava e que agora estava morto. John tentou pensar nos motivos pelos quais estava ali agora, parado e imóvel olhando para a porta de um lugar do qual ele sentia falta, mas parecia incompleto sem a presença dele.
Ele não tinha motivos para estar ali, fora uma escolha inconsciente de lugar. John sabia que queria entrar, mas também sabia que se entrasse, e não encontrasse seu amado Sherlock Holmes sentado na sua poltrona com o rosto coberto pelo jornal a procura de um caso para não ficar entediado, a dor da perda voltaria com força total. John só podia estar louco para ter voltado à rua Baker, ele não podia mais amar Sherlock, não, ele não o amava mais. Ele tinha um emprego novo, uma vida nova, e uma mulher que amava e com quem pretendia se casar. Nem a si mesmo ele conseguia convencer, durante os primeiros meses após a morte de Sherlock, John sentiu seu coração completamente em pedaços, e quando se convenceu de que não haveria um milagre, de que Holmes realmente estava morto, tentou empurrar todo aquele sentimento para o mais fundo que seu coração podia aguentar, porque ele não podia amar Sherlock Holmes por dois motivos. Um: nunca seria correspondido, pelo menos não da mesma maneira; Dois: Ele estava morto, tinha tirado a sua própria vida a troco de nada. John nunca teria se importado com o que todos diziam. Teria continuado ao lado dele mesmo que fosse de fato uma fralde.
- Você vai entrar? Ou vai ficar aí parado a noite toda? - Uma voz grossa, mas aveludada, relativamente calma e claramente bem humorada perguntou.
John conhecia aquela voz. Reconheceria em qualquer lugar do mundo, mas não podia ser real. No início, ele ouvia a voz de Sherlock em todo o lugar, talvez voltar ao 221B estivesse deixando ele louco outra vez. Quando se virou para ir embora não acreditou no que viu. Era ele, Sherlock Holmes, parado bem ali em sua frente, vestindo terno e seu habitual casaco com a gola levantada, os cabelos escuros e cacheados estavam três centímetros maiores do que o da última vez, ele havia feito a barba recentemente, o cheiro do creme de barbear ainda estava presente. Os lábios finos e bem desenhados contorcidos em um pequeno sorriso e havia mais brilho nos olhos azuis claros dele. John não soube o que fazer, talvez tivesse enlouquecido de vez, talvez o choque de voltar à rua Baker tivesse sido muito grande, mas aquilo certamente não podia ser real. Sherlock estava morto há dois anos, John o tinha visto pular e tinha total certeza do que viu.
- Eu previ dezessete reações, choque era a última delas. Mas considerando sua expressão assustada e os dois passos que deu para trás eu diria que você acha que está ficando louco, tem um frasco de ansiolítico no seu bolso direito, você não tinha ansiedade dois anos atrás, quer dizer que desenvolveu depois da minha morte. E antidepressivos no bolso de dentro do casaco o que pode levar você a pensar que é efeito dos remédios. Você já teve alucinações comigo, não teve? Se sim, saiba que não sou mais uma delas. Versão curta: Eu não estou morto - Sherlock sorriu ao terminar. Até levar um soco na boca.
- Oh meu Deus... Você... você está mesmo aqui, está vivo, você... - John não sabia o que dizer, nem como agir.
Sherlock levou uma das mãos até a boca, limpando um pouco de sangue do pequeno corte no lábio inferior. Apesar do soco, que era uma reação esperada por ele, Holmes estava feliz por finalmente poder olhar para John, os cabelos loiros arrumados do mesmo jeito de sempre, os olhos azuis confusos e a boca aberta. Sherlock tinha perdido as contas de quantas vezes havia sonhado com o rosto de John em todo aquele tempo, com o som da voz dele e com sorrisos, sorrisos dele. Não havia nada no mundo que ele gostasse mais do que o sorriso de John, mas sabia que demoraria a ver um novamente. Sentia tanta vontade de tomá-lo nos braços e nunca mais deixá-lo ir, de agarrar John ali mesmo e finalmente descobrir qual a sensação de ter seus lábios juntos.
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Just One Kiss
FanfictionDois anos se passaram desde a morte de Sherlock, e mesmo assim, John se vê parado em frente ao 221B da Baker Street. Oneshot | Plágio é crime