b e c a u s e. . . | único, e partido

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Ela a chamou para tomarem um chá e para conversarem sobre qualquer coisa. Seulgi foi.

Se perguntaram sobre "o nós", e eventualmente a morena contaria da dor que ela sentiu vê-la indo embora com aquela pessoa. Quis que Joohyun sentasse para escuta-la (o que raramente acontecia quando Seulgi tinha muito o que falar), mas Seulgi garante: a dor de perder quem se ama não é fácil.

Em uma das vezes, os olhos daquela que a ouvia foram ficando opacos. Ou o dela mesmo que perderam o brilho num desses momentos de descontração?

Seulgi sabia que ela não voltava mais. Não pediria mais para ela voltar. Não quando esta parecia feliz com um carrinho de bebê ao lado e um esposo bonito, com quem dividiria uma vida.

Mas pedia, no fundo, que a mesma não esquecesse do quanto Kang a amava. Das voltas que ela daria no mundo para fazê-la sorrir. Do carinho. Só sentimento que a morena tinha quando a via chegando perto de si. O sol daquela tarde no parque. As festas que foram salvas por uma noite de conchinha.

Lembrava de quando Joohyun dizia que nunca havia sentido nada igual. Que o "nada igual" significava que aquilo era uma experiência nova. Perigosa, mas renovadora. E Seulgi gostava de ouvir tudo, com o típico sorriso bobo no rosto. A Bae insistia de como tudo aquilo soaria péssimo aos olhos dos outros. Elas riam. Bem, acabava em sexo.

Mas Seulgi sabia que era mais que isso. E dificilmente alguém encontrava esse tipo de conexão, né? Às vezes. Só as vezes ela se pegava procurando em algum canto da cabeça, lembranças para sentar, reviver os momentos, e chorar.

Kang só sabia dizer "por quê?"

- Porque não foi pra ser. - Joohyun respondia.

Mas para Seulgi, era pra ser. Sempre foi. Mas apesar de querer dar um "pause" na dor, ou um "replay" nas lembranças, ela também pedia que Bae não voltasse mais.

- Para quê viemos aqui exatamente? - Bae indagou, dando o típico meio sorriso que fazia tanto cara cair encima.

- Você me convidou. Para sei lá o quê, tocar na ferida talvez?

- E falarmos sobre o passado?

Kang curvou os lábios, deixando a xícara de chá sobre a mesa. Olhou fixamente nos olhos dela, e suspirou, dando o melhor para imitar aquele sorriso.

- Sabemos que não. Acho justo parabenizar o momento feliz de vocês. Aliás, ele é o meu irmão. E este no seu colo, meu amado sobrinho.

Elas ficaram em silêncio. Estava tocando uma música dos Beatles, uma que que Jimin havia lhe indicado, e que também havia chorado consigo na madrugada em que morena ficou pensando no par de chifres que havia levado antes de dormir (ela nunca havia chorado assim antes. Até mesmo quando via seu pai traindo a sua mãe com a empregada, e sua mãe traindo o seu pai com o seu tio).

E Seulgi jogou a granada, que cedo ou tarde, explodiria.

- Vale a pena com ele? - ela alfinetou, sentindo aquela pontada familiar no peito.

- Ouça, pessoas precisam crescer. Esqueça o passado, Seulgi. Viva o presente!

- Quanto egoísmo.

- Não vejo como egoísmo. É simplesmente uma forma de escape. Sabemos que o que tínhamos, não iria durar.

- Ia durar. - Seulgi afirmou com a mais certeza absoluta do mundo. Sentiu a garganta apertar, e quis chorar. - E se eu te disser que é difícil pra mim?

- É difícil para mim tanto quanto é para você.

- Que puta clichê... - riu, pesando a ironia em sua voz. - Você é egoísta, Joohyun. Sempre foi. Narcisista, egocêntrica, ambiciosa.

- Me ofender não me fará mudar de ideia sobre o meu casamento. - Joohyun arqueou as sobrancelhas. - Apenas pare, Seulgi.

- É que eu não consigo entender...

- Não entenda. Apenas.

Mais uma vez, o silêncio prevaleceu. Mas não tanto, até que a morena decidiu abrir a boca mais uma vez.

- Se arrepende?

- Me arrependo de muitas coisas na minha vida. Das que fiz, das que deixei de fazer. Mas se estiver se referindo a você, eu lhe digo que não. Fui feliz com você Seulgi, mas agora estou sendo feliz com ele. Temos um filho. De forma alguma, isso que tivemos deveria ser visto como algo normal.

- Eu sempre soube que tem uma mente pequena, Joohyun. - ditou Kang, profundamente decepcionada.

- Não me insulte. São apenas... fatos. Não vivemos num conto de fadas barato, onde tudo o que queremos dá certo. Essa é a vida, as coisas são reais, temos escolhas, caminhos errados ou certos a seguir.

- E você seguiu o seu sem ao menos se importar como eu ficaria?

Joohyun sorriu.

- Acredite, foi uma escolha inteligente.

Seulgi no fundo, mesmo se quisesse, também repetia em sua mente para que Joohyun não voltasse nunca, nunca mais. Porque apesar da saudade ardente e viva no peito, e de cogitar o apelo pedindo para que aquele sorriso voltasse a iluminar seus dias, ela também carregava consigo as profundas marcas que certamente nunca iria esquecer.

- Mas por que justo com ele?

Bae Joohyun, a mulher do sorriso doce, abraços quentes, beijo intenso, aquele quem amou Seulgi um dia, apenas levou a xícara à boca. Os olhos totalmente frios.

- Porque foi pra ser.

E assim, ela foi para casa. Com os sentimentos de um peso de um martelo. Quebrados; destroçados. Qual era o peso de um coração partido, afinal? Seulgi podia jurar que era a pior sensação que podia se sentir na vida. Como se estivesse sumindo aos poucos dentro da névoa, ou como se um buraco negro tivesse sido aberto dentro do peito. Chorar parecia ser a última coisa a fazer, no fim das contas. Chorar nunca era o de menos.

Mas ela não iria mais chorar. Mesmo que os olhos ardessem e algumas lágrimas teimosas escapassem, não iria piorar. Aquela era a última conversa, último olhar, último toque. Mas nada que merecesse seu total desespero.

Sabia que seus olhos nunca passarão por ali, assim como sabia que sua boca nunca mais ia chupar seu pescoço enquanto sua coxa entre as pernas de Joohyun a fazia entender porque não resistiram mais um pouco. E o porque o relacionamento se liquidificou e aquele amor fodeu com Seulgi - não do jeito que ela pretendia.

Mas era melhor assim. Ou talvez estivesse se convencendo que seria.

Porque pessoas, querendo ou não, são cruéis. E mesmo se perguntando por que alguém faria isso, ou negando com todas as forças que esse alguém não faria, Kang Seulgi afirmava, sim. Esse alguém faria.

Porque trair é tão natural quanto não parece ser. Mesmo com os sentimentos mais profundos e sinceros de uma pessoa, a carne é fraca, e de qualquer forma, a ambição é maior.

E porque trair é o que as pessoas fazem.

end -

life is such a cliche | seulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora