Vocé me olha como um animal
olha para uma floresta em chamas. Fita meu sorriso
de um milhão de interrogações e escarra o desejo de
me encarcerar para sempre num quarto sem janelas,
onde minha alma morreria aos poucos, sufocada por
um amor que nunca compreendeu minha
necessidade rodopiar céu afora. Eu te amo, porém,
existe algo no meu peito que enlouquece a qualquer
sinal possessivo. Uma espécie de demônio nômade
que não aceita ser preso por alguém. Eu tenho o dom
de me sentir preso em determinadas multidões e de
me sentir livre na mais completa solidão. Eu nasci
amaldiçoado a flertar com a liberdade até o fim dos
meus dias. Fodo incessantemente com as estrelas e
com cada raio de sol que me beija, num louco
ménage de emancipação e glória. Perdoe-me, meu
amor, porém, eu não posso decorar a sua estante
egoísta de amores doentios. Vivo numa dualidade
dilacerante: Feliz por te abrigar no meu cais, porém,
triste por te ver se perdendo no meu caos. Se eu
partir, saiba que vai doer em mim. Porém, entenda
que doeria muito mais ser infeliz à sombra do seu
ciúme, das suas cobranças e da sua tola mania de
me querer numa garrafinha de vidro. A liberdade
sempre será o meu grande amor. Há tempos eu
rasguei a minha carta de alforria e tornei-me meu
próprio escárnio de não ser de ninguém. Então, vocême diz: "Tá certo, você é livre para fazer suasme diz: "Tá certo, você é livre para fazer suas
escolhas, mas deverá arcar com as consequências!"
Meu bem, ser livre é consequência de fazer as
próprias escolhas. Bom, eu sou assim, refém de algo
maior do que eu. Um orgasmo errante fecundando o
eterno a céu aberto. Poeira de estrela, viajando em
repouso em boatos tímidos de que existe amor a mil
léguas daqui.