Adeus aos que ficam

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Rian está de pé em minha frente. Eu estou sentado sobre a bancada da pia e ele faz um curativo num pequeno corte que fiz em alguma das quedas que levei. Rian parece diferente e eu estranho isso, ele parece mais prestativo, gentil, menos egoista e... Mais amavel.

Visto o uniforme de futebol dele, que estavam dentro d seu armario no vestiario.Ficaram grandes, mas ao menos estão secas e limpas. Ainda estou usando a mesma calça, pois a dele seria grande demais, a camisa é azul com branca e cai até quase os meus joelhos, as mangas também passam dos cotovelos e me sinto ainda menor vestido assim. Ele sorri enquanto limpa o ferimento e brinca que estou ótimo.

Este é um Rian que eu definitivamente não conhecia, talvez ninguém conheça. Um rian que não quer sair por aí batendo nas pessoas, brigando com os professores ou gritando no corredor. Seus olhos verdes estão sorridentes, me sinto bem com sua nova versão. Sempre tive uma quedinha pelo ogro, agora que o ogro se tornou principe, quem sabe eu não me apaixone.

Sorrio com o pensamento.

- O que foi? - Ele me olha docilmente.

Fico sem graça. Não sei como agir em relação a essas coisas.

- Não... Foi... Nada. - Me embolo ao responder.

- Então por que você está corado? - Ele sorri de canto e isso me encanta.

- Eu não estou corado. - Digo nervoso.

- Está sim. - Ele se aproxima e eu não sei o que fazer. No mais profundo dos meus desejos eu queria que ele me beijasse, quem não quer um beijo dele, o grande astro do time de futebol e um dos garotos mais bonitos da escola. Mas não acho que essa seja a sua intenção, afinal, o que ele iria querer comigo?

- Por que está agindo assim? - Tento mudar de assunto. Não quero alimentar uma experança em vão.

- Assim como?

- Você ainda não brigou e nem chingou ninguém, nem mesmo o Néd.

Ele olha para baixo e depois para mim novamente. Sua expressão é suave e apaixonante, devo confessar.

- Eu não cho que ficar alfinetando as pessoas vai ajudar nesta situação. - Ele responde com segurança. - E acredito que Néd é uma das pessoas mais centradas e racionais desse lugar. Não é do tipo que sai fazendo as coisas por impulso igual a mim, então é bom tê-lo como aliado.

Assinto. Faz sentido.

- Falando em agir impulsivamente, que idéia maluca foi essa de sair correndo pelo corredor?

- Agente não tinha muitas opções.

Ele termina o curativo e eu desço da bancada e me sento no banco. Ouço um gemido vindo do outro lado do vestiário, aonde Néd e mais uma garota estão fazendo um curativo no ferimento de Erick.

- Nós pensamos que você tinha morrido.

Sorrio.

- Vaso ruim é dificil de quebrar.

- É sério, ficamos preocupados, Néd principalmente.

Por que raios Rian ficaria preocupado comigo?

- Obrigado, eu acho. - Digo sem saber o que fazer.

- E quanto ao Erick, como ele se machucou?

Rian encostado na pia, com esse corpo grande de braços crusados e conversando comigo é uma coisa que eu jamais imaginei que um dia iria acontecer. Raramente eu tenho vontade de estar perto das pessoas, vivo no meu espaço e isso é o suficiente pra mim, as vezes dividir meu tempo com alguém é um grande pesadelo, uma vez que eu raramente consigo acompanhar as emoções e ideias que os outros estão tentando me transmitir. Mas quando o assunto era Rian, as coisas mudavam um pouco de direção. Ele é o tipico garoto que agente sabe que não vale a pena, mas que mesmo assim quer estar perto. Eu não diria que dividiria todo o meu tempo com ele, mas com certeza se ele quizesse, me esforçaria para tentar dividir uma boa parte.

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