A jovem piloto se olha no grande espelho do quarto quase não reconhecendo a mulher de olhos âmbar que retribui sua mirada no espelho. Seus cabelos, agora cortados rentes à cabeça, estão mesclados com mechas bem claras, de um loiro quase platinado.
O terninho preto com a insígnia da OCRV também não remete em nada à mais jovem e condecorada piloto da Organização.
Ela para de se olhar com indignação e termina de colar as unhas postiças nos dedos.
Duas batidas na porta anunciam a chegada de alguém.
Daniel.
Ou melhor, Augustus. O jovem responsável por toda aquela encenação. A pessoa que, com seus contatos, conseguiu infiltrar seis pessoas na rede de segurança mais reforçada do mundo atual.
Como se fosse difícil de adivinhar.
Quem tem network, tem tudo.
Ela abre a porta para ele e se vira sem dizer uma palavra, caminha até a cama e se senta na ponta, soprando as pontas dos dedos que ainda estão com a cola pouco úmida.
— Ash, está se adaptando bem ao treinamento de agente? — O garoto agora parece ter envelhecido alguns anos, e um início de ruga nasce em sua testa.
— Sim — ela responde, estendendo as mãos. — Mas preciso lhe confessar que gosto muito mais das mordomias, olha essas unhas!
Ele fecha a porta e vai até o parapeito da janela, olhando a noite alta que corre do lado de fora.
— Você leva tudo na brincadeira...
— E você não? Daniel, se você ficar preocupado o tempo todo, mais dia menos dia eles irão nos descobrir. — A garota, em seu salto mal ajustado, caminha até a janela e pousa a mão no ombro dele. — Tom tem me dito que as coisas não estão fáceis lá na sede.
De súbita resposta à menção daquele nome, o jovem rapaz com os cabelos alisados se vira e encara com seus novos olhos azuis a menina que parece diminuir de tamanho.
— Quem lhe disse o que?
Daniel nunca havia gostado de Ashton, por saber desde sempre que ele pendia para o lado da maldade e arrastava consigo a irmã.
A piloto, por sua vez, dá alguns passos para trás e gagueja as palavras, sem entender muito a repulsa de Daniel por seu irmão.
— E-Ele entrou em c-contato... — a saliva desce seca por sua garganta que parece se fechar, milímetro a milímetro, impedindo-a de proferir palavras — Nos s-sonhos... E-e...
O rapaz passa a mão na testa, limpando uma gotinha de suor que surge.
— Quantas vezes eu avisei para não falar com ele, Ash? — A voz mansa do agente sempre foi capaz de acalmar os ânimos mais aflitos. E com aquela sedução nata em seu timbre, ele começa seu jogo persuasivo. — Ele está corrompido, Ash. Você melhor que ninguém sabe.
— Desculpa, Da-danny... — O arrependimento bate na sua consciência como uma adaga cravada em carne fresca. E a culpa ainda recai em seu âmago. — Não é algo que eu possa controlar. Quando nós pensamos muito um no outro, acabamos entrando em ligação.
Então ele respira fundo e diz:
— Não me chame de Danny aqui. Precisamos de cautela, apesar de tudo. — Ele se senta na cama e faz menção para que ela se sente ao seu lado. Quando ela o faz, ele pega a mão dela entre as suas e diz: — Não podemos confiar no seu irmão, Ash. Infelizmente, é um fato com o qual temos que aprender a lidar.
— Ele é meu irmão. — As lágrimas de raiva brilham nos cantos dos olhos dela. — Ele quer saber onde estou e como estou.
Então, naquele momento, ela se sente de novo como quando era criança. Quando Ashton, por todos os motivos à impedia de tomar decisões importantes. E relembra todas as frases ditas em sua cabeça. "Mulheres como você nunca chegaram a lugar algum". "Se fosse para você tomar as rédeas, você seria o homem". "Você não vê que é frágil e sensível demais para nos guiar?"
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Wanted
Science FictionSAGA INFECTED - LIVRO 2 Depois de serem recrutados, manipulados e utilizados como marionetes pela OCRV, os sete jovens agentes encaram os desafios e partem em busca da verdade. E agora, sendo alvos da mais poderosa organização mundial. Embora tenh...