– Mas que porra é essa aqui?! Eu não já disse que não podemos ter quatro de alguma coisa perto? Dá azar! Tragam mais uma xícara!
Secretamente – ou nem tão secretamente assim –, Leone capturou uma garrafinha de rum do bolso da calça, despejando na xícara próxima a ele. Não estava disposto a gastar tudo, então colocou apenas um dedo, se recostando na mesa logo em seguida. Coragem. Estava perto demais dos outros membros, era arriscado.
– Wah, eu não estou a fim de estudar hoje. Não podemos pular isso? Tô de saco cheiooo.
Fugo afundou a cabeça de Narancia tão forte na mesa que o bule de chá quase escorregou para o chão.
– Seu bastardo idiota! Como pode dizer uma coisa dessas quando eu estou me esforçando ao máximo para te ajudar?! – a voz estridente de Fugo queria perfurar os tímpanos de Abbacchio. Assistindo em silencio a briga dos pirralhos, aproveitou o momento para colocar mais bebida na xícara. Não sabia como havia sido ingênuo ao pensar que aguentaria as pontas com apenas um dedo de álcool. – Você vai refazer essas merdas de cálculos, Narancia, ou eu vou enfiar uma faca no seu olho!
Ele aguardou outra vez. Poderia se aproveitar dos puxões de cabelo e ameaças com talheres para beber um pouco? E se Buccellati chegasse?
– Mas que droga, lá vai o Fugo surtar outra vez. – Mista depositava uma xícara na mesa, sentando em seguida. – Cadê o Giorno?
– Tomara que no inferno. – deixou escapar, recebendo um olhar atravessado de seu maior admirador secreto, ou nem tão secreto já que todos sabiam de sua monumental queda pelo pirralho. – Eu não sei, mas cale a boca.
– Ok, ok, chega, Fugo, você tá me esmagando! Quer sentir o poder do meu Aerosmith?! – Narancia se pôs de pé, os punhos em posição de luta. Estava arranhado e sangrando; como sempre o resultado de alguma lição de matemática com Fugo. – Aposto que ele vai te encher de balas mais rápido com que fez esses furos na sua roupa, idiota.
– Tenta, eu quero ver vencer o Purple Haze!
– Parem de brigar, não sejam uns pés no saco logo cedo. – Mista disse sem vontade, revirando os olhos. Fugo cuspiu sangue no chão e sorriu, presunçoso e um tantinho insano. Leone despejou a garrafinha inteira na xícara.
Ok, ele era totalmente ingênuo. Estava na esperança de que poderia ter uma manhã silenciosa e suportável, porque agradável soava uma palavra boba para seu vocabulário. Viver com um bando de adolescentes idiotas não tornava nada agradável.
Começando a ficar deprimido, segurou a xicara e fez menção em beber o liquido quando ouviu um barulho de zíper deslizando ao lado de sua cadeira. A brisa do perfume de Buccellati o fez parar.
– Nem pense. – o homem sussurrou na altura de seu ouvido. Leone lutou para não jogar o conteúdo na cara do chefe. Buccellati virou a cabeça para a confusão. – Ok, vocês! Parem com isso, agora!
Ele quis revirar os olhos. Se falasse algo do tipo, seria como "Leone é uma espinha na bunda, sempre mal-humorado e turrão", mas com Buccellati, todos se calavam. Ele exalava disciplina, liderança e poder.
– Desculpa aí, Fugo. – Narancia coçava a cabeça, se aproximando da cadeira. – Eu vou me esforçar mais, juro.
– Desculpe também, cara, não foi por mal que eu bati sua cabeça na mesa. – Fugo sorriu para Narancia, também ocupando um lugar na mesa para o desjejum.
– Ah, Giorno! – Mista se levantou como se comtemplasse uma obra renascentista de pé. Abbacchio quis se enforcar com a cena.
– Bom dia a todos. – maldito Giorno e sua aura reluzente. Todos experimentando a desgraça matinal, e lá estava ele com o irritante sorrisinho de alguém que havia feito sexo a noite toda. Pela cara dele, fazia sexo a cada instante do dia. – Oi, Mista.
– Bom dia, Giorno. – Buccellati sorriu. – Chá?
– Sim, por favor.
– Eu sirvo!
Seu desgosto só piorava. Depois de alguns segundos ainda registrando que não poderia mais beber por causa do capo, Leone suavizou sua expressão ao observar Bruno e sua gentileza suave, assemelhando–se a um mágico; hipnotizando e torcendo seus comportamentos animalescos nos dedos. Sua voz parecia ter dados tranquilizantes. Apesar de encontrar um substituto à altura – o maldito pirralho também tinha suas técnicas irritantes de persuasão –, ainda era de Bruno a total atenção e lealdade da equipe. Bastava um aceno, e todos mergulhariam pelados num lago de lava escaldante. Droga, por Buccellati, Abbacchio iria sorrindo.
Com Bruno, as coisas se tornavam agradáveis. E estava sentindo o estomago afundar de paixão por ele.
Sendo o pai que era, Buccellati notou as caretas de Abbacchio ao seu lado, movendo os lábios silenciosamente como se quisesse dizer alguma coisa. Sorriu. Ele era a definição de rabugice, e se tornava até divertido observa–lo.
– Vai precisar mais do que isso para abrir um buraco na testa de Giorno, Abbacchio. – seu sorriso alargou com a careta de desprezo do homem, que para disfarçar, raspou a mão no ombro para afastar o cabelo. – Ora, vamos, não faça essa cara. Quer um dia de folga?
Abbacchio o encarou, sem saber se poderia ou não levar a sério o que ele dizia.
– Não tenho nada pra fazer. – respondeu seco, pegando a xícara outra vez. Dando um gole, torceu o nariz para o gosto de camomila invadindo seu paladar. Ao seu lado, Bruno simulou um brinde, levando o rum aos lábios. A boca de Abbacchio secou. – E de qualquer forma...
– Hum? – Bruno deixava a xicara na mesa com calma, como se não tivesse a roubado do subordinado. O outro parecia hipnotizado. – Nossa, essa é boa. Enfim, o que dizia?
– Estava dizendo que... que não tenho nada melhor para fazer, prefiro te ajudar em alguma coisa, que seja. – ele lutava muito para manter a compostura. Como seria um beijo vindo daqueles lábios cheios de rum? – Se não for incomodar.
– Humm... – emitiu algo como um gemido, pensativo e dobrando o cotovelo na mesa, apoiando a cabeça nela. – Seria bom.
Seria bom, Abbacchio repassou em sua mente, quase num estado de orgasmo mental. Ele disse que seria bom. Seria bom, seria muito bom. Assentiu, um tanto letárgico.
– É.
Bruno voltou a encostar as costas na cadeira, refletindo um pouco antes de levantar e em seguida, se aproximar dos ouvidos do subordinado.
– Se for beber, que seja em companhia de seu capo, não acha? – Abbacchio arregalou os olhos, a ponto de ter um aneurisma. Seu chefe pousou graciosamente uma mão em seu ombro. – Venha mais tarde ao meu escritório, Leone.
E do mesmo jeito gracioso e arrebatador que chegara, Buccellati se afastou. Era daquele jeito que as coisas funcionavam, afinal. Dê ordens com sua voz orgástica, veja todos se curvarem como cachorrinhos e saia sem mais nem menos, deixando no mínimo uma ereção nos corações mais desavisados.
– Galera, é isso que tô vendo?! – Narancia engasgou com o bolo. – Abbacchio tá sorrindo feito um idiota!
– E ele tá mesmo!
– O que deu nele?
– Tsc. – Giorno não era idiota. Sorveu um gole de seu chá, observando o membro mais velho. – Deixem ele, pelo visto parece ter sido o Buccellati.
Abbacchio fechou a cara na hora. Maldito pirralho sabichão.
*Caporegime / capo é o nome dado ao capitão/chefe numa hierarquia da máfia.
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Morning
RomanceUma das várias manhãs onde Abbacchio e sua rabugice natural tem sérios problemas com a configuração matinal da Passione. [BruAbba]