album 3, track 14.

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Abri a porta de sua sala e entrei sem receber a confirmação de que eu poderia fazer isso. Desde casa, eu parecia um furacão. Nunca andei tão rápido em toda a minha vida.

John, meu terapeuta, me encarou.

- Eu descobri – falei, ofegante, quando sentei no sofá a sua frente.

- Bom dia, Leah – sorriu amigavelmente.

- Eu descobri – repeti. – A peça faltando no quebra-cabeça.

- Me conte o que descobriu – encostou-se na sua poltrona e cruzou os braços.

- Por onde começo?

DUAS SEMANAS ANTES

- Bom dia, Leah – ao passar pela porta e entrar em sua sala, ouço sua serena voz. Ele me recebe com um sorriso caloroso, como em todas as seções, desde a primeira.

- Bom dia, John – sempre faço o possível para mostrar que estou bem, começando por um sorriso. Sorrisos conseguem convencem a nós mesmos de que estamos bem.

Meu terapeuta me esquadrinhou por inteira, como sempre faz. Como já estou acostumada com isso, não dei importância e sentei-me no sofá a sua frente.

- As crises diminuíram? – perguntou, depois de um tempo.

- Sim. Quero dizer, não estou tendo tantas quanto antes.

- Isso é bom.

O silêncio que habita aquela sala é matador. Eu, particularmente, sempre odiei silêncios constrangedores e qualquer tipo de coisa que envolva ficar parada sem fazer nada, por isso, começo a mexer na manga do meu moletom.

- Continua pintando?

- Sim. Comprei algumas telas novas esses dias, estou progredindo.

- Está inquieta de novo – comentou.

- Já se sentiu como se não fosse bom o bastante pra alguém? – encarei-o, o mesmo largou a caneta e me encarou de volta.

- Em qual sentido?

- Todos – respondi imediatamente. – É como se tivesse algo faltando em mim que precisasse ser completado, entende?

John simplesmente levantou-se de sua poltrona sem dizer nada, me deixando um tanto irritada. Já não é a primeira vez que ele faz esse tipo de coisa. É um método, segundo ele, para os pacientes se sentirem confortáveis para desabafar.

No meu caso, isso só piora minha situação.

- Me sinto vazia por dentro, às vezes. É como se nada mais me encantasse. Nem livros, nem músicas, nem nada. Sinto como se só estivesse existindo, não vivendo de verdade.

Mais um silêncio constrangedor.

- Desde sempre eu fui assim. Achava que qualquer pessoa era melhor do que eu em todos os sentidos possíveis. Nunca me achei o suficiente pra ninguém.

Ele volta a se sentar na poltrona com um saquinho azul na mão.

- Sua lição de casa é montar esse quebra-cabeça – franzi o cenho e perguntei o que? para confirmar se havia entendido certo. – Você vai montar esse quebra-cabeça em sua casa.

Terapeutas e seus métodos completamente malucos de nos fazer pensar sobre a vida.

- E no que isso vai me ajudar? – peguei o saquinho e guardei-o em minha mochila.

When You're Ready.Where stories live. Discover now