Capítulo Único

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Os dedos entravam pelos fios dos cabelos castanhos e massageavam a nuca. Era um toque calmo e até preguiçoso podia-se dizer; contudo, era suave, gentil e trazia um conforto que há muito Asahi não sentia dentro daquela quadra.

Deitado sobre o peito de Nishinoya, assistiam, ou melhor, ouviam, um dos treinos após o horário de Kageyama e Hinata. Havia virado um hábito sentarem-se perto da parede para descansar e se perderem admirando a sincronia dos parceiros de time. Entretanto, naquele dia, Nishinoya havia deitado exausto no chão e Asahi o acompanhou, deitando-se primeiro de forma cruzada sobre a barriga do líbero apenas para fazê-lo rir e, depois, subindo e repousando a cabeça sobre o peito dele.

Suspirou, cansado, deixou uma pequena exclamação deleitosa sair pelos lábios ao sentir o elástico que prendia seu cabelo sendo solto e, embora não fosse nunca admitir por pura vergonha, ronronou quando os dedos de Nishinoya voltaram com mais liberdade para o terno carinho que lhe oferecia.

Fechou os olhos sem perceber. Ouvia as bolas cortadas por Hinata, mas agora sua atenção toda estava centrada em outras batidas... O coração de Nishinoya, sob sua orelha, batia rápido, o que ele sinceramente não estranhava. O líbero era uma tempestade, um furacão, nunca que pensaria em encontrar um coração calmo e lento. Era forte, o suficiente para bater mais alto que as bolas no chão, como se reclamassem pela atenção que Asahi não lhe estava dando. E era vivo, fazia Asahi se sentir vivo, como sempre fazia, como sempre tinha feito.

E não era esse o dom de Nishinoya? Ah, sim...

Abriu os olhos, sonolento já, e corou. Viu o outro com os olhos fechados, um sorriso bobo na face, mas sabia que ele não dormia pelo contínuo cafuné que recebia. Moveu-se minimamente para olhar ao redor, buscando os outros, mas, como sempre, só restavam eles, Kageyama e Hinata. Assim, ergueu a mão com hesitação, a ponta dos dedos demoraram até encontrarem a pele lisa da face alheia e foi com timidez que acariciou a bochecha de Nishinoya.

Já havia feito aquilo uma vez, na semana anterior, e tinha gostado de como o corpo sob o seu havia relaxado com o toque. Era simples, discreto, mas tinha esperado que aquilo pudesse mostrar parte do que seu coração sentia. Como se alguém tão agitado e barulhento como Nishinoya fosse reparar e compreender de primeira algo assim... Não tinha coragem, todos sabiam que era um medroso de primeira e que seu nervosismo e sua ansiedade quase sempre botavam tudo a perder. Então, só daquela vez, torcera para que o parceiro de time se atentasse aos detalhes tal como fazia com a bola para uma recepção pós bloqueio, mas Nishinoya não pareceu notar nada, agiu na semana seguinte como sempre, o que, claro, fez Asahi quase surtar de ansiedade em segredo com Sugawara.

Suspirou. Conforme o polegar deslizava pela bochecha de Nishinoya, os músculos dele cediam, relaxavam, como se finalmente ele baixasse a guarda. Sentia um arrepio percorrer suas costas quando os dedos em seu cabelo acabavam por puxar as mechas um pouco e percebeu que agora Nishinoya seguia o ritmo de sua carícia.

Engoliu em seco, os olhos pousaram sobre os lábios do líbero, fechados, aparentavam serem macios e o convidavam a conferir isso. Queria, mas nunca se atreveria... sentiu o próprio coração acelerar e se segurou para não deixar que a respiração saísse do controle. Entretanto, os dedos o desobedeceram, eles deslizaram pelas bochechas e, então, tocaram os lábios rosados.

Mas o que estava fazendo?

Arregalou os olhos, a respiração de Nishinoya havia ficado mais lenta, forçadamente mais lenta, e o coração, Asahi podia ouvi-lo bater mais rápido e forte. Ainda assim, Nishinoya mantinha os olhos fechados, a postura um tanto quanto rígida, as mãos paradas na nuca de Asahi. Os dedos não se moviam, permaneciam entre os fios de cabelos, mas demoraram até voltarem à carícia e, dessa vez, faziam-na mais lentamente.

O gosto que a coragem trazOnde histórias criam vida. Descubra agora