29º Capítulo

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Victória P.O.V

O meu mundo parou quando vi a minha mãe naquele estado e congelei ao saber que era por minha causa, que era por causa de uma paixão adolescente minha, tal como ela descreve todas as minhas poucas e curtas relações, e esta não iria ser diferente. Da minha garganta não saia uma única palavra de defesa, nada vinha de mim. Estava parada a olhar o seu rosto inchado e vermelho, os seus olhos castanhos cheios de dor e desilusão, a sua face transparecia o nojo e desprezo por William e por mim.

Como fomos capazes de tal coisa?

Ambos sabíamos que este dia iria chegar. Quero dizer… Sabíamos? Eu acho que no fundo, ambos esperávamos que isto continuasse por mais algum tempo e depois chegasse o fim, como tudo na vida. Provavelmente é o que estávamos ambos a pensar e, em parte, é a razão do nosso choque.

O movimento subtil dos meus olhos, agora pesados e molhados, pousou na rapariga de estatura alta com um rosto familiar, que estava, agora, ao pé de nós com o olhar baixo. As suas mãos agarravam o tecido das suas calças, rasgando ainda mais o tecido das mesmas. O meu maxilar contrai-se ao detetar uma pasta com fotografias minhas e do Will, foi ela quem causou isto tudo.

Um déjà-vu passou-me pela mente, causando-me pequenas e breves tonturas, e reconheci logo aquela mulher. Os meus olhos abrem-se ainda mais e as minhas mãos fecham-se em punhos firmes. Ela era a ex-namorada de William e conseguiu o que queria. Ela estragou tudo, mais uma vez. Não só trouxe infelicidade ao homem que tinha à minha frente, como também, a todos que estão debaixo deste teto.

Um tornado de raiva e revolta cobre-me o corpo, fazendo-me arrancar cada bocado de pele do corpo dela. Mas não. Tal como dantes, fui salva pelo meu ótimo autocontrole e permaneci na mesma pose, ouvindo cada palavra dolorosa que a mina mãe pronunciava, cada pergunta retórica dela.

Palavras são trocadas entre Eleanor, William e a minha mãe. As lágrimas escorrem-me pelas minhas faces pálidas e direciono o meu olhar para o chão.

- Eu não consigo estar aqui nesta casa, principalmente contigo. – A voz frágil da minha mãe envolve toda a sala. – E tu… - A sua voz vinha agora na minha direção. – Vai preparar as tuas coisas.

Engoli a seco ao ouvir o que ela tinha acabado de pronunciar. Eu não queria deixar William, mesmo com tudo isto, mas também não queria deixar a minha mãe. Ela era uma grande base para mim, principalmente depois da morte do meu pai. Foi ela que esteve lá para mim, para me abraçar à noite, para me garantir que o pai estava num bom lugar, para me dar um beijo de boa noite. Tudo o que ela fez foi para o meu bem e bem-estar, mesmo que isso envolvesse ausentar-se por longos períodos de tempo.

Mas William fazia-me sentir bem. Fazia-me sentir bem de uma outra maneira que nem mesmo a minha mãe conseguia.

Os meus pensamentos foram afastados, quando a minha mãe agarrou-me no braço e arrastou-me escadas a cima, lançando-me, literalmente, para o meu quarto.

- Faz as malas. – Diz ela friamente, entrando no quarto dela.

A minha cabeça andava às rodas, tudo à mina volta estava a andar à roda, não conseguia ver nada claramente, devido às imensas lágrimas que se acumulavam nos olhos. Lentamente, as minas pernas começaram a mover-se em direção do meu armário e de lá tiro a minha mala, coloquei-a na cama e começo a arrumar todas as minhas roupas.

À medida que os segundos passavam, sentia o meu peito a arder, as lágrimas queimavam a minha face cheia de dor e, por parte, vergonha. As minhas mãos estremeciam, assim como as minhas pernas e o meu corpo todo. Cada movimento meu era um esforço enorme, nunca senti tal dor na minha vida. Doí e doí muito sentir que vamos perder para sempre alguém que significa tanto para nós, a sensação de nunca mais voltar a ver essa pessoa, de perde-la para sempre.

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