Cap 04

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O dia tava até bacana, não havia notado antes, mas agora olhando pela janela da varanda, penso "onde sera que deixei meu celular dessa vez?" sempre faço isso! Acabo colocando meu celular no modo avião no intuito de economizar bateria e sempre acabo o perdendo de vista. Vou até a cozinha e avisto ele no balcão do armário. Tiro do modo avião e logo recebo uma chamada de Simon.

- A que horas passo ai pra deixar seu carro?

-  Depois que almoçar pode vim e iremos para minha casa.

- Certo.

E desliga, passo a manhã assistindo séries. Como é domingo, aproveito cada segundo no meu sofá aconchegante. As 12:40pm o Simon aparece com meu carro.

- Sinto muito em lhe dizer isso, mas graças a sua pequena distração, terá que me levar pra casa mais tarde.
- Sem problemas meu caro.
Saímos da casa dos meus pais, entrando no carro e logo dou a partida.
- E aí? Como vão as coisas com o mais novo empresário? - falo olhando de canto.
Ele estava tão distraído que teve que pensar em quem eu estava falando.
- Há o Raphael? Vão bem... Bem desinteressantes, nada fora do normal, a não ser pelos shows marcados, outros cancelados, essas coisas. - fala ainda distraído olhando pela janela.
Viro a rua a esquerda e logo avisto a "minha casa" paro o carro e descemos. Caminho indo em direção a porta e dou um longo suspiro antes de entrar e sinto as mãos do Simon no meu ombro direito.
- Esta bem? -questiona ele.
- Sim - dou um sorriso fraco e tento me recompor, tudo ali que cabia em caixas já estava empacotado (pelo menos na sala)  sigo andando para o quarto de hóspedes onde o Jonathan costumava dormir quando vinha aqui.
- Ela está no quarto de hospedes.
Escuto o Simon dizer, e segundos depois o Jace já estava batendo na porta entreaberta.
- Entre- falo. E já o vejo entrando ainda incerto se deveria mesmo.
- Estou incomodando?
- Não - falo pegando um retrato e logo depositando dentro da caixa na cama. E me viro para encara-lo, ele estava observando o quarto. ele estava simples, com uma bermuda e camiseta preta. E logo percebo que ele também estava me encarando, me mecho desconfortável.
- Você pensou? - pergunta se aproximando.
Troco de perna ainda desconfortável.
- Em? - falo confusa não me recordando no que deveria está pensando...
- Serio? Você esqueceu? - fico calada, é como diz o velho ditado "quem cala consente" - Um pequeno favor que te pedi ontem, não lembra? - fala indignado.
- Há sim! Sim, por mim tudo bem.
- Ótimo! - fala - então começamos o ensaio na quarta, faltam apenas 3 semanas para a festa de namoro que ela tanto organiza, desde o mês passado. - fala pensativo e com um sorriso no rosto.
Tento não sentir nada em relação aquele sorriso, mas um resquício de ciúmes passa pela meu subconsciente.
- Legal, vou indo ali pegar mais caixas, ainda falta o meu quarto. - falo já indo em direção a porta.
- Não quer que eu te acompanhe? - questiona já dando um passo a frente.
- Não, não preciso, é aqui na esquina não se preocupe, por quê não ajuda o Simon na cozinha? - e quando abro a porta dou de cara com a Izzy.
- Oii Clary! - fala entusiasmada - cadê o Jace?
- Ooi Izzy! - tento ser o mais entusiasmada possível, não quero estragar o humor dela. - Esta lá dentro. Vou indo aqui pegar mais algumas caixas, já volto.
- Okay.
E vou pra fora, ar úmido de Toronto preenche meus pulmões, "hmm, mais chuva? " me pergunto abraçando a mim mesma. Ando uma esquina, o sinal estava aberto para os pedestres e vou atravessando, quando olho pro lado vejo um carro vindo em alta velocidade na minha direção. Sem tempo pra alguma reação e simplesmente congelo, sinto um puxão em meu braço, forte e firme. E em segundos estou no chão, por pouco escapo. Estou tão assustada que nem percebi que me tremia.
- Calma, não se preocupe. Você se machucou? - parecia a voz do...
- Alec!? - falo surpresa - Meu Deus! Quem era aquele louco!?
Coloco a mão na testa ainda me recuperando do choque no chão, o Alec se levanta e logo estende as mãos para mim.
- Eu não sei Clary, mas tenho certeza que se eu não estivesse aqui, as coisas estariam feias. - fala tentando ser o mais eufemista possível, oque não de muito certo. - Vem, minha mão está cansando. - fala com a mão ainda estendida, pego e me ponho de pé também com as pernas ainda tremendo. E ele me abraça.
- Muito obrigada - falo sem saber oque dizer exatamente. e ele me aperte mais em seus braços - Mas oque você esta fazendo aqui? Por que não foi com a Izzy?
- Estava procurando uma vaga pro meu carro, como percebemos aqui não tinha vaga pro meu.
Olho atrás de mim diante da rua que se estendia adianta. Concordo e pegamos as caixas. Não falamos muito durante o caminho de volta a casa, a situação toda ainda era embaraçosa.
Chegando lá começamos a encaixotar tudo... Desmontar móveis... Uma grande bagunça, eu estava no meu quarto e ao meu lado duas pessoas cochichavam baixo...
- Oque houve? - diz a voz masculina, talvez fosse o...
- Jace? Com quem ele esta conversando? - me pergunto e encosto o meu ouvido na parede para ouvir melhor, eles estavam no banheiro ao lado.
- Não sei Jace - fala meio aflito - sinceramente foi muito estranho, se eu não estivesse na hora, talvez a Clary não estivesse aqui.
- Alec? - falo sozinha novamente.
Depois disso escuto uma batida forte na parede, que me deixa um pouco desorientada - oque diabos foi isso?
- Nós não podemos... - e quando tento aproximar mais o ouvido na parede (se fosse possível) acabo tropeçando nas caixas com retratos, causanfo uma barulheira enorme. - Dei... Oque foi isso? - e se faz um grande silêncio, tenho vontade de bater em mim mesma - Terminamos essa conversa mais tarde.
Escuto a porta se abrindo e tento me por de pé, oque não funciona como deveria, só acabo fazendo mais barulho.
- Clary? - vejo a cabeleira loira na porta, com a testa franzida - oque esta fazendo? - arquiva uma sombrancelha.
- A-a? Eu? Nada! Só tava aqui, aproveitando meu tapete - falo não muito convincente e ele olha pra mim divertido.
- Pra mim, parece que estava dando uma boa olhada nas fotos - diz ele observando os porta-retratos espalhados e alguns ate quebrados - Ei não faça isso sozinha! Também quero me divertir. - diz ele entrando. Fico olhando pra cara dele, me sentindo totalmente envergonhada por ele está rindo as minhas custas- Que foi? Gosta do que vê? - fala se exibindo, mas tudo bem vou deixar passar essa.
- Tu tem ideia do quão engraçado você é? Caraca, estou morrendo de rir. - falo tentando me levantar.
- Espera! Quer se matar? Olha a quantidade de cacos de vidro, vem. - fala esticando a mão na qual eu me seguro.
- Obrigada!
- Nossa, acabei de te salvar, só isso que ganho? - fala dando um sorriso de canto.
- Bem, posso te pagar se quiser, com uns 100...
- Ai sim, gostei - fala me interrompendo.
- Mas é 100 tapas na sua venta! - falo passando por ele e esbarrando no mesmo.
- Então ta, não ta mais aqui quem falou. - fala erguendo as mãos em sinal de rendimento.
  Viro as costas pra ele e começo a terminar de arrumar as coisas, sentindo seu olhar encima de mim. Fico desconfortável com a situação e quando me viro ele está olhanda pra mim, bem relaxado encostado na parede com os braços cruzados e ainda me encarando.
- Gosta do que vê? - falo e arqueio a sombrancelha, imitando as mesmas palavras que ele havia me dito. Ele apenas sorri entendendo a referência e começa a me ajudar.
Lá pras 5:30pm terminamos tudo, a casa fica totalmente inreconhecível, ficamos jogando conversa fora, bebendo refrigerante e comendo pizza. As 6:00pm todos se despedem e fica apenas eu e o Simon.
- Vamos Claryzinha? - diz ele se apoiando em mim com o braço nos meus ombros, reviro os olhos e empurro ele o fazendo rir.
- Sabe que não gosto de ser chamada assim! - falo
- Sei muito bem, por isso chamo. - fala dando de ombros e correndo pra fora, sabe que levaria tapa se continuasse no mesmo perímetro de área que eu.
Logo vou atrás, trancando a porta e fico parada, olhando, lembrando... Quantas lembranças levo deste casa... Com a mão na porta.
- Vamos Clary! Estou com fome! - diz já dentro do carro, dou mais uma olhada e vou.
- Simon - chamo.
- Hm? - fala desviando a atenção do celular para mim.
- Aconteceu uma coisa hoje... - digo ainda concentrada na pista.
- Diz. - fala ele desligando totalmente o celular e dando toda a atenção a mim.
Falo tudo e nem por um momento ele desvia a atenção, escuta tudo sem falar uma palavra se quer.
Quando termino nos dois ficamos em silêncio. Só se ouvia o barulho do motor, freio no sinal vermelho encostando a testa no volante e suspiro forte, cansada. Quando volto meu olhar pro Simon ele está olhando pra mim, totalmente sem palavras, e simplesmente pega na minha mão que estava jogada no banco e aperta.
- Clary, isso é muito suspeito. - fala preocupado.
- Eu sei, eu sei bem disso, se não fosse pelo Alec...
- Nem pense nisso! Esta tudo bem agora! E isso é oque importa.
Durante o caminho o silêncio tomou conta do carro novamente. Chegamos em casa e minha mãe atendeu a porta.
- Ô! Simon! Vamos, entre! O jantar já esta pronto. - diz ela abraçando ele.
- Deve esta delicioso disso não tenho dúvidas! - fala com um sorriso gentil - Mas infelizmente não posso, tenho que ir pra casa, minha mãe deve estar bem preocupada.
- Vamos, deixe de desculpa e junte-se a gente, vem Clary, depois você deixa o Simon.
Olho pra ele com um olhar de " é meu amigo, quando minha mãe coloca uma coisa na cabeça é difícil fazer ela mudar de ideia " dou de ombros e entro, o jantar realmente estava delicioso.
Percebo que meu pai bebeu demais, mais do que devia. Isso realmente me preocupa. Vou deixar o Simon e acabo batendo papo demais com a mãe dele, uma gentileza de pessoa. Me despeço e quando chego em casa, ouço meus pais discutindo. Antes de entrar avisto um carro ao longo da rua, mas não ligo e entro. Ele estava apontando o dedo na cara dela.
- Onde você estava!? Não acha que esta passando tempo demais com o Lucian? Não me respeita mais? - fala gritando encima dela.
- Deixa de paranóia! - fala firme não notando minha presença - Eu e o Lucian somos apenas amigos! Vocês são melhores amigos! Escute oque esta dizendo!
- Há, isso não é motivo para ficarem juntos durante tanto tempo. - e empurra ela. É a primeira vez que o vejo tocando na minha mãe dessa forma.
- Não toca em mim! - fala explodindo de raiva o empurrando também. Mais forte do que pensei que seria.
- Oque está acontecendo aqui!? - falo observando a cena mais de perto agora e foi nesse momento que minha mãe olhou pra mim e nesse intervalo de tempo Valentim levantou a mão para bater em minha mãe.
- Não! - solto um grito estridente entrando na frente da minha mãe, o tapa atinge meu rosto com muita força me fazendo virar o rosto de forma violenta.
- Clary!? - grita o Jace da porta - Seu cretino! - grita ele prestes a voar encima do meu pai.
- Não Jace! Por favor! Não o toque! Ele esta alterado! - falo o impedindo de chegar ao meu pai.
- Minha filha! Me desculpe - diz Valentim se aproximando pra passar a mão onde me bateu.
- NÃO! NÃO TOCA EM MIM! - falo com lágrimas nos olhos, é a primeira vez que falo de tal forma com ele. - NÃO TOQUE NELA!! NEM EM MIM!
Ele esta atordoado me olhando sem saber oque fazer.
- Saia Pai! - falo agora mais alto.
- Clary! - minha mãe me repreende, estou com os olhos fixos no meu pai.
E ele avança mais um passo e eu recuo outro.
- Não!
- Filha me perdoa! - fala Valentim.
- Sai! Agora! - ele avança mais um passo e eu novamente recuo. - Por favor, pai! Saia!
Lágrimas caiam dos seus olhos, "lágrimas de álcool" pensei, nunca o vi chorar tirando excessão no dia do velório de Jonathan.
O sangue fervia entre minhas veias, punhos serrados. Agora já não olhava mais pro seu rosto, para o rosto do homem que me bateu, "não era meu pai" repetia para mim mesma " não era meu pai"
Olho para todos naquela sala, Jace estava ao lado da minha mãe, lhe ajudando como podia, ela despencava em lágrimas nos ombros largos do Jace, ele me olhava aflito.
Meu pai olhava para mim e para a grande marca no meu rosto, o fazendo ficar totalmente perdido, agoniado, passando a mão pela cabeça pelada que ele continha, totalmente perturbado com a situação.
- Jocelyn.. - fala com a voz "calma" dando um passo para se aproximar e o Jace a aperta mais entre seus braços e meu pai recua. Então, sem ter mais oque fazer. Sai batendo a porta, ficamos todos ali, olhando aquela cena e então corro.
- Clary! - Jace tenta me acompanhar, mas minha mãe o impede.
Bato a porta, e fico sentada na beira da cama, com os cotovelos apoiados na perna. Passo a mão nos cabelos encarando o nada, olhando o nada, fazendo nada. Passei uns 30min assim e então escuto alguém batendo na porta, meu sangue já não estava mais tão quente, meu rosto latejava de dor e eu a ignoro. Depois de mais duas batidas na porta escuto a voz do Jace.
- Clary, por favor, me deixa entrar.
Como não dou resposta, e teimoso como ele é, acaba entrando e se ajoelhando com uma caixinha de primeiros socorros na minha frente. Continuo com as mãos no rosto apoiada sobre os joelhos.
- Ei - diz ele levantando meu rosto com cuidado e devagar, nossos olhos se encontram e perco o foco, sou só eu e ele. O rosto dele fica tenso, mas seus olhos demonstram piedade, cuidado, carinho... Ele solta a caixinha no chão e segura minhas mãos, fazendo carinho nelas, foco em nossas mãos agora, baixando novamente o rosto e ele novamente o levanta.
- Vem cá. - diz ele e pega o algodão e coloca álcool, passando no meu rosto, estremeço de dor, porquê dói tanto?
Ele pega o algodão para trocar e percebo que havia sangue no meu rosto, não havia notado.
- Calma - diz ele me tranqüilizando. - Vai ficar tudo bem. - diz ele e sopra onde ardia.
Ele tem mãos leves e mesmo calejadas são estranhamente macias, acolhedoras. Depois de terminar todos os cuidados possíveis, ele coloca um bandei no local cortado, com cuidado. E levanta, acredito que aquela posição estivesse mesmo desconfortável. Ele senta do meu lado e me levanto indo em direção ao espelho. Estava horrível, simplesmente horrível, passei os dedos no hematoma enorme, arroxeado e tão dolorido. Ele se levanta também logo ficando atrás de mim, nossos olhos se encontram no espelho e ele passa a mão sobre meu rosto.
- Meu Deus Clary, seu dia foi tão horrível quanto esse hematoma no seu rosto.
Me viro o encarando incrédula e começo a rir dessa piada de mau gosto e logo depois da risada lágrimas escorrem pelo meu rosto o fazendo arder e então ele me abraça, forte, e eu solto tudo que tinha pra sair de dentro de mim. Chorei, os soluços ficavam cada vez mais altos e quanto mais altos ficavam mais ele me apertava.
- Sinto muito. - ouvi ele dizer e eu choro mais ainda, por tudo. pelo acidente, pelo Jonathan, pelos sonhos, pelo incidente de manhã, pelo meu pai, pela minha mãe e por mim, pareço tão ridícula agora. Mas não me importo. Caio no sono, e sinto me levarem pra cama e simplesmente desabo.
Pela manhã acordo," tudo aquilo realmente aconteceu? Oque o Jace estava fazendo aqui?" Olho ao redor e não o vejo, mas percebo um papel rabiscado na minha escrivaninha. E leio.

Dias turbulentosOnde histórias criam vida. Descubra agora