Mason tinha certeza que em todos os seus vinte e poucos anos de vida nunca havia se permitido sentir tanta coisa. Muitas das amarras que havia feito sem perceber ao longo dos anos estavam se afrouxando. E ele podia sentir tudo ficando mais leve.
O alívio de um nó que apertava as mãos sendo desamarrado. A armadura pesada que tinha sobre o corpo caindo pouco a pouco no chão frio de madeira. O coração batendo forte.
Até o mundo parecia outro. As pessoas. Os lugares...
— O mundo continua o mesmo. O que ficou diferente foi você. Tu é a única coisa que pode, de fato, mudar.
Emma lhe disse em uma tarde qualquer.
Quando você se permite — a sentir e a viver — percebe que muito da liberdade que você pensou que tinha era, na verdade, sua maior prisão. Se permitir também é se libertar das grades que você colocou ao redor de si.
Mason é apaixonado pela liberdade. Jurou para si mesmo que seria pássaro livre, um dia. E quem diria... Quem diria que toda a liberdade que criara era, na verdade, uma farsa.
— Liberdade nunca foi sobre desbravar o mundo e conhecer lugares. Ela é mais sobre desbravar o mundo que existe dentro de você. É sobre conhecer quem você é e se permitir conviver em harmonia com todos os seus anjos e demônios interiores.
Emma dizia, mas sabia que sua realidade, infelizmente, não condizia mais a isso.
Conhecia seu pior lado. Viveu no breu de quem era por anos. E nesse tempo assistiu sentada a todas as suas partes mais bonitas morrerem devagar. O que tinha sobrado dela doía demais para se preocupar com isso.
E agora ela já não sabia mais como sentir um bocado de coisas. Só lembrava de como era. Como era sentir que, até quando não tava tudo certo, ainda tava tudo bem.
Quando foi que se deixou viver no engano?
Mason não trouxe nada disso de volta. Afinal, não se pode reviver coisas que já morreram. Emma sabia bem disso...
Mason despertava o melhor nela. E aqueles três meses trouxeram consigo muitas das coisas que ela pensou ter perdido ou quebrado por aí.
Emma se escondeu num quarto escuro porque lá apenas tinha de conviver com as dores que já possuía. Tinha medo de ver o lado de fora de novo e voltar com o dobro de cicatrizes.
Mason apareceu como música suave que entra pelos dutos de ventilação. Música que fez Emma dançar. E depois, despertou o desejo de mais. Emma queria mais música, mais dança.
Então Mason abriu a porta do quarto e sorriu.
— Eu já disse que você é a minha pessoa favorita? — ela lhe disse enquanto o observava lavar os pratos sujos de macarrão.
— Por que lavo a louça pra você?
— Se você prefere assim... — cruzou os braços e sorriu.
Mason não era a salvação dela. Não era nem a salvação de si mesmo... Imagine só! Salvar uma garota que, ao seu ver, nunca precisou ser salva.
A forma como ela dançava no quarto escuro o encantou. Que ser humano bonito era esse que conseguia dançar no escuro de seus piores dias? E era tão leve e tão graciosa que ele não se conteve em jogar-lhe o seu mais sincero e espontâneo sorriso. Junto com a expressão de paz que ela lhe devolveu, veio também a esperança. Se ela conseguia dançar, tão plena, ele também podia.
E foi por isso que abriu a porta e dançaram os dois, no escuro. A vida tinha ficado mais fácil. Emma lhe ensinara a dançar. E ele a fez voltar a dançar.
— Você é a minha pessoa favorita também... — disse enquanto secava as mãos.
— É?
Passou os braços sobre os ombros do rapaz.
— A mais gentil. A mais delicada. E a mais inspiradora também.
Colocou as mãos na cintura dela.
— Você sabe que me vê de um jeito "cintilante", não sabe?
Os pés deles começaram a se mexer, devagar.
— Talvez... Mas esse brilho todo, é tudo seu. É tudo você que faz.
Como em um filme clichê da seção da tarde, uma música clássica começou a tocar no fundo. Era a senhora Dalson com seu rádio novo.
— Você é melhor do que pensa que é, Mason...
Os olhos se beijavam com carinho. Eram olhares cautelosos que tinham um sobre o outro.
— É o mais sincero. E o mais verdadeiro em tudo que faz. Se preocupa com os outros. Até com as mulheres que você sai e nem sabe o nome.
— Você me vê de uma maneira irreal também. Sabe disso.
— Talvez... — sorriu — Talvez eu apenas consiga ver coisas em você que você ainda não percebeu.
— Como é estar apaixonado, Emma?
Finalmente perguntara aquilo que, há tempos, queria perguntar.
— Sabe... É bem parecido com isso.
A música parou.
— E você tem medo? Porque eu meio que já aceitei que gosto de você.
Emma se sentiu adolescente de novo. O coração acelerou. Era a reciprocidade dando oi.
— Nunca precisei ter medo de você. Ou do que você me fazia sentir.
Ele sorriu. A reciprocidade dizia oi a ele também.
— Então eu te faço sentir alguma coisa?
— Mason... — riu — Você me faz sentir oceanos. Eu gosto de você também.
Eles riram. Sem saber por quê. Talvez nervosismo. Talvez felicidade. Só riram. E se soltaram. Mas voltaram rapidinho. Se abraçaram.
Eles tinham coragem para sair do quarto escuro agora.
E sairiam, juntos.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma História Sobre Recomeços
RomanceEste livro não é uma história de amor convencional que narra a vida de um casal perfeito composto por pessoas perfeitas em busca de um final feliz (e perfeito). Este livro fala sobre duas pessoas que perderam as esperanças e aceitaram a monotonia de...