Mar de carros

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O centro da cidade já ficou pra trás.

Andando por uma rodovia solitaria, Alex e eu ainda não fomos surpreendidos por nenhum canibal. Isso me deixa ao mesmo tempo feliz e aflito. Quanto tempo até algum deles aparecer? 

Alex continuou flertando comigo e confesso que estou gostando disso. Ele é bonito e apesar de saber que só está brincando, é bom se sentir assim... Desejado, talvez.

Na rodovia, conhecida como estrada leste, carros estão espalhados pelos acostamentos, outros acidentados, mas não são tantos. Também há corpos jogados em alguns lugares. Acho que já me acostumei com cenas assim.

Alex anda a minha frente com seu machado. Ele tem uma postura heroica, inabalavel. É facil acreditar que há chances de sobreviver perto dele, pois ele é como aqueles personagens de filmes de ação, que parece resolver tudo apesar das dificuldades. Me faz sentir segurança ao seu lado, mas sei que ele é apenas uma pessoa comum, que assim como eu, pode também morrer.

- O que você sabe sobre isso?  - Pergunto tentando quebrar o silencio.

Ele olha pra mim e depois pra frente nobamente.

- Sei o que todo mundo sabe. - Responde seguro. - Não seja mordido, não se aproxime, não confie em ninguém...

- Você confiou em mim. - Digo sem saber exatamente aonde quero chegar com tal afirmação.

- É. - Ele olha de novo pra mim e depois pra frente. - Eu confio em você.

- Por que? 

- Por que não está tentando me matar.

É uma resposta convincente.

- Você confia em mim?  - Ele sorri como se fosse uma brincadeira, não tenho certeza se é.

- Bem... Desde que seus dentes fiquem longe de mim.

Ele me olha e sorri.

- Espero que mude de idéia. - Depois volta a olhar para frente.

O que significa isso? 

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A rua está vazia. Toda a fumaça da noite anterior, parece ter afugentado os canibais.
Rian ficou pensativo pelo resto da noite, mal conseguiu dormir pensando na chance que perdeu de dizer a mim seus sentimentos.
Néd também demorou dormir, foram tantas mortes e tanto sangue. Sempre que fechava os olhos ele via todas aquelas cenas.

É terrivel pensar que seus pais provavelmente estão andando por aí matando pessoas e comendo carne humana crua.

O grupo aproveita a chance e sai de seu esconderijo pela manhã. O tempo está passando e eles ainda estão no centro, precisam apertar o passo.

Lara segue na frente tendo Néd ao seu lado, ambos guiando  grupo pelas ruas perigosas da cidade.

- Aquelas coisas tem medo de fogo?  - Tara pergunta em voz alta.

Rian nem dá atenção e é Lara quem responde.

- Eu acho que eles são movidos por instintos, Comer, caçar... Os animais fogem da fumaça, pois sabem que a causa dela é ruim. Deve ser mais ou menos a mesma coisa.

- Você quer dizer que são como animais? - Lara insiste.

- Não acho que estão se comportando de outro jeito. - Néd fala.

- Galera! - Rian chama a atenção do grupo. - Vamos pegar um desses carros. - Ele fala quando todos olham pra ele.

- Sem as chaves?  - Tara fala em tom de ironia.

Rian não dá bola e se dirige para um veiculo vermelho de cinco lugares, é o maior que tem por ali e eles teriam de se expremer lá dentro. Ele tira o moleton e enrola no braço, para logo depois quebrar o vidro com um soco. Há alguns carros com as portas abertas, mas Riam gosta de quebrar coisas.

Ele abre a porta entra e encontra a chave na ignição pega o obeto e balança no ar para que Lara veja.

- Parece que as chaves não são o problema.

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Minutos se passam e nos deparamos com uma complicação. Estamos proximos a saida do leste, mas há um mar de carros a nossa frente, entre eles e aos arredores, os canibais estão imoveis esperando o estimulo certo ara atacar.

Eu nuca vi tantos veículos juntos antes.

são tantos que seria impossivel contar. Espalhados por mais de um kilometro até chegar aos portões de uma cerca, que Alex diz estar ao redor de toda a cidade.

- Vamos ter de passar. - Ele diz. - Não tem como dar a volta pela selva, veja. - Aponta para entre as arvores que crescem as margens da estrada. - Estão por toda parte. Podemos nos abaixar e usar os carros para não sermos vistos, aí andamos até chegar ao portão.
Infelizmente não há nenhuma idéia melhor do que esta.

- Tá legal. - Digo.

alex segura a minha mão e se aproximade mim.

- Vai ficar tudo bem. - Ele diz convincente. - Apenas confie em mim, certo?  Podemos fazer isso.

- Eu sei que podemos. - Falo ao perceber que ele está tentando me encorajar. - Eu não estou com medo.

Ele sorri.

- Mas eu estou.

Rio também.

- Tá legal. - Falo. - Vamos.

Dou um passo frente e ele me segura.

- Espera.

- O que? 

A distancia entre nós é rompida rapidamente e de repente eu sinto sua boca na minha. A principio fico sem reação, mas em poucos segundos a sensação se seu toque me faz relachar e então retribuo o beijo, que não dura muito.

- Por que fez isso? 

- Se é pra morrer... - Alex sorri. - Que seja depois de um beijo quente.-
Ambos rimos e depois de alguns segundos ele me solta. - E desculpa pelos dentes. Espero que não deixe e confiar em mim.

Então era sobre isso que ele dizia. Como sou tolo. Ele já pretendia me beijar. Sorri.

Andamos abaixados e lentos. Usando os carros para nos esconder, começamos a nos esgueirar entre latarias amaçadas, sangue e corpos. O odor da morte se espalha pelo ar enquanto tentamos não fazer barulho ou ser vistos. Os canibai continuam imóveis, isso é bom.

Conseguimos chegar a uma boa distancia entre os loucos e de repente ouço um barulho estranho.

Carro.

- Tem um carro vindo. - Digo e Alex para de andar.

- Como? 

Estamos sussurrando.

- Ouça. - Falo e fazemos silencio.

- Droga!

O barulho do carro fica cada vez mais alto a medida que vem chegando e os canibais começam a se agitar.

- Entra lá em baixo. - Alex diz serio apontando para o chão debaixo de uma mini-vã - Quando o carro chegar aqui, essas coisas vão ficar agitadas. Não podemos estar no caminho.

Assinto e e arrasto para debaixo do veículo e Alex entra debaixo de outro.

Ficamos um de frente para o outro e ele me faz sinal de silencio.

Vemos por baixo dos carros, os corpos começando a acordar. Pés dando passos pesados e arrastados. Estã acordando e logo aqui vai ser um caos.

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