Capítulo 1

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Tudo começou em um dia como todos os outros na velha Holmes Chapel, cidade onde vivi boa parte da minha vida, onde presenciei o que há de melhor e pior nela. Onde aprendi que você nunca é bom o suficiente para o mundo, descobri que o mundo ia muito além do meu jardim, e que a vida é feita de escolhas, algumas sábias, outras nem tanto.

Um dia cinza com um sol tímido que brilhava no céu, um dia comum de verão, e para muitos, dia de trabalho já que se tratava de uma segunda-feira, dia de aula se tratando dos jovens, e isso incluía a mim.

Me levantei naquela manhã fria e fui direto ao banheiro, tomei meu banho quente e logo depois sai, abri meu guarda roupas, e coloquei uma roupa comum, calça jeans, blusa de mangas compridas preta e um moletom cinza por cima, peguei minha mochila e sai andando pelo corredor, percebendo que naquela manhã, tudo estava tranquilo demais, comum demais, parecia que nada de interessante iria acontecer naquele dia, mas mal sabia eu que aquele dia mudaria minha vida, para sempre. Assim que cheguei na cozinha encontrei mamãe preparando panquecas, me sentei, de frente para o balcão e logo ela me serviu com duas panquecas e um copo de suco de laranja, assim que acabei mamãe arrumou tudo e fomos para a saída da casa, fechando-a em seguida e fomos para o carro, me sentei no banco passageiro, recostei a cabeça no vidro embaçado e logo ouço o carro sendo ligado, e seguimos em silêncio durante uns dez ou quinze minutos até a escola.

-Tenha um bom dia querida!- disse mamãe dócil como sempre, assim que paramos em frente a escola.

-Ok, você também, nos vemos mais tarde!- disse eu feliz como em todas as manhãs, logo após dando um beijo em sua bochecha e descendo do carro.

Minha vida no colégio é comum, não sou nenhuma garota super popular do nono ano ou coisa qualquer, tento me manter na minha, e sempre tem os engraçadinhos do segundo ano que fazem uma piadinha ou outra, mas eu consigo sobreviver. Segui para a aula de filosofia, me sentando na ultima carteira da ultima fileira, e arrumei meu material esperando dar o horário, na sala havia eu e dois grupinhos de estudantes mais adiante. Assim que deu o horário a sala foi enchendo e os grupinhos sendo formados, populares, drogados, nerds, intelectuais, e eu. O professor entrou e a aula foi se arrastando, assim se seguiu pelos dois próximos horários até ser o horário do nosso intervalo de uma hora, e como sempre arrumei meu material e segui em direção à biblioteca, onde normalmente fica vazia, assim que passei pela entrada disse um oi tímido sem som para a senhora Bennett, uma velhinha enrugadinha, fofinha que cuida da recepção, e sempre que me vê me recebe com um sorriso caloroso, me sentei em uma das mesas o mais distantes possíveis coloquei minha bolça sobre a mesa e tirei de lá meu exemplar de O Morro dos Ventos Uivantes, meu livro de cabeceira, aquele que já li e reli exatas 32 vezes, estava o lendo, quando ouço gemidos vindos de trás das prateleiras, fiquei desconfortável mas continuei a ler como se nada estivesse acontecendo, até que o barulho ficou mais audível e acho que até a senhora Bennett se sentia desconfortável com essa situação, bufei me levantando e seguindo em direção a fonte dos ruídos, assim que cheguei lá me deparei com Harry Styles do segundo ano se atracando com Ashley uma das putas da minha classe, apenas revirei os olhos e disse.

-Me desculpem, não sei se vocês dois perceberam mas isso é uma biblioteca, um lugar para estudos, pesquisas, leituras, aqui tem pessoas querendo silêncio, vão se atracar nos vestiários, banheiros ou qualquer outro lugar.- disse ríspida enquanto a garota ajeitava sua saia, se é que aquilo poderia ser chamada de saia, e começou a arrumar seu cabelo, enquanto ele subia suas calças e a abotoava, soltei um enorme suspiro de frustração e voltei pra minha mesa, voltando a ler meu livro logo vi Ashley saindo, revirei os olhos e voltei a ler, estava tão concentrada que nem percebi a presença de Harry a minha frente me encarando.

-O que foi, vai ficar me encarando agora?- perguntei grossa. Ele me lançou um sorrisinho maroto de lado e disse.

-Sabe todo esse estresse me parece falta de sexo.- disse ele simplesmente, arregalei meus olhos, esse garoto tem merda na cabeça, será que ele tem noção da minha idade, não sou nenhuma puta pra sair dando pra qualquer um, ainda mais na minha idade.

-Tenho 14 anos caso não tenha percebido.- disse, o olhando e logo voltando a encarar meu livro tentando voltar a ler.

-E eu 17, o que isso tem a ver?- disse ele, apenas o ignorei, esse garoto só diz asneiras, ele permaneceu me encarando por uns vinte minutos então disse.

-Esse livro irá lhe fazer acreditar em coisas que não acontecem.- disse ele com deboche.

-Esse livro, me faz acreditar no amor.- disse simplesmente.

-Como havia dito antes, coisas que não existem, o amor não existe, não seja tola, o que existe são bandos de pessoas idiotas que se dizem apaixonadas mas que somente pensam assim pois estiveram somente com uma pessoa a vida toda.-disse ele.

-Mas esse é o sentido do amor, viver com uma pessoa só, pra que querer outra se a pessoa que te faz bem está com você?- falei como de fosse óbvio.

-Sexo.- disse ele como se fosse mais óbvio ainda. Apenas neguei com a cabeça bufando continuando a ler e ele soltou um risinho.

-Prazer, Harry Styles!- disse ele estendendo sua mão se apresentando, mas ele sabia que eu já sabia quem ele era, afinal quem nessa escola não sabia? Mas não daria esse gostinho a ele então o tratei com indiferença.

-Skye Evans.- disse simplesmente, ignorando sua mão estendida.

Voltei a ler e finalmente consegui pois ele ficou apenas em silêncio me encarando, quando deu o horário descobri que os meus últimos três horários seriam vagos então decidi ir embora, depois daquilo na biblioteca Harry agiu normalmente como todos os outros dias como se nada tivesse acontecido, como se eu não o tivesse impedido de transar com uma menina entre as prateleiras, ri com aquilo. Estava caminhando em direção a minha casa, sempre olhando para o chão e cantarolando uma música, depois de longos vinte e cinco minutos de caminhada finalmente cheguei em casa, abri a porta e entrei, mamãe devia estar deitada no quarto, subo as escadas e parei em frente ao seu quarto.

-Cheguei mais cedo mamãe, os últimos horários foram vagos.- disse.

-Tudo bem querida, vá se trocar, na hora do almoço irei te chamar.- disse ela sorrindo para mim como sempre, e como sempre percebi que esse sorriso não chegava aos seus olhos, há um bom tempo seus sorrisos andam sendo assim, ó papai, se o senhor soubesse a falta que nos faz.

Segui para meu quarto, me desfiz da mochila e da roupa que estava e coloquei algo mais confortável. Fiquei deitada tirando um cochilo e quando foi meio dia e quarenta e cinco mamãe me gritou para que eu descesse para almoçar, estávamos sentadas comendo em silêncio, quando ele foi quebrado por mamãe.

-Estou pensando em procurar um emprego para distrair a cabeça.- disse ela como quem não quer nada.

-Isso é bom, no que está pensando?- perguntei sorrindo e a olhando.

-Não sei exatamente, vou distribuir alguns currículos por aí, apenas quero algo que me distraia, tudo bem por você?- perguntou ela receosa.

-Claro que sim mamãe.- disse feliz, por ela finalmente querer fazer algo para se distrair ao invés de ficar em casa o dia todo, logo o silêncio voltou a se instalar no ambiente, e assim que terminamos de almoçar ajudei mamãe a tirar a mesa, e sequei a louça enquanto ela lavava. E assim que terminamos subi para o meu quarto, fiquei um tempo deitada sobre a cama apenas observando meu quarto, paredes com a metade superior rosinha claro, e a metade inferior com um papel de parede de florzinhas, o gesso no teto, o chão com carpete branco, o guarda roupas ao lado da janela, a prateleira de ursinhos, a porta do banheiro fechada com um enorme pôster dos Beatles grudado nela, ainda me lembro como se fosse ontem, eu mamãe e papai, decorando as mobílias,o quanto nos divertimos, e bem, aquele foi nosso último momento em família até papai ter que voltar a servir o exército, 2008, último ano que veio nos ver, quando percebi lágrimas corriam de meus olhos, como sinto saudades do papai, saudades de ver mamãe feliz, me levantei e enxuguei minhas lágrimas, fiquei um tempo tocando violão, mas fiquei só dedilhando e cantarolando mesmo, mamãe e papai gostavam de me ouvir tocar e cantar, e logo voltei a chorar, e estava tão cansada que acabei dormindo.

E aquela foi a ultima noite tranquila que tive.

WARRIOROnde histórias criam vida. Descubra agora