2o Pecado

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"As luzes se apagam e eu não posso ser salvo

Ondas contra as quais eu tentei nadar

Jogaram-me ao chão, deixando-me de joelhos

Oh, eu imploro, eu imploro e suplico".

Clocks, Coldplay.

Fonte: Fujomekay

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Fonte: Fujomekay.




Jongin nunca tinha ouvido coisas particularmente escandalosas enquanto realizava a sagrada confissão. Ele desejava que este jovem de olhos grandes não comentasse algo grave como planos de assassinato... Ele não estava pronto para algo tão complexo em sua primeira semana naquela província.

— Sua mãe acredita que eu posso ajudar você, mas se você deseja conversar com o irmão Siwon como estava acordado no começo, me encarregarei de fazer um jantar para vocês dois — apontou quase desejando que o homem em frente a si decidisse voltar depois.

— Eu prefiro conversar e acabar com isto agora. Trata-se de você ou de outra pessoa de bata, tudo dá no mesmo; a única coisa que eu espero é não ter que voltar aqui de novo... — respondeu quase sem vontade.

— A "bata" se chama batina.

— Tanto faz como se chama — seus olhos ficaram inexpressivos como um adolescente chateado.

— Por que você está chateado, Kyungsoo? Tem a ver com a razão pela qual você está aqui hoje?

— A razão pela qual eu estou aqui hoje é porque a minha mãe me obrigou. Se eu não obedecesse, ela ia me expulsar de casa e eu não tenho para onde ir. Então, sim, isso me irrita — Jongin não se sentia surpreendido, era quase óbvio que Kyungsoo estava ali à força, mas ele não esperava o exagero que veio depois disso. — Eu não estou aqui porque quero, não estou aqui procurando a sua ajuda, eu não tenho fé em você e nem no seu deus classista e binário. De fato, tampouco tenho certeza de que ele existe e se sim, ele é um bastardo a quem eu gostaria de pedir que chupasse as minhas bolas. Se você o vir antes de mim, por favor, passe à ele a minha mensagem.

O queixo de Jongin caiu alguns centímetros enquanto ele assimilava o que estava ouvindo. Olhou para Kyungsoo fixamente e no reflexo daqueles grandes olhos escuros, encontrou a sua própria imagem perplexa.

— Bom — respondeu antes de suspirar. Jongin colocou as mãos em seus joelhos porque não sabia onde colocá-las. — É claro que você não quer a minha ajuda. Acho que esse é um sinal para que eu vá embora.

Jongin se levantou deixando a sua batina cair até tocar o chão. Ela estava feita a medida de Siwon que era ligeiramente mais alto do que ele. Dirigiu-se até a saída e abriu a porta, em seguida se virou para Kyungsoo convidando-o a sair, mas este ainda estava sentado na cadeira.

— O que você vai dizer para a minha mãe? — perguntou o jovem.

— O que quer dizer?

— Diga à ela que nós conversamos durante horas para ela não me expulsar de casa; diga à ela que uma boa mãe não deve jogar os seus filhos na rua... Diga isso.

— Eu não posso mentir, não vou dizer que conversamos durante horas quando não passamos de um minuto.

— Então sente-se de novo. Eu não vou ir embora agora. Se eu for, ela vai me expulsar de casa — acrescentou num sussurro.

Jongin fechou a porta e voltou ao seu assento.

— Se você preferir, nós podemos fazer disto um ritual de confissão — conciliou. — Eu não teria que dizer nada do que conversarmos aqui para ninguém, nem sequer para a sua mãe.

— Se eu me confessar você vai me mandar ler a bíblia inteira para purgar os meus pecados. Além do mais, o que eu preciso é que você diga à minha mãe que eu falei, que eu contei tudo, e que eu vou ficar bem.

— Tudo bem, Kyungsoo. Não será uma confissão, mas insisto em que eu não posso mentir. E eu não vou dizer para a sua mãe coisas que não são verdades.

— Eu vou contar tudo à você, Jongin — o sacerdote se sentiu estranho com o jeito com que o seu próprio nome ressoou em seus ouvidos; fazia muito tempo desde que alguém tinha o chamado apenas de Jongin. Kyungsoo notou e sorriu mais uma vez. — Me equivoquei de nome? — Perguntou com malícia.

— Não, mas...

— Você me chamou de Kyungsoo muitas vezes, sem título algum. Sou estudante de ensino musical com ênfase em piano, estou cursando licenciatura, então não comece a me chamar de "Bachiller Roque" porque eu não vou chamar você de "Sacerdote Kim", e nem de "Padre Kim" por uma simples razão: você não é o meu pai.

Jongin cruzou os braços, em seguida levou uma mão ao seu queixo certamente para impedir que este chegasse ao chão e para ocultar o seu assombro.

Jongin assentiu com um gesto de sua cabeça porque não sabia o que responder. Aquele homem tinha uma atitude desagradável, mas em questão de segundos, era capaz de fazer olhar de cachorrinho e perguntar de um jeito fofo: "O que você vai dizer pra minha mãe?".

Certo, Jongin era o seu nome, mas o rapaz não estava conversando com qualquer civil, ele era um sacerdote... merecia um pouco de respeito, pelo menos. Pensou sentir-se ligeiramente chateado, logo ele que era tão bom em controlar as suas emoções já estava começando a irritar-se.

— É o seguinte, Jongin — Kyungsoo pronunciou enfatizando o nome —, a minha mãe espera que eu me cure. Ela acredita que eu estou doente ou que um demônio se apoderou de mim. Sim, foi o que você ouviu: um demônio. Ela convidou pessoas da comunidade para orar pela minha alma, em pleno século vinte e um, me submeteram a uma espécie de exorcismo na noite em que eu estava doente. Quarenta graus de febre graças a uma pneumonia no mês passado e ela junto a quatro senhoras soltavam as suas orações ao lado da minha cama. Quando eu convulsionei, uma desmaiou. Não era um demônio, sabe? Só o resultado da febre. Quando os médicos me afirmaram com um bom diagnóstico, acho que vi a desilusão em seus rostos. Uma pneumonia não é tão interessante como uma possessão, eu acho.

— Por que a sua mãe e as outras senhoras acham que você está possuído?

Kyungsoo observou muito bem o rosto do sacerdote. Ele queria contemplar até o último brilho na expressão de seus olhos quando dissesse o motivo pelo qual a sua mãe estava deixando-o louco.

— Porque eu sou gay — sorriu satisfeito. — Diga-me, Jongin, como você pode me ajudar?

O coração de Jongin bombeou com força. Não era como se fosse o primeiro gay com quem conversava, então, por que ele sentia-se tão intimidado? Se Kyungsoo não estivesse olhando-o desse jeito, diretamente em seus olhos, sem mostrar vergonha e nem recato... Por que ele estava sentindo o que supostamente Kyungsoo estava sentindo?




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PecaminoSoo - Religare I [Tradução PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora