Eles entraram no apartamento de Anthony calados, Pitter não gostava disto e resolveu quebrar o silêncio a pouco instaurado.
— Vamos falar franca e abertamente, OK? Quem era seu amigo, e por que a aparição dele mexeu tanto contigo? — Pitter confrontou e isso de certo desestabilizou Anthony, que já estava desestabilizado.
— Eu... ele, ele é... um... ele era meu... — Anthony não conseguia completar sequer uma frase inteira e isso de certo modo irritava Pitter.
— Anthony, chega! Quem é esse que está na minha frente? Cadê aquele cara decidido que luta pelo que quer e consegue? Não tô te reconhecendo!
Anthony desviou o olhar de Pitter e seus olhos voltaram a marejar.
— Tudo bem, só deixa eu me acalmar um pouco, OK?
Anthony se sentiu uma criança quando é pega pelos pais aprontando. E aquele Pitter que lhe confrontava não era mais aquele guri acanhado que ele viu na cama de um hospital, isso lhe constrangeu. Pitter conseguiu ser mais adulto que ele naquele momento.
Pitter concordou e disse para Anthony refrescar a cabeça com um banho. Anthony seguiu seu conselho, teria tempo para formular um argumento eficaz para sua total lerdeza diante de um fato que deveria ser banal.
Debaixo da ducha que vertia água gelada Anthony derramou algumas lágrimas, “Porque justo agora, estava tão bem com Pitter...” ele pensava a todo instante. Por fim se recompôs e resolveu explicar tudo detalhadamente ao namorado. Seguiria o conselho do seu amigo, não magoaria o menor, isso seria a última coisa que faria. Uma vez ele prometeu a Pitter sempre lhe proteger e não deixar que mal algum lhe afligisse, estava com medo agora de quebrar essa promessa.
Saiu do banheiro e encontrou Pitter sentado em sua cama apenas de bermuda, a pela branca de seu corpo parecia estar dourada agora banhada pela luz do sol poente que entrava pela grande janela do quarto, seu coração se encheu de carinho e amor, era uma visão angelical. Pitter lhe olhava com ternura, um pequeno sorriso brotou daquele rosto de garoto e inconscientemente Anthony sorriu, mostrando duas covinhas em seu rosto que estava com a barba crescendo, gotículas de água escorriam de seu peito grande e se perdiam na barra da toalha que estava amarrada em sua cintura. Era uma visão tentadora, Pitter pensou em como queria ser aquelas gotículas e deslizar suavemente sobre aquele corpo que lhe pertencia, mas isso poderia ficar para depois, precisavam agora conversar.
Anthony retirou a toalha na frente de Pitter, se enxugando com cuidado, sobre os olhares de Pitter, que nada falava. O garoto estava bestificado de como lindo era aquele que estava em sua frente, “Não sei medir qual dos dois é mais lindo”, Pitter chacoalhou a cabeça tentando tirar esse pensamento. O outro era Henry, que mesmo tendo o visto apenas uma vez desnudo comparava sua beleza a de um Adonis. Ele não queria pensar no outro, mas era evidente que isso não era algo fácil.
Anthony vestiu uma cueca samba-canção e sentou-se frente a Pitter na sua cama, cruzou as pernas em posição de lótus e segurou as mãos de Pitter entre as suas.
— Acho que te devo algumas explicações, não é meu marchimelow? — era esse o apelido carinhoso que Anthony tinha dado a Pitter: doce, fofo e branquinho, perfeito. Pitter apenas assentiu com um pequeno sorriso nos lábios, achava engraçado esse apelido.
— Então, você e todos perceberam como eu fiquei depois que o... depois que o Micha apareceu. — ele desviou o olhar do outro. Pitter já tinha ouvido falar de um Micha, mas ainda não estava associando o nome a pessoa.
— Micha? É aquele mesmo...?
— Sim, meu ex! — Anthony cortou. Pitter apenas assentiu com um olhar surpreso.
— Já te contei minha história com ele e aqui dentro eu imaginava não mais amá-lo, mas... mas, depois de vê-lo hoje, todos aqueles sentimentos voltaram a tona de forma intensa, e de repente eu não sei mais medir se amo mais a você ou a ele...
Pitter soltou as mãos de Anthony e lhe encarou magoado.
— Bem direto, hein? Não imaginava que todo esse amor ia voltar de forma tão avassaladora, de tamanha forma que você nem sabe escolher quem ama mais... isso é... um tanto quanto dolorido, afinal, ele te abandonou, te deixou sozinho quando você mais precisava, não sei o que te faz comparar, mas OK. Basta saber quem você vai escolher! — Pitter desviou o olhar já marejado. Anthony soltava algumas lágrimas, tinha falhado na promessa de magoá-lo, isso ele tinha certeza.
— Pitter, não. Não tenho o que pensar em escolher, é você Pitter, é você que eu amo. Ok, eu não posso mentir e dizer que não sinto nada por ele, porque eu acabei de confeção que sim, mas eu não tenho certeza do amor dele, de que quero viver isso com ele. E eu não vou deixar algo concreto que temos, que estamos construindo, por uma incerteza que foi meu tempo com o Micha. Eu não quero te deixar pra ficar com ele. Só tem paciência comigo, me deixa assimilar tudo isso, serei inteiramente teu. Você já esteve assim antes, de certo ainda está, mas eu vejo que te ganho mais a todo dia que passa. Então é isso, vamos ter paciência e logo, logo seremos inteiramente um do outro, sem restrições. Então Pitter, não desiste de mim! Por favor! — Anthony pediu em suplica. E como dizer não a alguém tão encantadoramente lindo? Além do mais, sua sinceridade desarmou Pitter, que se jogou nos braços de Anthony lhe enchendo de beijos.
O mais velho chorou em seu ombro, de alívio, iam enfrentar aquilo juntos, iam vencer, assim pensavam e queriam.
Ainda naquela noite enquanto Anthony entrava em Pitter carinhosamente e urgente, Micha estava em sua varanda, tomando uma taça de vinho, olhando o céu pouco estrelado e pensando em como ainda amava aquele homem e em como foi tolo em deixa-lo, em um momento que ele estava tão fragilizado, se martirizava todos os dias por tê-lo feito sofrer. Mas precisava explicar quais os motivos que o levaram a fazer isso e tinha certeza que ele iria entender e perdoar.
Do outro lado da cidade Henry alisava carinhosamente entre os dedos uma pulseira deixada por Pitter naquele dia em que se amaram. Era a prova de que tudo aquilo vivido foi real, ao menos a hora em que o fato foi consumado. “Falta pouco Pitter, vou ser digno do teu amor. Me perdoa por ser um tolo infantil. Ahh garoto, como eu te amo!”, dormiu sentindo um cheiro doce que emanava da pulseira de couro. Nem sabia se aquele cheiro era ainda o de Pitter, acreditava que sim, tinha ele gravado em sua memória. Seu cheiro, seus toques, seu sorriso, cada curva sinuosa daquele corpo pequeno... E ele tinha certeza de que Pitter mesmo estando nos braços e outro ainda lhe pertencia.
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Essência Provada
Romance"Acordou naquele dia com o pensamento de como se algo em sua vida fosse mudar. Tinha razão de pensar assim. Não era uma simples sensação, o mais breve a tardar teria a constatação." Pitter é um rapaz introspectivo que tem sua vida virada de cabeça p...