Capítulo 04

96 14 2
                                    

Em uma pequena sala de um edifício comercial em Nova York, um velho computador começou a executar uma rotina de alarme há muito programada. O equipamento estava ligado a potentes servidores e essa rotina tinha prioridade sobre qualquer outra que estivesse rodando. Esse computador ficava mascarado a rede e para acessá-lo era preciso ter alguns códigos extremamente complexos. Ninguém entendia o motivo daquele micro ali naquela sala sozinho, mas ninguém tinha coragem de perguntar.

Do outro lado do edifício, Karl Herston voltava até sua sala para buscar o aparelho celular que havia esquecido. Entrou no escritório e o apanhou sobre a mesa, colocando no bolso da camisa. Saiu da sala e andou pelos corredores luxuosos do escritório calmamente, até sentir o pequeno aparelho vibrar. Ligou a tela e parou estático ao ler o texto da mensagem de SMS: "SP-14051742". Conhecia aquele tipo de sequência de cor, eram notícias que poderiam lhe fazer muito bem ou muito mal. Voltou correndo ao escritório, trancou a sala e abriu seu notebook, em seguida digitou um usuário e senha para logar na rede e acessou o sistema criptografado.

Na tela um mapa do mundo apareceu com três sinalizações em vermelho, clicou em uma localizada no Japão e uma notícia já traduzida apareceu na tela: "Facho de luz corta o céu de Nagoya"

- Não.

Clicou em outra localização, essa em Nova York mesmo e pensou "Seria tão bom se fosse aqui". Leu "Homem abduzido retorna depois de 30 anos envolto em misteriosa luz"

- Homem não porra!

Já sem esperança clicou na última localização destacada no mapa, São Paulo - Brasil. Na tela apareceu a mensagem: "Mulher dada como morta retorna a vida e desaparece misteriosamente", clicou no link e leu um pedaço da matéria em que contava a história de uma mulher encontrada nua no meio da rua, reanimada pelos paramédicos e que sumiu misteriosamente depois de algumas horas de dentro da ambulância. A matéria continuava dizendo ainda que testemunhas afirmaram ter visto uma luz branca muito forte saindo da ambulância, pouco antes dela parar em uma rua. A mesma ambulância foi achada algum tempo depois abandonada em uma praça. Os integrantes da equipe médica estavam desmaiados no interior e após serem medicados, informaram não se lembrar de nada do que havia acontecido.

- Achei! - Imprimiu parte da matéria, deslogou do sistema e saiu em disparada da sala com a folha na mão.

Pegou o elevador e se olhou no espelho, o nó de sua gravata estava torto, o arrumou e pegou um lenço no bolso limpando o suor na testa. Precisava estar impecável para falar com seu chefe. Saiu do elevador no térreo e cruzou o grande e luxuoso saguão. Usou o crachá para passar por uma catraca em que um segurança armado apenas o olhou de soslaio, chegou a outro elevador e digitou um código de 8 dígitos. Seu código pessoal não funcionava nesse elevador, porém, o código que usou havia sido confiado a ele para ser usado apenas em situações especiais, e essa era uma dessas situações.

Enquanto aguardava o elevador, passou os olhos pela matéria que havia imprimido, não podia ter furos em sua análise, sabia que o chefe não aceitava nenhum tipo de erro ou fracasso se tratando de localizá-la, e mesmo tendo certeza, ficava com medo do chefe não concordar com ele. Foi trazido de volta a realidade com a porta abrindo, entrou rapidamente e apertou o botão da cobertura, ao fazer isso um painel digital se abriu com um teclado numérico. Digitou o mesmo código usado antes para só então a porta se fechar. Depois de menos de 15 segundos ela reabria em uma ampla sala.

A sala com um carpete escuro estava toda apagada, mas assim que pisou fora do elevador as luzes se acenderam automaticamente mostrando todo o local. A sua frente havia dois sofás, um de frente para o outro com uma pequena mesa de vidro entre eles, a direita uma estante gigantesca lotada de livros e ao fundo uma mesa luxuosa de madeira escura completava o cenário.

Cruzou a sala decidido, passou pela mesa e abriu uma pequena porta que ficava depois da estante de livros. Saiu em um grande corredor, cruzando-o rapidamente. Sabia onde precisava ir, havia se preparado para isso, mas mesmo assim ouvia seu coração batendo acelerado dentro do peito.

Parou em frente a uma porta de madeira escura, colocou a mão na maçaneta respirou fundo e abriu a porta.

Assim que entrou viu uma grande mesa de reuniões com várias pessoas sentadas, haviam armas sobre a mesa, além de copos e garrafas com bebidas e drogas espalhadas. Atrás de cada pessoa sentada encostado na parede havia outra pessoa de terno preto, óculos escuros e cara de poucos amigos, pareciam personagens de filmes, mas muito mais assustadores. Todos olharam em sua direção assim que entrou e fizeram menção de pegar as armas, mas Karl não se abateu. Atravessou a sala a passos largos, sentindo o suor escorrer pela sua testa. O silêncio era assustador.

Chegou até o homem sentado na cabeceira da mesa que o olhava sem esboçar nenhuma reação e parou aguardando autorização para falar. O homem olhou para ele e com uma voz cortante como aço disse:

- Fale.

- Nós a encontramos, ela está em São Paulo, Brasil. - Ao dizer isso colocou a folha impressa em frente ao seu homem. Ele pegou a folha, leu a parte impressa da matéria e olhou para Karl:

- Quais confirmações a mais você fez?

- Ne...nenhuma senhor. As características batem completamente com o que estávamos buscando e pelos cálculos que fizemos está na hora dado o tempo do último evento.

Assim que ouviu isso o chefe puxou a arma e atirou na cabeça de Karl. Sua cabeça deu um tranco para trás, sangue espirrou na parede e seu corpo sem vida desabou no chão.

- Quantas vezes falamos sobre a necessidade das checagens? Incompetentes.

As pessoas na sala que estavam sentadas se encolheram em suas cadeiras, enquanto alguns seguranças arrastavam o corpo de Karl para fora da sala.

O chefe olhou para todos e gritou:

- CONFIRMEM A INFORMAÇÃO AGORA!

Na mesma hora várias das pessoas presentes puxaram celulares enquanto outras abriram notebooks acionando suas fontes no mundo todo.

Alguns minutos depois um homem oriental se levantou e foi até o chefe que agora olhava pela janela perdido em pensamentos.

- Senhor? - falou com uma voz e postura completamente submissas. O chefe apenas o olhou de lado e ele continuou. - Conversei com fontes em São Paulo, o incidente ocorreu pela manhã e segundo o que apuramos cerca de 23 minutos após localizarem o corpo, ele voltou a ter sinais vitais. Nossa fonte na prefeitura de São Paulo disse que ao rastrear as informações do GPS o evento com as luzes ocorreu cerca de 8 minutos após a saída do local, o que daria algo em torno de 30 a 35 minutos do início do incidente. A equipe da ambulância era experiente e foi confirmado a amnésia parcial do período em que tiveram contato com a vítima. Um ponto importante, não divulgado pela mídia, uma enfermeira teve suas roupas roubadas e o celular de um dos membros da equipe também sumiu.

A expressão do chefe mudava a cada palavra que ouvia, até que levantou a mão e o homem se afastou. O homem então falou, mas para si mesmo do que para os outros.

- Então você apareceu de novo minha amiga. - em seguida gritou para todos na sala - Comecem o protocolo Novo Éden.

Ao dizer isso, colocou a mão por dentro do paletó puxou a arma novamente e deu um tiro na própria cabeça.

EVA - A Primeira Mulher!Onde histórias criam vida. Descubra agora