Capítulo I • O caderno

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Dominika.

Minha mãe sempre gostou desse nome, na cultura Russa é um nome comum, mas para ela, mostrava força e inteligência. Já para mim, é só um nome estranho mesmo.

Madalena Brandão.

Esse sim é um nome que mostra força e inteligência. Minha mãe foi a mulher mais extraordinária que eu tive prazer de conviver. Foi a mulher que me ensinou que toda história possui dois lados, e que devemos sempre ser unânimes em nossa vida, não importa com quem ou o que vamos lidar. Minha mãe me ensinou que devemos ser empáticos, e devemos sempre nos colocar no lugar de quem quer que seja.

Minha mãe me transformou em uma pessoa melhor.

Mas como toda história clichê, ela acabou morrendo, mas não em um acidente de carro, ou afogada, ou até mesmo de infarto. Minha mãe morreu lutando, todos os dias, contra os seus próprios demônios, até que um dia eles a possuíram por completo. Cada átomo de sua existência.

Há um mês ela se matou.

Psicólogos dizem que há dois tipos de suicídio. O primeiro é aquele em que a pessoa quer ser salva, ela o comete em busca de uma salvação, ou somente para deixar claro de que ela precisa de ajuda, geralmente é feito com o uso de remédios. O segundo é aquele em que a pessoa não quer ser salva, a dor que a pessoa sente é tão grande, que ela só quer sessar todos os demônios que perturbam a sua mente. Cada voz. Cada sussurro. Ela só quer que sua existência termine, para sempre. Ele geralmente é efetuado com o uso de uma arma.

Com o tempo, eu percebi que minha mãe se encaixava mais no segundo, não por apenas ter se matado com uma arma, mas por deixar claro, a todo momento, que sua existência não fazia mais diferença para o mundo, mas para mim fazia.

Ela era o meu mundo, e agora eu tenho que aprender a viver em um no qual ela não existe.

Meu pai fica a maior parte do tempo fora de casa viajando a trabalho, agora que ela se foi. Acho que a maior culpa disso é minha. Eu sei que cada parte do meu corpo o lembra dela, e sei que isso é demais para ele aguentar. O amor de sua vida se foi, e agora só resta uma "irmã gêmea" para o lembrar disso a cada segundo.

- Você me deixou um grande problema, mamãe. - Passo os dedos em sua lápide.

Madalena Brandão Amarante, a mulher mais forte que tivemos o prazer de conviver.

Essas palavras não podiam ser mais verdadeiras.

- Eu sinto sua falta, todos os dias. Quando essa dor irá passar?

Ouço um galho se quebrando atrás de mim, e viro assustada.

- Nunca.

Um garoto todo de preto está em pé em minha frente, parado. Seus olhos estão vermelhos, o que acentua a cor verde clara de seus olhos. Um cigarro enfeita os seus dedos, mas está apagado. A verdadeira imagem do Diabo.

- Quem é você? - Pergunto, levantando e limpando a minha calça cheia de terra.

- Não vai fazer diferença você saber quem eu sou. - Ele me responde, com um tom cortante.

Passo a mão na lápide de minha mãe uma última vez.

- Então eu aconselho você me deixar em paz. - Digo, indo em sua direção para ir embora.

Quando estamos lado a lado, um resquício de sorriso aparece em seus lábios, ele não tem muita cara de que ri por piadas idiotas.

- Não antes de você tomar um café comigo. - Ele diz, alto demais, já que estou a uma distância considerável.

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