Capítulo II • Virando a página

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Encaro o amontoado de folhas em cima do centro do meu quarto. Respiro fundo. Eu nunca achei que conseguiria saber qualquer coisa nova sobre a minha mãe novamente.

Eu e meu pai sabíamos que ela possuía um diário, mas nunca o procuramos, e para mim, era algo indiferente. Se eu possuísse um diário, e morresse um dia, não iria querer que lessem as coisas que escrevi enquanto viva. Mas nesse caso, as coisas eram diferentes. Eu tenho tantas perguntas e tantas respostas vazias. Talvez esse caderno possa me ajudar de alguma forma.

Pego-o do centro, e começo a virar a capa, assim que a viro, começo a ler.

Filha,
Eu sabia que esse dia iria chegar, e se você encontrou esse caderno, está na hora de você saber algumas coisas.
Você não é culpada. Se por algum momento você achou que tinha 1% de culpa perante a minha morte, esqueça esses pensamentos! Eu espero que você não me odeie, mas eu tenho certeza que quando você terminar de ler esse caderno, você irá.
Todos têm segredos, e não seria diferente comigo. Há segredos que me assombraram durante anos, e agora irão te assombrar também, mas eu não posso ir embora deixando uma imagem de mim que não é verdadeira, há coisas que você precisa saber. Quando você estiver pronta, vire a página. Você irá conhecer a verdadeira mãe que tem, ou melhor: tinha.
Com amor,
Madalena

Quando termino de ler, minhas mãos estão tremendo. Sei que preciso virar a página e saber as coisas que minha mãe tanto queria que eu soubesse, mas a minha intuição diz que muita coisa nesse caderno não irá me agradar, então eu preciso estar pronta para o que quer que esteja escrito nessas páginas.

Fecho o caderno e o coloco embaixo do meu colchão. Amanhã será um novo dia, e espero que eu esteja pronta para qualquer coisa que esteja escrita nessas páginas.
-
Fazia duas semanas que eu não ia para a escola, minha mãe se matou no começo das aulas, então não perdi tanta matéria. Mas o que mudou quando eu voltei, não foi o conteúdo, mas sim as pessoas.

Assim que eu pisei em meu colégio, todos os olhares foram direcionados para mim, mas eu sabia que isso ia acontecer, porém não estava preparada para perguntas como "por que ela se matou?" ou "você pensa em fazer o mesmo?", muitas vezes, as pessoas são cruéis sem ter noção de que estão sendo.

Quando fecho meu armário, dou de cara com uma menina nova que nunca vi na minha vida.

- Oi, você é a Nika, não é? - Ela pergunta, já que eu não digo nada.

- Dominika. Nika é só para os íntimos. - Respondo, secamente, pois sei que ela irá perguntar qualquer coisa sobre a minha vida que eu não quero falar.

A garota tem um lindo sorriso, que se esvazia com a minha resposta, seus olhos azuis também perdem o brilho, mas o que realmente chama a atenção são seus cabelos escuros que contrastam com a cor de seus olhos.

- E-eu só queria saber se você está bem, sabe? - Ela diz, com medo. - As pessoas daqui não são muito legais, e olha que eu só estou aqui há duas semanas! - Seu sorriso volta novamente, eu gosto dele.

Fico intacta com o que ela me fala. Essa foi a coisa mais gentil que eu ouvi no meu dia inteiro.

- Eu estou indo, obrigada. De verdade! - Respondo a sua (não) pergunta, mais abertamente.

Seu sorriso se abre mais com a minha resposta.

- Fico feliz. - Um silêncio incomodante se instala sobre nós. - Bom, tenho que ir agora. Aula de Geografia. Você sabe como a Stephanie é com atrasos!

Ela se vira rapidamente e começa a andar.

- Ei! - Chamo a garota.  - Calma aí, preciso te perguntar uma coisa.

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