Faltando poucos dias para o meu décimo sexto aniversário, meus pais resolveram se divorciar. Henry moraria com minha mãe no norte da Virgínia e eu moraria em Crystalcity, Oklahoma. Pra ser sincera, nunca gostei muito da ideia de ter que me mudar, então, eu preferia ser àquela a ter que morar com a minha mãe no lugar onde cresci. Mas também, nunca fui próxima à ela quanto meu irmão mais novo, sendo assim, morar com o meu pai foi a única escolha.
Crystalcity é mais o tipo de lugar aonde nós vamos quando algumas coisas em nossas vidas começam a dar erradas, e precisamos de um tempo pra por a cabeça nos eixos, e é menos o tipo de lugar onde eu gostaria de morar. Falando sério, é um dos lugares o qual eu fugiria, na verdade. Mas como eu disse, não tenho escolhas. Deixar Roanoke não foi fácil, de verdade. Não que eu queira desmerecer a cidade a qual se tornará meu lar, mas eu já estava tão acostumada com o pessoal. Meus amigos, que eu verei apenas nas férias. Cristina e Sara, já posso ouvir pelo meu nome.
Cristina é o tipo de amiga sem compaixão e arrogante, o tipo que ou odiamos, ou amamos. Nunca há meio termo quando se trata dessa garota. Eu, é claro, prefiro amá-la. Já Sara é diferente, é o tipo de garota patricinha, a que quer cursar medicina, mas nem sabe quais remédios deve tomar para sua enxaqueca diária. Isso me lembra, um dia quando saímos pra acampar apenas nós três e Robert, o irmão mais velho de Cristina, e então, Sara escorregou em uma ladeira não tão grande assim, mas ao ponto de ralar seus dois joelhos. Pedimos para que Robert, o único adulto entre nós pudesse dar um jeito, para que quando Sara chegasse em casa, seus pais não a proibissem de acampar com a gente outras vezes, e Sara como sempre, querendo bancar a médica, disse que era só lavar os ralados com água oxigenada. E aquilo ardeu pra burro, já que ela saltitou pra lá e pra cá na esperança de que os mini saltos, aliviassem o ardor que estivesse sentindo. São dessas coisas bobas que eu sentirei falta.
Mas o que sentirei mais falta, é de ter um motivo pra abrir os olhos todas as manhãs às 6h45 e tomar meu super banho demorado, secar o cabelo, vestir as roupas mais descoladas e ir para o colégio. Admirar no segundo e no quinto tempo, o sorriso perfeito de Connor Evans. Ele é o que Cristina chama de "AFFAIR".
Conheci Cristina Ross quando tínhamos seis anos. Ela é a minha "gêmea". Nós nos conhecemos em um salão de festas de aniversários infantis, e Cristina e eu fazemos aniversário no mesmo dia. Fizemos nossa festa de seis anos no Turken Party, e nos sentimos atraídas uma pela outra. Não um caso lésbico infantil, isso jamais rolaria entre a gente, mas nós duas odiamos palhaços, e por incrível que pareça, cada pai daquele maldito dia, revolveu contratar um palhaço pra animar os 45 minutos de cada festa. Imagina só nossas caras ao ver pelo menos uns quatro palhaços sentados esperando sua vez chegar para poderem assustar as pobres crianças como Cristina e eu.
Logo depois, quando completei nove anos, minha vizinha Agnella e sua esposa Francine foram brutalmente assassinadas na residência que é, exatamente ao lado da minha. Não demorou seis meses até que uma nova família comprou o imóvel pelo valor de 60% mais barato do que de costume. E então, conheci Sara Hayes, a loira mais bonita que já havia visto na vida. E se duvidar, até agora é a mais bonita!
Henry é um ano mais novo que eu, cabelos claros e olhos verdes. É bem mais alto que eu, e bem mais alto que qualquer um dos meus pais. Sempre foi um dos melhores alunos da classe, e até ganhou um prêmio um dia por nunca faltar durante todo o ano letivo. Ele é e sempre foi mais dedicado que eu. Pois desde que me lembro, cabulava aulas pra poder ficar com Connor no campo que tinha perto do nosso colégio. Quase todos que conhecíamos matavam aulas para "namorar" as escondidas ali. O dia em que minha mãe resolveu passar por ali depois de ir ao supermercado, e me viu deitada no colo de um garoto mais velho, ela teve um surto psicótico e me fez passar a maior vergonha da minha vida. Desceu do carro, e o parou no meio da rua, com vários outros carros atrás querendo continuar seus trajetos. Ela já desceu gritando meu nome: "KENZIE!". Naquele momento eu soube que talvez, nunca mais sairia de casa. Pra ser franca, até que ela não gritou... tanto comigo! Uns dois berros mandando eu levantar e entrar no carro, e berrou do campo até o carro. Berrou batendo a porta. Berrou o caminho de volta pra casa, berrou quando saímos do carro e berrou enquanto eu subia a escada para o meu quarto. Bom, ela costumava a berrar.
Mas no dia em que ela e meu pai voltaram de uma festa de amigos, e encontrou Henry deitado na cama deles com uma garota. Ela apenas o repreendeu, dizendo que a cama dela não era pra ele levar garotas. Sarcasmo! A verdade é que, minha mãe e eu nunca nos entendemos bem. Sempre que tínhamos a oportunidade, nós duas brigávamos e isso era o dia todo. Eu acho, egoisticamente falando, que nem a amo. Quero dizer, sou grata por ela ter me dado a vida. Não deve ser fácil carregar um bebê durante nove meses em sua barriga e sentir todas as dores, desconfortos, as mudanças corporais, dor do parto e olhar pra uma versão jovem e mais bonita saindo de você, depois de tudo... Mas mesmo pensando assim, eu não a amo. E no máximo, devo gostar. Um pouco...
Agora, Steve sempre foi o melhor pai do mundo! Na boa. Sempre fez minhas vontades e todos os domingos, ele me acordava logo pela manhã e pedia pra que eu acordasse Henry, e íamos até o Dorlly, uma sorveteria no centro. Fazíamos isso sem nossa mãe, pois ela reclamava se acordássemos ela pela manhã num domingo. Daria minha vida ao meu pai, coisa que jamais faria pela minha mãe.
Eu a odeio!
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Rua Tolresttown
FanfictionKenzie é uma garota que acabou de se mudar para Crystalcity, uma cidade em Oklahoma, logo após o divorcio dos pais. Deixando toda sua vida para trás para morar com Steve, seu pai, a jovem de quase dezesseis anos precisará se encontrar novamente em u...