único: na trave?

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Era o dia mais épico da minha vida. Cara, eu estava animado demais da conta. Sabe quando você faz algo pela primeira vez e tudo é novo? Exatamente como eu me sentia naquele momento, gritando juntamente à torcida no meio da minha primeiríssima partida de futebol ao vivo. 

Incrível. Não só acompanhar tudo frente a frente, mas sim ver tanta gente pulando e torcendo junto. Tanta animação, alegria contagiante… Tudo era bonito demais.

Do outro lado do gramado, as arquibancadas eram uma mistura de vermelho e azul. A torcida organizada gritava o hino do meu time em uma só voz, o que me enchia os olhos de lágrimas. Puta merda, era demais para o meu pobre coração.

Mais ao lado, uma bandeira gigante cobria uma boa parte dos assentos. É, eu estava em casa. Minha segunda casa.

Em campo, os jogadores corriam de um lado para o outro atrás da bola. Alguns metros mais a frente, o homem mirou no gol e chutou. A torcida foi à loucura. E eu também.

Jeon Jungkook, 17 anos, nunca tinha visto uma partida sem ser pela tevê. Quando começaram a construir a arena, vi a chance perfeita de convencer o meu pai a me levar ver um jogo. Não foi fácil, admito, porque ele não torcia para o meu time. Anos depois, quando as obras já tinham acabado e partidas rolado, meu velho cedeu. Por quê? Oras, porque os nossos times jogariam um contra o outro. Ah, aquilo pararia o Rio Grande do Sul. Era sempre assim quando tinha Grenal.

Moro em Porto Alegre desde sempre. Às vezes me aventuro e vou para o interior, mas a capital é especial para mim. Não é só aquela cidade, o estado inteiro me traz uma sensação enorme de conforto, sabe? Não sei explicar direito. É como estar onde eu deveria estar.

Meu pai soltou um muxoxo, cruzando os braços e revirando os olhos. Enquanto a maioria da galera estava de pé, ele não tinha sequer se mexido.

— Não sei como consegue gostar desses molengas, Jungkook — disse assim que eu me sentei. — Céus, onde foi que eu errei?

Dei risada.

— Esses mesmos molengas estão ganhando de dois a um, meu velho. — Dei alguns tapinhas na sua perna. Não era muito diferente em casa, sempre tinha aquela provocação no ar, já que ambos os meus progenitores eram colorados. Não, mas não só eles, todos os Jeon também eram. Eu era oficialmente a ovelha negra da família. Ou seria azul?

— Olha, eu não vou nem te responder. O Inter só não dominou o Rio Grande do Sul ainda porque não quer, então vê se fecha o bico.

Balancei os ombros, deixando claro que não estava nem aí. Aquela técnica de ilusão não funcionaria comigo, pelo menos não em solo sagrado. Amém, Arena do Grêmio.

— Não tô conseguindo respirar direito. — Olhei para o meu pai. Ele segurava a mão no peito e fazia careta. — É muito gremista junto, isso não faz bem para a saúde.

— Pai, para quem sobreviveu no Beira-Rio três vezes, isso aqui é inofensivo.

Ele bufou.

— Quando sairmos daqui vamos tomar banho com desinfetante. Principalmente você, que está com essa roupa ridícula.

Arqueei as sobrancelhas.

— Eu tô de terno! — Puxei a blusa pelo símbolo do Grêmio e o beijei, fazendo meu pai abrir a boca em descrença, como se não pudesse acreditar.

— Só me dá desgosto. Ainda bem que o seu irmão traz honra e orgulho para a família, viu.

Só ri, sabia que era brincadeira. Meus pais me amavam do fundo do coração, tanto que demonstravam até demais. Bem, isso quando não tinha futebol envolvido.

gol! × pjm+jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora