O sol já se escondia por de trás dos majestosos prédios. O ar arrefecia cada vez mais e as nuvens negras carregavam uma tempestade pronta a despontar.
Na rua, os passeios e a estrada estava silenciosos. Ninguém saía da casa com medo de apanhar com a tempestade que aí vinha. O som de saltos a caminhar apressadamente era o único som que preenchia o ar. Depressa se lhes juntou a som de soluços abafados. Ao longe ouviu-se o som de um trovão. A morena caminhava apressada e solitária. Os seus olhos verdes hipnotizantes estavam, agora, vermelhos e inchados. O seu rosto abonecado estava marcado pelas lágrimas e o seu nariz vermelho por conta do frio. As suas mãos estavam escondidas nos bolsos da gabardina preta, o nariz estava abrigado pelo cachecol vermelho que ela tinha ao pescoço e as orelhas mantinham-se aquecidas pelo gorro igualmente vermelho. Outro trovão. A chuva começou a cair furiosamente. A morena, que antes andava apressadamente, parou a meio do caminho e olhou para o céu sentindo as pingas gordas caírem-lhe na face. Respirou fundo e desatou a correr com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto, misturando-se com a chuva. Apertou os olhos com força, as amargas e vividas lembranças de horas atrás ardiam-lhe no peito, parecendo trespassá-la como lanças afiadas e parecendo um fogo que ardia e a consumia dolorosamente por dentro, como uma espécie de tortura feita pela sua mente, que parecia querer insistir na recordação daquilo que ele lhe tinha feito.
As lágrimas caiam com mais força à medida que os flashes de memórias lhe invadiam a mente. Porquê ela? Porquê? Porque é que ela escolhia confiar sempre nas pessoas erradas? Passou por uma mulher com guarda-chuva que a olhou como se fosse louca. Tropeçou nos seus próprios pés e caiu no chão, mantendo-se lá.
- Desculpe, está tudo bem? Porque permanece aí deitada?- a morena levanta o olhar embaçado.
A senhora, que deveria ser a única pessoa para além dela suficientemente louca para sair à rua co uma tempestade daquelas, não devia ter reparado nas lágrimas que lhe escorriam pela face pois, na verdade, ninguém nota quando choramos na chuva.
Ela apenas assentiu e levantou-se, agradecendo pela preocupação, e voltou a correr.
Uns metros à frente chocou contra alguém e, antes, que caísse pela segunda vez ao chão, foi apanhada. Olhou para a pessoa com quem chocou e surpreendeu-se ao ver o seu melhor amigo, o causador de todas aquelas lágrimas e sofrimento.
Porque estava a sofrer, primeiro de tudo?
Bem, isso nem ela sabia bem ao certo, para ser sincera. Só sabia aquilo que tinha visto: O seu melhor amigo a sair de mãos dadas com a sua “arqui-inimiga” para depois, mais tarde, a beijar.
Nem adiantava negar, ela tinha visto tudo com os seus próprios olhos. Mas, o que ela estava a sentir, é que não entendia. Não parecia ser só raiva, não, não era. Sentia também uma espécie de fogo dilacerante no fundo do coração. Só lhe apetecia espancá-lo, e à rapariga também.
- Para de ser infantil! Não aconteceu nada!
- Como é que podes dizer isso quando eu vi tudo? Eu vi-te Justin! Eu vi-te a beijares a andares de mãos dadas com aquela sem sal!
- Mas não foi isso que aconteceu Melissa! Eu nunca faria isso porque, porque…
- Porquê? Porquê?
- Porque eu te amo!- a menor arregalou os olhos. A sua respiração tornou-se descompassada, o seu coração estava a mil e o seu rosto ganhou uma coloração vermelha. O que é que iria dizer? Ele era o seu melhor amigo desde que se entendia por gente!- Amo-te desde que te conheci. Todos os teus tiques, todas as tuas manias, todos os teus gestos, a maneira como dizes as coisas, a maneira como resolves sempre as situações por mais difíceis que pareçam… Tudo! Eu só… Amo-te por tudo aquilo que és.- terminou com a cabeça baixa, talvez por medo de ser rejeitado, quem sabe.
Os olhos verdes da morena lacrimejaram ainda mais e, naquele momento, percebeu que aquele sentimento era reciproco. Ela amava-o pela forma que esteve sempre com ela, pela forma como sempre a apoiava, pela sua maneira de ser, pela sua maneira de ver sempre o lado positivo das coisas. Amava os seus olhos azuis mar e os seus cabelos preto petróleo. Amava a sua forma de ver as coisas e a forma como acreditava e encorajava os outros. Enfim, ela amava tudo nele! E não se imaginava a viver uma vida em que ele não existisse, num mundo sem ele. Respirou fundo fechando os olhos e abriu-os logo depois, pegando nas mãos dele e tomando coragem para o que iria dizer a seguir.
- E-Eu também te amo.- o rapaz levantou a cabeça com um sorriso no rosto e os olhos com um brilhozinho no fundo. Olharam olhos nos olhos um do outro e aproximaram-se, selando os lábios na chuva. A morena retornou a chorar mas, desta vez, de alegria, mas nenhum dos dois reparou afinal, ninguém nota quando choramos na chuva.
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Ninguém nota quando choramos na chuva- Oneshot
Teen FictionA chuva caia incessantemente e as nuvens negras davam indícios de que tão cedo não iria parar. Lágrimas escorriam-lhe pela face cada vez que se lembrava daquilo que se tinha passado mas ninguém notava. Afinal, ninguém nota quando choramos na chuva. ...