O Homem de Preto

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O quarto era escuro

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O quarto era escuro. Ela podia sentir o suor escorrendo pela pele, seus membros não mais obedeciam. Aos poucos, o estado letárgico ia tomando conta de seu organismo, tornando-a prisioneira de uma mente assustada. Pouco tempo lhe restava. Ao fundo, um par de olhos rubros ardiam como brasas, prestes a saciar sua sede. Ela era a próxima vítima. Como pôde ser tão descuidada? Agora, em seus últimos momentos ela sabia. Os sinais deixados eram óbvios, bastava ter reparado neles. Mas o medo do sobrenatural não tinha mais lugar no mundo, as pessoas não fazem mais ideia das criaturas que habitam as sombras. Suzana chorou, sabendo que não havia mais volta. Dizem que pouco antes da morte as últimas lembranças passam por nossa mente. Assim sendo, ela começou a recordar como tudo aquilo começou.

Suzana, estudante de 18 anos, ruiva e pele levemente morena, estudava Direito em São Bernardo do Campo. Como não tinha parentes por lá, dedidiu morar em uma república com alguns amigos, afinal isso economizava muito dinheiro. Ela tinha orgulho de ser uma aluna dedicada, todo fim de semana enfiando a cara nos livros de legislação; e estava feliz por que isso nao a impedia de sair com os amigos, ir em festas... Tinha uma vida social bem agitada. Andava sempre com suas amigas do peito, Andréia e Paloma. Com as duas, tudo era diversão e zoeira, parecia que elas eram irmãs separadas no nascimento, pois elas se completavam. Cada uma cuidava da outra - todas as vezes em que uma delas bebia além da conta, ou estava a fim de um garoto, as outras agiam como um misto de cupido e anjo da guarda. Eram inseparáveis.

No começo do ano, pouparam o cofrinho para irem todas juntas para um grande festival de música, várias bandas indies iriam para lá, e as amigas, é claro, queriam curtir e tirar várias selfies por lá. Suzana, embora meio tímida, se divertiu muito por lá. A emoção da música, a multidão indo ao delírio, tudo era sensacional. Contudo, algo havia lhe chamado a atenção. Mesmo em seu estado de quase bebedeira, ela reparou quando, ao longe, um homem a observava. Isso não era exatamente uma novidade, ela era atraente, e não eram poucos os homens que lhe lançavam olhares - mas aquele sujeito era diferente. Vestia um sobretudo negro, sua pele era incrivelmente pálida. Durante as duas noites ele apareceu, sempre à noite. Mas não colocou reparo nele. Para Suzana, devia ser apenas mais um gótico ou metaleiro no meio da multidão, que ficava na farra a noite toda e dormia durante o dia.

Após muita curtição no show do The Murderers, subiu a colina acima, perto de onde ficavam as barracas do pessoal que acampava. Estava exausta. Erguendo os olhos, começou a admirar as estrelas.

Linda noite, não acha? - disse uma voz grave e seca ao seu lado.

Era o homem de sobretudo. Na certa mais um galanteador. De imediato desejou que suas amigas estivessem ali.

- O que você quer? - ela perguntou, seus músculos retesaram, prontos para correr.

- Só estou admirando a paisagem como você - ele disse, sem virar a cabeça - qual o seu nome?

O Homem de Preto - um conto vampirescoWhere stories live. Discover now