3- No qual eu provo ter mente aberta

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Peter ficou muito chateado quando eu disse que queria imortalizá-lo em sua aparência de oito anos. Ele disse que eu nem tinha como saber quando era o aniversário dele pra dizer que ele tinha feito oito anos, mas na verdade eu sabia sim. Com concentração, só precisei de um toque nele enquanto o pequeno dormia pra sentir a data. Tipo quando você passa a mão na pele de alguém e percebe que está ressecada... Só que de uma forma que exige concentração, e você pode descobrir muita coisa.


No meio dessas coisas, eu encontrei uma memória. O fogo que ele disse que via... Não parecia ser da vila queimando. Eu queria ver mais, porém tive que tirar minha mão antes que um pressentimento ruim tomasse conta de mim.


Não achei uma boa ideia mencionar essa parte, então só lhe disse que ao tocar nele um dia desses eu pude sentir o dia de seu aniversário. Ele me olhou desconfiado, mas não porque acreditasse que eu não tivesse capacidade pra isso. Peter era a pessoa no mundo, depois de mim, que mais deveria saber o quão poderosa eu sou.


Fez um pouco mais de sentido quando ele disse que não entendia por que eu iria me importar com algo como aniversário, ou com quantos anos ele tinha. Seus pais não comemoravam, só o consideravam como filho no sentido de propriedade, e no orfanato celebravam pra todas as crianças junto do Natal. Ele não via valor algum em aniversários exceto pela comida, e isso não era realmente uma questão comigo. Se podíamos comer bem, comíamos. Se precisávamos cozinhar umas raízes no meio da floresta, então comíamos elas. Mesmo que ele implicasse comigo, durante tantos meses e viagens, ele nunca reclamava de nossas condições de verdade. Peter parecia muito satisfeito em estar comigo.


Isso me deixava feliz, mas às vezes eu ficava preocupada com sua falta de egoísmo. Era admirável pra um ser humano, mas como uma criança, ele deveria dizer que quer algo pelo menos de vez em quando, certo? Mas ele não demonstrava interesse profundo no que fosse. Peter se contentava tão rápido se não podia ter algo que só me fazia querer mimar ele mais ainda. Parecia até que a única coisa que ele era insistente era que eu levasse ele comigo pra onde fosse.


Eu realmente queria que ele passasse a pensar que sua existência era algo a ser celebrado. Tudo bem que eu já não fazia ideia de quantos anos eu tinha, e festa de aniversário? Nunca nem vi, mas... Ele cresceu entre humanos, não foi? Não deveria meio que fazer parte da natureza humana gostar de fazer festas por qualquer desculpa e fugir da cruel realidade? Se ele se sentia culpado por ter nascido albino...


Ainda mais motivo pra fazermos uma festa bombástica e imortalizá-lo antes que sua fofura se fosse! Depois de alguns séculos ele com certeza iria perceber a preciosidade de sua aparência!


Depois que eu disse isso, ele fechou a porta da casa abandonada em que estávamos vivendo na minha cara. Eu não queria ter que ajeitar a porta, então achei melhor deixar pra lá a ideia de derrubar e fui caçar algo pro almoço. Como eu sou muito boazinha, é claro que não saí sem antes colocar um feitiço de barreira na casa, mesmo que CERTAS PESSOAS me expulsem da casa que EU achei.


Haa... Bem, ainda que eu diga que a casa era abandonada, ela não estava caindo aos pedaços. Era uma casinha pequena e confortável, exceto pelo mofo que tivemos que limpar e os ratos que eu adotei como cobaias pra poções. Oh, e os corpos de pessoas doentes. Minha dedução dizia que a cidade toda havia sido dizimada pela doença, então pudemos escolher onde íamos ficar. Achei melhor uma casa afastada e pequena, podendo guardar menos surpresas. Ou fantasmas.


Andando pela cidade, eu podia casualmente ver os efeitos da tragédia parada no tempo e dar de cara com vários fantasmas. Não me preocupei de falar com nenhum deles.


Isso tudo só me fazia pensar que Peter poderia morrer um dia. Desde a primeira noite, estive pouco a um despejando minha mágica nele pra que fosse imune a doenças e se regenerasse como eu, já que as chances de dar errado se eu tentasse completar o processo de uma vez eram enormes. Mas até que seu corpo chegasse no nível do meu... E olhe que o meu ainda tinha seus problemas.

Eu avisei que não sabia cuidar de criançaOnde histórias criam vida. Descubra agora