playlist dos anos 2000

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 Após prender os cabelos num coque o alto da cabeça, Maria deixou um suspiro de preguiça escapar.

Havia se mudado para aquele kitnet há seis meses, mas ainda não tinha tido coragem de organizar todos seus pertences nos devidos lugares. Estava morando sozinha, afinal. Não tinha ninguém lhe enchendo os ouvidos para guardar todas aquelas tralhas. Na verdade, só ia arrumar tudo porque precisava de espaço no quarto.

Entre seus livros, uma caixa esquecida lhe chamou atenção. Era uma daquelas caixas de presente, colorida até o talo, com uma fita de enfeite. Maria se permitiu rir e largou imediatamente as sacolas que estava levando para o lixo.

Naquela caixa estavam todos os presentes dados por antigos amores.

A maioria das pessoas diria que ela remói algum sentimento para guardar os presentes daquele jeito, já que a sabedoria popular branda o ditado de que de "Ex bom é Ex morto", mas Maria apenas tentava ver os objetos como lembrança física do período bom de cada relacionamento.

Ela nem teve tantos namoros assim, na verdade. Foram apenas três: Enzo, Gabriel e Sophia. As mães da geração passada não tinham muita criatividade, era o que ela sempre dizia.

Enzo havia sido seu primeiro namorado oficial – os beijinhos trocados no verdade e desafio não contavam. Seu item na caixa de Ex's, eram ingressos já apagados de um show do NxZero.

Na adolescência Maria tinha passado por todas as tribos, incluindo a emo. Razões e Emoções foi trilha sonora dos passeios de bicicleta com Enzo na volta da escola, assim como foi do término. Nessa altura do campeonato já nem lembrava o motivo pelo qual dispensou o garoto, só sabia que de repente, não davam mais certo.

O pingente de lobo que pendia numa fita azul era o item dado por Sophia. Ela estudava para ser veterinária e tinha uma obsessão especial por lobos. A morena foi dona do coração de Maria por um bom tempo. A paixão foi avassaladora, daquelas que arrancava suspiros apenas com a menção do nome da amada.

O pingente tinha sido o presente de um ano de namoro. Elas se conheceram no último ano da escola, no qual Maria quase arrancou os cabelos por conta dos vestibulares, só encontrando chamego nos braços da moça.

Sophia tinha Maria na palma de sua mão, e tinha total consciência disso. Os ciúmes disfarçados de instinto protetor afastaram Maria de todos seus amigos. As discussões por motivos banais viraram rotina. Aquele amor cego definhou Maria na mesma proporção que lhe deu forças no início. O romance durou três anos entre idas e vindas, mas a mágoa permaneceu por muito mais tempo que isso.

O CD da Calcinha Preta era o item de Gabriel. Maria o conheceu num inimigo secreto da família que foi obrigada a participar. Ele era o melhor amigo de sua prima mais nova, mas vivia tanto pela casa que foi "adotado".

Gabriel era super alto-astral, sempre aparecia com uma piada idiota pra arrancar uma gargalhada esquisita de Maria. Eles aprenderam juntos a dançar forró – ao som do CD que foi presenteado. – e andaram de montanha russa pela primeira vez juntos – mesmo que depois tenham ido parar na enfermaria do parque, foi uma bela experiencia.

O lado divertido de Gabriel era ótimo, mas Maria queria parar. Dar finalmente um rumo definitivo em sua vida, sair do ninho da mãe.

Acontece que Gabriel não quis sair de sua zona de conforto. Ainda não estava pronto pra encarar a vida a sério, então juntos decidiram que era melhor se separarem.

Foi o término mais clichê de todos, com direito a muito sorvete, colo de mãe e uma playlist com músicas dos anos 2000. Uma daquelas experiências que todo mundo vai passar um dia.

Atualmente, estava enrolada num flerte pesado com uma colega de mestrado, ela nem era da sua turma mas frequentava o local nos mesmos dias que Maria. Tinha um sorriso lindo demais e cabelos tão brilhosos quanto Edward Cullen no sol do Rio de Janeiro. Já era uma vitória sem precedentes ter um flerte correspondido, na maioria das vezes Maria não sabia flertar com ninguém e acabava sendo rejeitada por ter cara de hétero demais pras minas, e de sapatão demais pros manos.

Sua técnica de sedução era rezar pra pessoa escolhida sacar qual eram suas intenções.

Seu celular vibrou com uma notificação de mensagem, a tirando do transe nostálgico que sempre entrava quando arrumava seu guarda-roupa.

Era sua melhor amiga, com um print do perfil da moça do mestrado numa rede social qualquer. A legenda lhe fez levar a mão na testa num misto de surpresa e gargalhadas.

"Depois de ter namorado um Enzo, você acabou de desbloquear um nível dourado da bissexualidade. Ela se chama Valentina."




-x-

Diferente do usual conteudo que eu posto aqui (fanfics), quis trazer uma história original que escrevi uns meses atrás pra um concurso. É o mês do orgulho LGBT+, pessoal! E eu nao poderia deixar passar sem estender minha bandeirinha lindissima da bissexualidade.

Nos vemos por ai nos sites de leitura.

beijos, Laila.

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2019 ⏰

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