Capítulo V • Copa de Água

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Estava na área externa da Biblioteca de São Paulo. Eu amava aquele lugar e tudo que ele representava para mim.

Até meus 15 anos, minha mãe vinha comigo nesse lugar todos os domingos. Sentávamos nas poltronas e ficávamos horas e mais horas lendo os livros. Não falávamos nada, mas sabíamos que estávamos presentes uma para a outra ali.

Quando a dor de sua falta se torna insuportável, venho nessa biblioteca para poder colocar meus pensamentos em ordem.

É engraçado quando achamos que nossa vida está perdida e que não podemos fazer mais nada para colocar ela novamente nos trilhos. Muitas vezes, os obstáculos não são tão difíceis de serem superados, mas o nosso medo das consequências pode calar as nossas ações e nos impedir de seguir em frente.

- Oi. - Uma garota loira de olhos verdes se senta na poltrona ao meu lado. - Você não é estranha para mim.

Dou um pequeno sorriso, sem querer conversar muito. Ela não é estranha para mim também, na verdade, eu até sei quem ela é. Já a vi algumas vezes andando nos corredores da escola com a garota ruiva-louca-nua. Sei que ela deve ser amiga da ruiva, mesmo não a conhecendo, eu preferiria manter distância.

- Hum, oi.

- Nossa, me desculpe! Eu só queria conversar. - Ela diz, levantando as mãos, mostrando que é inocente.

Vendo aquela cena, um sentimento de remorso atinge o meu peito, e sei que não devo julgar a garota por conta de suas amizades.

- Me desculpe, eu só não estou muito no clima para conversa. Mas então, qual é o seu nome?

- Rebecca. - Ela responde, rapidamente. - Mas você pode me chamar de Becca, na verdade, todos me chamam assim.

De alguma forma estranha, eu gostei de Becca, e não vejo problema nenhum em conversar com ela. Rebecca deve ser uma dessas garotas que andam com a menina má só para ser popular, mas na verdade, passam metade da sua vida estudantil na sombra de uma megera, e não percebem.

- Olha, eu sei que a Hannah não é nada legal. - Ela diz, percebendo que eu sei quem ela é. Hannah, esse deve ser o nome da ruiva.  - E eu vi o que ela fez com você no corredor naquele dia. Eu sei que deveria ter feito alguma coisa para evitar ou ter te ajudado, mas eu não fiz. E eu to aqui para tentar me redimir, me desculpe, de verdade. Eu realmente fiquei mal por você estar naquela situação e não ter feito nada!

Algo em seus olhos não me mostrava que ela estava realmente arrependida, mas resolvi ignorar, não queria ser inimiga de mais uma garota da minha escola.

- Tudo bem, você não tem culpa, Becca. - Disse, tentando ser sincera.

Ela abre um pequeno sorriso.

- É, mas para mim isso não é o suficiente. - Becca olha para as suas mãos, que estão em seu colo. - Mais tarde haverá uma festa em minha casa, e seria legal se você fosse. - Ela fez uma pausa, pensando em algo. - Na verdade, você poderia ir agora para a minha casa! Poderíamos nos arrumar juntas e nos conhecermos melhor. Você realmente parece ser uma garota legal, seria, no mínimo, incrível ser sua amiga!

Fico meio receosa de aceitar seu convite por conta dela ser amiga de Hannah, e eu não saber nada sobre a garota, mas não podemos julgar as pessoas por conta de quem elas andam, ou podemos?

- Tudo bem. - Respondo, por final.

Seu sorriso se acende, porém há algo em seu olhar que me faz querer desistir da ideia naquele exato momento.
-
A casa de Becca é incrível. É praticamente impossível não deduzir que ela seja rica. Há móveis de madeira por toda a casa, e o carro de última geração, de uma marca que eu não consigo nem soletrar o nome, estacionado na garagem de sua casa me convence ainda mais que a loira nada no mar de dinheiro.

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