Capítulo X • Ghost

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Jonathan

A mulher que cuida de mim está com a cabeça prensada contra o travesseiro. Meu pai fazia movimentos de sobe e desce que eu não fazia ideia do que significava naquela época, mas hoje em dia eu sei bem o significado que tinha. Mesmo com a idade que eu tinha, eu sabia que ele era um monstro, e destruía tudo que tocava. Exatamente tudo. E o pior: não se sentia mal por isso.

Dos olhos da mulher saia a maior quantidade de água que eu já vi na vida, entretanto, há algo que falta neles. Brilho, vida, sentimentos. Parece que a cada vez que o corpo de meu pai se choca com o dela, a sua alma escapa mais de seu corpo.

Dou a minha mão para ela, mas sei que não é mais uma mão de criança, é a minha mão de hoje em dia. Sou eu adulto tentando dar suporte para a mulher. Mas há algo nela que nunca muda. A marca da Lua. Ela continua lá, intacta. Ela sempre continua lá para me lembrar de quem eu sou filho.

- Me desculpe. - Digo, mas já é tarde demais.

Acordo totalmente molhado de suor do sonho. Minhas mãos tremem, e meus olhos estão cheios de lágrimas. Fazia meses que não tinha esses pesadelos, mas de um tempo para cá, eles se tornaram mais frequentes.

Fecho os olhos tentando esquecer a imagem da mulher, mas sei que é uma ação em vão.

Eu tinha cinco anos, mas eu poderia a ter ajudado. Eu poderia ter pego qualquer coisa ao meu redor e ter nocauteado o meu pai, mas por que eu não fiz isso? Por que eu deixei ele estuprar aquela mulher?

Eu sabia que ela era especial para mim. Eu sabia que gostava dela, mas não conseguia me lembrar de seu nome, mas há algo que eu lembro.

Ghost.

Ela me chamava de Ghost. Algo relacionado por eu me esconder bem, eu me sentia bem quando ela me chamava por esse apelido. Eu me sentia amado como eu nunca fui, mas depois daquela noite, ela sumiu, meus pais haviam me contado que ela havia se mudado para São Paulo.

Era por isso que eu me mudei para essa cidade. Para talvez encontrá-la em uma cafeteria, no shopping ou em uma rua qualquer. Será que ela estava bem? Será que ela estava feliz? Será que ela estava viva?

Eu queria me desculpar. Queria pedir perdão por não ter feito alguma coisa contra o meu pai, queria pedir perdão por ter ficado embaixo daquela cama feito um covarde. Feito um fantasma. Ghost.

Aquilo havia me assombrado durante toda a minha vida. Durante os 17 anos seguintes, cada noite, cada sonho, cada pensamento era sobre ela.

Eu odiava cada átomo do meu pai. Eu odiava cada respiração que ele dava. Eu odiava o fato dele ter estragado a minha vida quando eu tinha penas cinco anos.

Quando eu descobri que minha mãe estava grávida de Pandora, jurei proteger minha irmã a qualquer custo, principalmente do monstro que vivia na mesma casa que eu, queria a proteger para que assim nenhuma pessoa fosse capaz de acabar com sua vida com apenas cinco anos.

Afastei Pandora das facetas mais assombrosas de meu pai, mas as coisas pioraram quando minha mãe morreu no parto de minha irmã, e a cada dia que se passava, ele a convencia de que a morte de nossa mãe, era na verdade, sua culpa.

A culpa pelo que aconteceu com a aquela mulher estava me consumindo tanto, que tive que me mudar para São Paulo em busca dela. Tentei trazer Pandora comigo, mas de alguma forma, ela se importava com nosso pai ainda.

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