Um Fardo

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MESES DEPOIS

Christopher Goldschmied

  
Antes que eu entrasse em meu carro, muito atrasado para uma reunião com o Robert, fui abordado por Madeleine.

Revirei os meus olhos e afastei o meu braço do aperto da mão dela.

— Christopher — Ela segurou a porta antes que eu a fechasse — Já faz meses... — Percebi o tom triste na voz dela.

Fazia meses que eu não conversava com o meu pai e que não olhava na cara da Madeleine. Eu pensei que eles já tinham desistido de se comunicar comigo, porque faz um bom tempo desde a última vez que vi o meu pai ou que ele me ligou.

— Não podemos fazer uma trégua? — Ela abriu a porta e me encarou — O seu pai está doente, muito doente...

— Ele está doente há um bom tempo — Falei com frieza — Nada mudou.

— Ele está de cama — Madeleine disse e depois suspirou, prestes a chorar — Ele está à beira da morte, Christopher. Você precisa conversar com ele... E se despedir dele... Você vai se arrepender pelo resto da vida se ignorar isso.

Respirei profundamente e liguei o meu carro, pensando em ignorar a voz em minha cabeça que dizia para dar ouvidos à Madeleine.

— Até a Angelique veio! — A minha madrasta disse e eu a encarei com o cenho franzido — Ela veio se despedir... Ele está morrendo, Chris.

Eu não sabia qual informação me deixava mais desnorteado... Se era a que o meu pai estava morrendo ou que Angelique estava de volta. De repente o anel de noivado no meu dedo pesou demais.

Estou noivo de Kira, basicamente porque ela me pegou no flagra beijando a Rose nos bastidores do desfile da Celina Stone no LFW.

Foi a forma que encontrei para tentar fazer ela se controlar naquele momento. Não menti ao dizer que a Rose tinha me agarrado, era verdade, mas omiti o fato de que eu deixei ela fazer isso.

— Ele está morrendo de câncer? — Perguntei e ela assentiu. Realmente ele devia estar muito mal já que até as suas garotas francesas estão sabendo da sua doença — Levou ele para um hospital?

— Ele se recusa, Chris — Ela falou — Estamos fazendo o que podemos em casa. Mas sem o tratamento adequado, ele não vai sobreviver... Ele pediu que buscassem Angelique e pediu para eu chamar você. Ele acha que não passa dessa noite.

Eu senti as minhas pálpebras tremerem e as lágrimas acumularem em meus olhos.

Bati no volante com força e com raiva, depois cobri o meu rosto com as minhas mãos.

Senti vontade de gritar, de xingar...

Limpei as minhas lágrimas antes que elas escorressem pelo meu rosto e voltei a encarar Madeleine.

— Tudo bem — Eu suspirei — Vou para casa.

Ela concordou e se afastou do meu carro para ir até o do meu pai. O motorista estava à sua espera.

Arranquei o carro e dirigi em direção à casa que eu tentei evitar por tanto tempo... Com uma mão no voltante e a outra no rosto, pronto para afastar qualquer vestígio de choro que abraçava surgir de dez em dez segundos, mas eu estou desesperado, e não posso esconder isso de mim mesmo.

Mesmo depois que o meu pai me contou que estava doente, isso pareceu uma ideia muito distante. Acho que nunca acreditei de fato que ele estava prestes à morrer. Sempre o vi como um homem muito forte, nunca imaginei que ele fosse morrer um dia, sabia que mais cedo ou mais tarde aconteceria, mas era algo muito distante do que pensei que fosse a realidade.

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