Das luzes vermelhas para completa escuridão, a neve tocava na minha pele exposta congelando aos poucos os sentidos, minhas pernas falham e sinto meu corpo sumir aos poucos do mundo. Meu sangue congelado me deixa menos angustiado, sinto algo quente no meu rosto e percebo que lágrimas faziam seu rastro pela minha pele fria e amargurada. Fui a primeira alma a conseguir pisar no lado de fora.
Consigo ouvir os tanques chegando, os soldados estão com raiva, eles querem sangue.
No fundo da escuridão consigo ver um vulto, talvez seja apenas minha imaginação brincando novamente com minha mente falha, porem mesmo tão longe consigo sentir o olhar da Coisa sobre mim. Sim, eu consigo.
Imagino já ter encontrado aquela coisa em outro lugar, era como se eu pudesse ler seus pensamentos, ela me olhava dizendo quase "é...chegou sua hora, foi um prazer te conhecer" e mesmo agora eu não reconheço o vulto.
A Coisa parece se aproximar mais, a Coisa pode ser um fantasma ou talvez uma pessoa, não sei dizer ao certo mas a Coisa se aproxima.
Consigo ouvir os tanque se aproximando, os soldados estão com raiva, eles querem sangue e a Coisa me encara.
Talvez seja a própria morte, sim, não havia pensando isso antes. Deve ser a morte, por isso tão familiar essa sensação de observação. A morte me encara, quase ironicamente vejo um sorriso da Coisa.
A morte sorriu para mim, lembro que quando a morte sorria era porque eu iria viver, mas nas atuais circunstancias duvido que a morte me salve. Ela é tão linda, a Coisa é tão linda.
Não sinto mais dor, não consigo mais me mover, eu apenas observo a morte me olhar " mais uma alma hoje, mas você fugiu, parabéns" consigo escutar essas palavras ecoarem na minha cabeça.
Acho que é apenas imaginação, engraçado como 10 segundos parecem horas, os tanques estão chegando e os soldados estão com raiva, a morte me encara e a neve cai. Eu consegui fugir, não sou mais um experimento, minha alma esta livre pela neve.
Finalmente me levanto, me sinto ótimo. Sinto minha pele ficar aquecida, terno elegante eu estou trajando. A Coisa se aproxima de mim em um longo vestido azul marinho, era tão lindo e simples. A morte é bela.
Os soldados chegaram, eles atiraram até não sobrar mais munição, estão eles com medo da morte? Não.. estão com medo de mim, porque eu fugi, eu ganhei essa batalha quando a neve tocou minha pele.
A Coisa sorri para mim, por baixo de uma mascara preta posso ver seus olhos pelos buracos, eram os olhos do inferno. Eu podia ver o fogo neles, sorriu já sabendo meu lugar depois desse mundo. Estico meu braço para uma dança, a morte surpresa a aceita.
Consigo ouvir os tanque chegando, os soldados com raiva, eles querem sangue, consigo sentir a neve caindo e nos meus braços está a Coisa mais linda que já vi, a morte veio me receber por escapar do buraco. Eu fugi, isso não é maravilhoso? Eu morri, estou finalmente livre para dançar eternamente com a morte.
Ao longe posso ver, meu corpo congelado de joelhos nos observando, os soldados atiravam no corpo já sem vida, por sorte, não foram eles que tomaram minha vida desse mundo e sim a bela Coisa, a morte.
Das luzes vermelhas a total escuridão, eu danço pelo lago azul com a morte, sua mão vai ficando pequena e sua mascara vai caindo, na minha frente a Coisa esta tão pequena. Uma criança fofa, uma criança com o sorriso carinhoso e um olhar confiante, eu danço com uma criança para alem da neve, eu danço com minha filha que me foi tirada dos braços ainda com 5 anos, finalmente, eu posso dançar com ela.
No fim, foi a melhor dança da minha vida, obrigado.
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E se
Short StoryHistorias aleatórias de sentimentos tão conhecidos e desejados, liberdade, prisão, amor, medo, sonho, pesadelo... Morte e Vida.