Capítulo único

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Todos aqueles que partem da Terra tornam-se anjos no céu.

São lhes concebidas asas que caracterizam a sua vida na Terra e por isso todas elas são diferentes e maravilhosamente majestosas.

Este conto é sobre um anjo que dedicou toda a sua vida na Terra á música, e que por isso, foram-lhe concebidas duas asas com a forma de claves de sol.

No céu, quando um Homem se torna anjo é invadido por paz e transformado num ser rendido à liberdade esvoaçando pelos ares e velando por todos os seres vivos.

Ora o nosso anjo, numa bela tarde de Verão, voava sobre as nuvens cantando e tocando na sua harpa amada quando o Vento decidiu pregar-lhe uma partida. Com toda a pujança soprou uma nuvem em direção ao músico. Este foi surpreendido, e no meio de todo aquele nevoeiro branco com a consistência de um algodão doce, deu tantos trambolhões que acabou por deixar cair a sua maior preciosidade, a Harpa Dourada.

O anjo entrou em pânico, o que seria dele sem a sua harpa? Era impensável arranjar uma nova uma vez que aquela era feita de um aço dourado muito difícil de encontrar no céu, além daquilo que a harpa significava para ele. Por isso, mergulhou no ar em direcção á Terra com a intenção de a encontrar onde quer que tivesse de ir.

Calculou mais ou menos onde a harpa poderia ter caído mas nada ali brilhava tanto como ela. Começou a pensar que talvez tivesse calculado mal e que o instrumento pudesse ter caído no mar ou talvez algum animal, atraído pelo seu brilho, a tivesse levado e escondido na sua toca. Mesmo assim não desistiu de a procurar.

Estava a ficar desesperado, voando cabisbaixo por entre as árvores, quando os seus sensíveis ouvidos ouviram o canto de um pequeno rouxinol que voava ao seu lado. O anjo ficou encantado com a música, nunca tinha ouvido nada tão belo, mas manteve-se calado para não o afugentar e continuaram a voar apreciando a companhia um do outro. Passado algum tempo, de modo cantado, o passarinho perguntou-lhe o que tinha acontecido para que o anjo estivesse tão triste. Ele respondeu explicando o sucedido nessa manhã. O rouxinol Ruby, ficou com pena do músico e tentou animá-lo cantando músicas alegres e às quais o anjo começou a dançar desajeitadamente, mas cantando com melodia. Passaram horas e horas nesta cantoria que fez com que o anjo se esquecesse da sua harpa maravilha. Tinha agora um amigo que era ainda mais precioso.

Diz-se que ainda hoje é possível ver, em certos crepúsculos, duas criaturas brilhando no céu cantando músicas encantadoras. E até há quem diga que o brilho dos dois é incomparavelmente superior ao da harpa que os uniu.

A Harpa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora