"Não existe resposta certa, nem atitude certa… apenas escolhas e consequências".
Elenita Rodrigues
...
A praça estava vazia, o dia frio e seco. Os raios de sol eram só para iluminar as folhas das árvores. Não aquecia, não era capaz de conter o vento que bagunçava os cabelos vermelhos de Carol. Seu olhar para lugar algum, sentada naquele banco de praça, esperando o tempo passar. Calça jeans e moletom cinza largo, os pés sobre o banco, abraçada às pernas e com o queixo sobre os joelhos. Curitiba é uma cidade onde todas as coisas ficam no lugar, nada fora dele. Nenhum papel no chão, tudo sempre sob controle. Tão diferente de São Paulo, ela pensou. Em São Paulo nada fica no lugar, a cidade é um eterno movimento de pessoas de todos os tipos, raças, cores. Se você pisca o cenário muda. Sentada no banco, a praça vazia, numa manhã de segunda-feira, onde provavelmente as pessoas já estavam em seus trabalhos, ou estudando, Carol só queria ficar sozinha. Ela avistou algumas crianças brincando de bola do outro lado da rua. Dois garotos e uma garota de no máximo sete anos de idade. Eles riam enquanto corriam atrás da bola, na cabeça de Carol tudo em camera lenta. Estava com preguiça de voltar para casa, não tinha noção de quanto tempo esteve ali, mas pelo movimento das pessoas, notou que poderia ser perto do horário do almoço. A mãe de Carol estava em Curitiba com ela, seus pais e seus irmãos em Campo Mourão, todos de férias. Se esforçou para levantar-se e seguir as ruas em direção a sua casa. Passos contados e as vezes olhava para o céu o que a fazia franzir a testa e quase fechar os olhos por conta do sol. Olhava para o céu tentando achar respostas. Havia chegado de São Paulo há dois dias e estava evitando as redes sociais, evitando a vida, mal estava comendo. Saiu sem celular e por isso achou melhor voltar. Sua mãe já deveria estar a esperando para almoçar.
Abriu a portão de sua casa e sentiu o cheiro de alho e cebola, sua mãe estava adiantada com a comida."Oi, mãe!" - Carol
"Oi, Carol, onde esteve?" - Mãe
"Na praça perto do mercado". - Carol
"E o que foi fazer lá?" - Mãe
"Nada, não fiz nada, sentei lá e fiquei". - Carol
"A comida está quase pronta, fiz pouca coisa já que somos só eu e você." - Mãe
Carol sabia que o pouco de sua mãe alimentaria uma cidade inteira. E não tinha fome alguma, mas não poderia se desfazer do esforço de sua mãe. Cresceu com sua mãe cozinhando para ela e seus irmãos. Uma família bem tradicional do interior. Café da manhã, almoço e jantar nos horários. Quando ela, Carol, se mudou para Curitiba para estudar música, os dias da semana eram todas desreguladas, comia quando dava. Quando voltava para a casa de sua mãe em Campo Mourão, aos finais de semana, sua mãe sempre cozinhava para ela e então colocava os nutrientes de seu corpo em dia.
"Vou lavar as mãos e volto já para almoçarmos". - Carol
Depois do almoço elas deitaram juntas no sofá para assistirem um filme. As vezes elas faziam isso, quando era possível. Quando Carol era criança isso acontecia com mais frequência, mas com o passar dos anos, só as vezes mesmo. O filme contava a história de um casal que se transformavam em lobos. A mulher de dia e o homem à noite, eles nunca se encontravam. Foi um feitiço, do qual eles foram vítima. Eles eram apaixonados e nunca podiam ficar juntos.
"Que coisa mais triste esse filme." - Mãe
"Amores impossíveis sempre rendem boas histórias, mãe". - Carol
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P L A Y - Parte 1
FanfictionVocê pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir.