Capítulo XIII • Xícara de café

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Jonathan

A confusão e a dor aparecem em meu olhar, e sei que ela percebe, porque não existe mais nada entre nós, somos totalmente transparentes um para o outro. Tento falar algo, mas é como se não existisse nenhuma palavra no mundo.

A imagem da mulher que cuidou de mim naquela cama invadem meus pensamentos. A dor e o sofrimento em seu olhar fica gravado em meus pensamentos.

- Como você sabe disso? - Finalmente pergunto. - Foi o Lorenzo quem te contou? - A raiva se instala por todo o meu corpo, e tento entender por quê ele faria aquilo comigo.

- Quem é Lorenzo? - Dominika pergunta, confusa.

Encaro seus olhos novamente, sem saber o que fazer, sem saber o que falar. Apenas estático em sua frente.

- Como você sabe então? - Faço a mesma pergunta.

Dominika abre a passagem para que eu possa entrar em sua casa. Meu corpo se movimenta lentamente, mas é como se eu não fosse dono dele, minhas pernas se movimentam para dentro, mas eu só quero correr para longe e desaparecer para sempre. Sinto vergonha de ser quem eu sou, sinto vergonha de não ter ajudado aquela mulher, não consigo encarar Dominika, porque não quero saber como ela se sente em relação a tudo isso. Quando nossos corpos se cruzam, sinto um choque nos ligar, e gostaria de entender como podemos responder um ao outro mesmo envolvidos em toda essa situação.

Não quero sentar, não quero estar ali. Então fico parado ao lado do sofá, encarando o chão, mas é como se eu não estivesse ali, é como se eu voltasse naquele dia e revivesse aquele momento centenas de vezes.

- Sente-se, Jonathan. - Dominika diz, me tirando de meus pensamentos.

Sento, sem discutir. Meu corpo responde por mim, não consigo fazer nada. Pareço apenas um zombie vagando e vagando, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar.

- Eu sou filha dela. - Ela diz, de repente.

Inicialmente, achava que era alguma voz em minha mente, então percebo que quem havia falado aquilo era a própria Dominika. Meu corpo entra em estado de choque, e fico estático, apenas encarando a garota em minha frente. A culpa invade o meu corpo mais uma vez, e sinto vontade de pegar qualquer coisa em minha frente, e tirar minha própria vida.

- Como assim? - Sussurro.

- Eu sou filha da Madalena, Jonathan. A mulher que cuidou de você quando era pequeno.

Madalena. Então esse era o nome dela. Madalena. Era um nome bonito, era como música aos meu ouvidos. Finalmente havia descobrindo seu nome, e repetiria ele para sempre, como um mantra. Iria encontrá-la, e poderia dizer "Madalena, me perdoe por não ter feito nada". É então que eu percebo, Dominika era filha dela. E a mãe de Dominika havia se matado.

Não, não, não, não. Eu nunca conseguiria me desculpar, porque ela havia se matado. Eu queria chorar, queria gritar, queria espancar alguém, mas eu apenas continuava estático.

Coloco minhas mãos em meu rosto, e apoio meus cotovelos em minhas coxas. Sinto as lágrimas invadirem meus olhos e começo a chorar desesperadamente, sinto a dor me consumir. Sinto a culpa invadir cada veia do meu corpo, e atingir o meu coração. Quero pedir perdão por ter feito Madalena sofrer, mas nunca poderei fazer isso.

Aos poucos vou me acalmando, e encaro Dominika. Dominika e Madalena. Ela continua em minha frente, estática. Exatamente na mesma posição. Seus olhos encarando os meus.

- Ela se matou. - Eu digo, e sei que isso a machuca. - Ela se matou, e eu nunca vou poder me desculpar por não ter feito nada.

Ela sorri, melancolicamente.

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