33 - A redação

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O corredor em que estavam não representava a largura total do 2° andar. Na verdade, a divisória instalada no final servia para cortá-lo ao meio.

Do outro lado havia um segundo corredor, equipado com as mesmas janelas de correr, lâmpadas de led e porta lateral encontrados no corredor dos funcionários. Estendia-se até o elevador de clientes e tinha como aposento vizinho o estúdio de gravação, onde se encontravam as câmeras, equipamentos de iluminação e cenário do jornal comunitário da Landschaft.

Junto à divisória deste corredor, havia uma escrivaninha branca, que continha uma superfície de madeira MDF, duas cadeiras de cada lado, três gavetas, um notebook enrolável de OLED e um headset telefônico de tecnologia VoLTE. Era onde se faziam as vendas de publicidade, sendo portanto o ambiente de trabalho de Fernanda.

Seu Paulo se encontrava ali, sentado numa das cadeiras, de costas para o elevador de clientes. Estava emburrado e de braços cruzados, julgando-se alvo do que pensava ser um bullying de burguesia branca, e esperando pelos mimos consoladores da atlética promotora.

A divisória se estendia por toda a profundidade do andar, mantendo, de um lado, o elevador dos funcionários, a redação, a sala da gerência e o vestiário masculino, e do outro, o elevador dos clientes, a central de vendas, o estúdio de gravação, o vestiário feminino e o almoxarifado.

Muito embora o corredor dos funcionários e a central de vendas estivessem lado a lado, não havia uma porta que os conectassem. Para chegar lá, Carolina, Alice e Fernanda precisavam dar a volta pela redação e ganhar acesso pela porta do estúdio, percorrendo, desta forma, um trajeto em forma de U.

Fernanda abriu caminho para que Alice e Carolina passassem, achando a maior graça em ver a vlogueira sendo puxada pelo braço, feito uma criança atravessando a rua de mãos dadas com sua tia. Então, após as duas terem entrado, seguiu-as redação adentro, fechando a porta atrás de si. A porta se trancou sob o comando da trava eletrônica, selando outra vez o som daquele aposento, devolvendo o corredor ao seu vazio silencioso.

Carolina, vendo-se arrastada na frente de todos, percebeu que não seria liberta tão cedo. Constrangida com este excesso de zelo, pegou a mão da gerente e tentou soltá-la de seu braço, dizendo:

— Alice, eu sei onde fica a mesa da Fernanda. Além disso, você está amarrotando a manga da minha camisa.

— Oh, desculpa! Não vi o que estava fazendo.

Alice soltou-a de imediato. Então, estendendo seu tablet para Fernanda, disse:

— Pode segurá-lo, por favor?

Fernanda o pegou, sem dizer nada, enquanto Alice, agora com as mãos livres, começou a desamassar a manga de Carolina, puxando e alisando seu tecido. Quando se deu por satisfeita, também tentou mexer em sua gola, dizendo:

— Você fica bem de camisa aberta, mas acho que deveria trocar o vermelho por lilás. Combina mais com seus olhos. Já essa camiseta preta é bonita. Se eu fosse você, continuaria a usá-la assim, por dentro. Ajuda a destacar tanto os olhos quanto a camisa.

Fernanda se irritou, pensando estar sendo ignorada novamente. Mas antes que pudesse reclamar, Carolina tomou a dianteira, dizendo:

— Alice, de verdade? Depois conversamos sobre camisas, leléquis, Rede Lobo e tudo o que você quiser. Mas agora, eu realmente gostaria de resolver o problema com Seu Paulo, porque tenho outras coisas a fazer.

— Jura? Podemos conversar depois, na hora do almoço?

— ...

A intenção era cortar Alice, e não enchê-la de expectativas. Ela deveria ter se tocado sobre a situação com Seu Paulo, e não ficar marcando happy hour vespertinos. Pois, além de estar indisposta a posar de bonequinha para ela, Carolina também pretendia, na realidade, almoçar com Daniel. Tinha curiosidade em descobrir do que se tratava aquela reunião com o sindicato.

Sendo assim, respondeu:

— Já tenho compromisso. Fica pra outro dia, tá?!

— Combinado! Vou te adicionar no meu Bicadas. Assim poderemos conversar pelo chat durante o dia, até acertarmos um horário.

— ...

Foi a vez de Carolina puxar Fernanda pelo braço, falando como quem procura, em desespero, uma desculpa para se afastar.

— Vamos indo, antes que Seu Paulo vá embora.

Alice as acompanhou, meio magoada por Carolina tê-la deixado para trás. Também queria ser puxada por ela.

As três se encontravam numa sala fresca, limpa, iluminada pelo sol e cheirando à café expresso. Tendo como referência a porta por onde entraram, havia, à direita, três escrivaninhas brancas, que estavam próximas à divisória central. Eram feitas com chapa de madeira sintética, lisa e brilhante, e tinham pés metálicos pintados de preto.

Uma das escrivaninhas ficava próxima à porta do corredor. Ao lado dela, montada na divisória, havia uma prateleira suspensa, em cima da qual se depositava uma cafeteira automática. Esta tinha superfície de alumínio preto e botões redondos vermelhos.

As duas escrivaninhas restantes ficavam no outro extremo da sala, uma ao lado da outra, isoladas da terceira escrivaninha. No espaço entre elas e a cafeteira, havia uma porta preta, que fazia contraste com a divisória branca.

Já do lado esquerdo da sala, em vez de escrivaninhas separadas, havia uma mesa comprida estilo plataforma de trabalho, também feita com chapa de madeira branca. Oferecia espaço para seis funcionários, tendo três vagas de um lado e mais três do outro.

As vagas eram separadas com divisores laterais de vidro, enquanto o meio da mesa era atravessado por uma divisória de madeira bege. Era alta o bastante para destacar a separação igualitária do espaço, mas baixa o suficiente para não esconder o rosto dos colegas sentados à frente.

Cada vaga tinha uma coleção distinta de objetos. Notebooks enroláveis, canetas digitais para tablets, leitores de ebook flexíveis como papel cartolina, embalagens abertas de proteína açucarada de inseto e canecas estampadas com ídolos do cenário musical holográfico eram alguns dos itens mais presentes.

Atrás desta mesa, ficava a parede do prédio. Nela abriam-se três janelas, através das quais se viam os outros estabelecimentos comerciais do Parque Emam, rodeados por calçadas de paralelepípedos cinzas e ruas pavimentadas de painéis solares, cujos automóveis elétricos, silenciosos e compactos, trafegavam de uma esquina a outra.

Carolina, puxando Fernanda consigo, e tendo Alice em seu encalço, dirigia-se para a porta preta entre a cafeteira e as duas escrivaninhas. Era a que levava para o estúdio de gravação.

Mas antes de alcançar a maçaneta, ouviu alguém a chamando atrás de si. Tratava-se de uma voz masculina, dizendo em alto e bom som:

— Pessoal, deem as boas-vindas à princesinha dos Patriotas Bolsonários!

* * * *

Novo capítulo dia 16/07, as 22:00, horário de Brasília.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora