SEM MEDO DE RECOMEÇAR

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     A última bolacha no pacote. Foi o que restou. Depois de uma vida inteira de irmandade, uma benquerença inigualável.
     Recheada com deliciosas gotas de chocolate meio amargo. Era a nossa preferida. Agora, a preferência é, de exclusividade, minha. Desde o dia em que você, sorumbática e inexplicavelmente, se foi.
     Um buraco debaixo de meus pés, foi o que você deixou. Por vezes me pergunto: "como pode fazer isso comigo?!".
     Logo pela manhã, veio a notícia, num silêncio ensurdecedor, traduzido pelas lágrimas incontroláveis de nossa mãe, fui percebendo... é o fim.
     Na hora, a "ficha" não havia caído. Meu desejo era consolar os que choravam.
     baseada na incredulidade, vivi durante 365 dias da minha vida. Pensava, respirava, alimentava-me de "ela vai voltar". É apenas um sonho, ruim, porém, um sonho!
     Aquieta-te oh alma! Ela não pode estar morta!
     Em seguida o medo tomou conta do meu ser. Dizia comigo mesma: "sozinha, não sou capaz". Você cuidava de mim, defendia-me," tomava" as minhas dores. E agora, o que vou fazer sem você aqui?! Não se passava uma noite na qual eu não sonhasse com você novamente ao meu lado.
     Os anos foram esvaindo-se de minhas mãos. Por cada decisão precipitada que tomei sem você aqui para dar-me seus conselhos. Queria outro lugar onde pudesse esconder-me.
      Tive medo de caminhar com meus próprios pés. Peguei-me gritando, no mais profundo do meu ser:" porque não eu em seu lugar?"

     Tive a petulância de questionar Deus...     Hoje, dez anos depois, acordei, desculpei-me com Deus e voltei a viver! A vida não pode estagnar-se por conta de uma fatalidade. Contra a morte qualquer argumento se torna desprezível.
     Recomeçar, portanto, tornou-se o desejo mais ambicioso idealizado pelo meu ansioso coração. Capacidade de reconstruir, ou por outra, construir uma nova história, todos temos. O segredo é caminhar, mesmo que devagar, porém, nunca parar ou olhar para trás.
     Quanto ao chocolate meio amargo, sei que existem pessoas por aí, pessoas maravilhosas, que, no entanto, não irão te substituir, pois, a saudade habita em mim, entretanto, trarão alegrias imensuráveis ao meu viver.
     Encontrando-as, um dia, divido a bolacha que já não posso, mas, chamá-las de nossa...

CARTAS EM BRANCOOnde histórias criam vida. Descubra agora