Capítulo Único

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"A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível".

— Leonardo da Vinci

O trânsito é dissonante; aprendi essa palavra recentemente, produz uma dissonância: sons que causam uma impressão desagradável ao ouvido. Sendo sincera, dentro desse lamborghini huracán, minha cabeça se transforma em uma enorme bola de neve descendo uma ladeira abarrotada de lava, pode não fazer sentido, mas é exatamente deste modo que me sinto. Do lado de fora, as buzinas, os gritos, os xingamentos, os carros enguiçados, os motores fundidos parecem até agradáveis para a discussão sobre a porcaria de um iogurte de limão que deveria ter sido comprado em sabor morango.

Então, o trânsito na verdade não é dissonante, os meus pais são.

— ... meu único arrependimento é ter me casado com você! Acabei com a minha vida! — eu queria ter uma recordação diferente da mamãe, mas a única lembrança que me cerca é a sua viagem para uma conferência no meu aniversário de quatro anos. Eu sei por com motivo ainda continuam juntos, eu sou tipo um elo podre na nossa casa.

Eels consegue me confortar parcialmente com I Need Some Sleep; minhas listas de músicas sempre me deixam com a mente no lugar, sei o motivo dessa discussão, não é a porcaria de um iogurte do cacete, e sim como a minha vida pode entrar em ruínas devido a um professor idiota recém-formado, que acha que pode ferrar com o meu histórico impecável por causa de uma disciplina inútil. Grande merda, professor Kim Taehyung.

— ... eu quero que você dê um jeito nesse seu boletim, está entendendo? Ou sem festa! Sem nada! E não ouse me desacatar! — penso em bater à porta do carro, rudemente; mas, isso me causaria uma nova ladainha na frente do colégio, e eu realmente não preciso de mais consultas no cara idiota que pensa conseguir aconselhar alguém. Finjo que irei dar o meu melhor, como o todo sempre, e procuro Jung Hoseok, escorado em uma das grades encarando um ponto realmente fixo: Park Jimin.

Em algum momento distante, talvez uns dois anos atrás, ficaria um tanto desconfortável com a fissuração do meu melhor amigo no hyung, na época ainda confundia muito as coisas e achava o Jiminnie bem fútil. O que gerou uma briga que teve algumas consequências desastrosas, provocações, xingamentos e alguns dias de castigo por vandalismo. Já fiz muita merda na minha vida, mas é algo compreensível, não suporto quando as coisas fogem do meu controle.

Mas hoje não tenho muito tempo para debochar dessa paixão que está surgindo aos poucos no coração de ambos, devido às constantes olhadas nos corredores e as colaborações, ensaios e suor do Clube de Dança, coisa que sempre senti vontade de me inscrever, mas nunca fora permitido então apenas joguei o verdadeiro foda-se e desisti. Deixo uma das alças da mochila escapar, como um charme costumeiro, e passo por Jung Hoseok e seu sorriso de bom-dia feliz.

— Ei! Você não comece a me...

— Preciso dar um jeito na minha nota com aquele professor estúpido! — viro-me, quase tropeçando em meus próprios pés. Hyung começa a andar em minha direção, contudo, cessa seu recente caminhar apenas para revirar os olhos. — Não começa, Hoseok!

— Cuidado com o que você faz, Jeon... — agora sou eu que estou expressando meu descaso com sua fala — ô! Jiminnie, como vai? — as chances de Jung me perseguir agora são mínimas, sou um pouco educado com o meu hyung, acenando de leve com a cabeça e já correndo pelos corredores, pouco me importando com aquela regra idiota de ter calma nos arredores internos da escola.

Cada professor tem uma sala nesse lugar enorme, o que eu acho bem ridículo e uma falta de consideração com o valor exuberante que pagamos mensalmente. Entro na ala dedicada às pessoas chatas que nos ensinam coisas inúteis, já procurando a B12. Kim Taehyung está tomando água em sua garrafinha do Ursinho Pooh, rabiscando alguma coisa contra alguém em sua caderneta desorganizada. Queria mesmo me orgulhar de ter aulas com ele, mas a única coisa realmente interessante é o seu rosto razoavelmente bonito.

Chromatic FlashsWhere stories live. Discover now